4§ Um puzzle de oito horas

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Um pai com uma vida dupla e muito questionável... 

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- MÃE -

Desde que falara com o marido já tinha revirado a casa toda em busca de eventuais rastos da menina: fossem coisas fora do sítio, colchas e proteções do sofá amassados, algum bilhete... 

No entanto, os seus esforços tinham sido praticamente inglórios. Descobrira apenas que a menina tinha comido um dos iogurtes que deixara no frigorífico. 

Portanto, tudo indicava que a miúda tinha regressado a casa. Também lhe parecia bastante exequível que alguém mais tinha estado ali: uma pessoa que selecionara alguma roupa para a criança.

Tinha dado a volta à lista de contactos no telemóvel, em busca de alguém que a pudesse aproximar mais do paradeiro da menina. 

Sabia que ligar para pessoas em plena madrugada era uma falta de respeito. Mas bolas, era a sua filha que estava desaparecida!

A primeira pessoa a quem tinha incomodado, fora a educadora de infância da criança. O telemóvel chamara, porém sem qualquer sucesso. 

Valera-lhe a insistência em voltar a ligar até ouvir um "Estou" ensonado e algo rabugento. 

Tentou ser cuidadosa na forma como apresentava a situação, já que desconfiava que as visitas da assistente social poderiam ter tido alguma origem no jardim escola. 

Haviam dias em que era impossível disfarçar as manchas negras, arranhões ou feridas que a menina tinha.

— Saberia me dizer a que horas a minha filha saiu hoje do jardim escola e se alguém a foi buscar? — perguntara no seguimento das apresentações.

Após a inicial interjeição de surpresa "hã?", a resposta tardara alguns segundos. Talvez a educadora estivesse a reconstituir na sua cabeça a cronologia dos acontecimentos. 

Depois explicara que durante a tarde tinham feito atividades ao ar livre, como era costume uma vez por semana, sempre que o clima o permitia. 

Chamara o motorista da carrinha dez minutos antes das sete e tinham confirmado que todas as crianças que usavam o serviço estavam na viatura. 

Recordava-se que faltava um garoto, o qual os pais tinham ido buscar mais cedo por estar doente.

— Mas passasse alguma coisa com a menina? — interrogara, por fim, a educadora.

Era a questão incómoda que ela já antecipara. Teria que compor um pouco mais a história, para além do facto de que chegara mais tarde a casa naquele dia, ainda que por exigências do trabalho. 

Assim, inventou que era suposto os avós estarem na casa da menina, esperando o seu regresso, para a levaram a passar um fim de semana no campo.

— Já ligou para eles? — questionou a educadora.

— Não consigo estabelecer contacto com eles. Uma vez que eles foram para uma zona rural ainda distante. — prosseguiu ela, dando mais umas pinceladas naquela mentira. – Geralmente, quando isto ocorre, os meus pais costumam avisar-me ao saírem de casa com a menina.

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora