94§ O resgate duma antiga dança

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Após todas as revelações, a mãe pegou no carro e rumou em direção ao bairro, onde foi surpreendida por alguém do seu passado...

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– Mãe -

Não é capaz de desprender os olhos do "barman original", à medida que observa enternecida o rosto familiar dele. A idade definitivamente fez-lhe bem. 

Continua a aparentar mais jovem do que na realidade é, mas aquela matiz de cabelos grisalhos, que contrastam com o tom da pele, enaltecem ainda mais a beleza dum homem agora vivido.

Pode notar que ele tampouco perdeu a graciosidade em cada gesto da sua linguagem corporal.

– Não achas que já estás demasiado entradote para continuares a ser barman? – provoca-o ela.

Ele solta o sorriso tão dele. Como se ainda necessitasse de mais algum argumento para seduzir qualquer mulher, ele continua com aquele riso jovial e tímido de sempre.

– Modera os teus comentários. Agora sou dono e proprietário deste estabelecimento. Mais uma gracinha dessas e ponho-te na rua!

O jovem empregado traz o pedido feito pelo patrão e ela prova o seu White Russian

Tal como nos velhos tempos, em menos de nada, sente-se revitalizada com a conversa solta e animada que aquele homem sempre lhe proporciona. 

Nem parece que estiveram mais de três décadas sem contacto, uma vez que a empatia e a proximidade entre ambos restabelece-se automaticamente.

Ele conta-lhe como acabou por comprar aquele estabelecimento, dando-lhe conta de cada detalhe que reformou nas instalações. 

Ela dá-lhe alegremente o seu parecer profissional acerca da decoração do espaço. Fica a saber que o ex-barman mantém também o negócio de transporte privado de passageiros.

– Tenho uma frota de carros e uma equipa de motoristas para prestar o serviço. – explica-lhe. – Já não são táxis, uma vez que aderi a uma dessas plataformas móveis da moda!

– Ou seja, já não pegas no volante sequer!

– Tal como aqui no bar, continuo a garantir pessoalmente o serviço para clientes especiais.

Ri-se do comentário atrevido do homem, percebendo claramente a alusão que lhe é endereçada. Os assuntos vão-se desenrolando com a espontaneidade usual. 

Dá por si a falar de temas bastante delicados, como o que abalou a sua família naquele dia. Conversa sobre tudo isso, com uma naturalidade que surpreende-a a si própria.

As horas acabam por passar num ápice, sem que se dê conta. A dado momento, alguns clientes começam a dançar numa zona mais ampla para o efeito.

– O estabelecimento continua com o conceito de há uns anos?

O barman leva alguns segundos até entender ao que ela se refere.

– Ah! Não! – responde ele, sorrindo. – Trata-se apenas dum pub, pelo que as pessoas estão à vontade para dançar um pouco, com o copo na mão. Já sabes como é!

Ela bebe mais um pouco do seu segundo White Russian, enquanto admira atentamente cada movimento que ocorre na pista de dança. 

A conversa tem estado tão agradável, que mal tem tido silêncios que propiciem beber. Sente uma ponta de ciúme de alguns casais jovens que se agitam ao som da música. 

Assim pudesse ela voltar atrás no tempo e ter todas as escolhas à sua frente.

– Queres dançar? – arrisca por fim o barman.

Ela aceita o convite e dirigem-se os dois para a pista. Mal se consegue recordar da última vez que dançou, muito menos num bar. 

Após os primeiros movimentos enferrujados e atabalhoados, deixa-se soltar e relaxar. Fecha os olhos por instantes, deixando-se absorver pelo sons libertadores da música, e correspondendo aos mesmos com o seu corpo.

Um par de músicas depois, tocam um tema calmo, que traz-lhe a nostalgia do passado. Conhece aqueles acordes, mas interpretados por outro cantor e com uns arranjos musicais diferentes. 

Apesar das alterações desta nova versão, para se adaptar aos tempos modernos, a essência continua lá. 

Deixa-se levar pelo barman, sendo guiada pela musicalidade e harmonia do corpo dele. Assim vai bailando, ao ritmo dele, por um par de minutos. É tão fácil ser guiada por aquele homem.

– Os anos não te roubaram um milímetro do teu encanto. – sussurra-lhe o barman ao ouvido.

Vindo de qualquer outro homem, ela ter-se-ia rido à gargalhada do comentário. Ela tem noção da sua idade, das suas rugas e do efeito inevitável do tempo. 

Mas ao ouvir aquelas palavras da boca do barman, tudo toma outra proporção, muito além dum mero piropo.

Uns segundos depois e já os lábios de ambos estão a escassos milímetros de se colarem. 

Desta feita é ele que toma a iniciativa e, pela primeira vez, parece estar disposto a assumir tudo o que sente por ela. 

O perfume dele invade-lhe as narinas. É um perfume fresco e jovial como ele. É um aroma que incita à aventura, à descoberta do desconhecido, às novas oportunidades. 

Ele toca-lhe a face com carinho, preparando-se para a beijar. Ela sente-se trémula, como uma adolescente que é abordada intimamente por um rapaz, pela primeira vez. 

Talvez esse nervosismo se prenda com o facto de nunca ter estado com outro homem, desde que conheceu o marido.

No entanto, o barman segura-a com a dose certa de firmeza e de delicadeza, arrebatando-lhe um beijo. Os lábios dele têm um sabor refrescante, que a revigoram a cada toque. 

Deixa-se envolver naquela demonstração de amor, adiada por tanto tempo.

Naquele momento, não são duas pessoas maduras, mas simplesmente os jovens adultos do passado, dando uma chance a uma história que tinha sido interrompida bem no início. 

Desta vez, ela não vai fechar esse livro após ler a primeira página. Ao invés disso, emerge-lhe uma incessante curiosidade em explorar esta nova narrativa da sua vida, que lhe é oferecida pelo barman

Ele é o homem certo, o rapaz especial que veio resgatar ao passado, acreditando que este ainda tem muito para lhe contar.

Os corpos dos dois unem-se agora naquela dança. Ela pode escutar cada latido do coração dele, à medida que se estreita a comunhão entre um homem e uma mulher. 

Não sabe até onde a levará este relacionamento, não obstante prefere ignorar essas preocupações para já. 

Desta feita, irá viver uma paixão dia-a-dia, escusando-se a projetar grandes planos ou alimentar imensos sonhos.

Aprecia novamente a face do barman, ele retribui-lhe com o singular sorriso que a deixa despida. Beija-o sem pudores.

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A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora