42§ O copo da discórdia

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Cada um tem a sua forma de se proteger dos seus medos. Se o pai se refugiou no silêncio, a mãe parece ter outra forma de fugir dos seus medos...

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- MÃE -

Não queria acreditar que os seus companheiros de trabalho tinham ousado trazer à luz uma acusação tão frívola e maldosa. 

Nenhum deles fora capaz de oferecer-lhe qualquer ajuda palpável, para além de algumas palavras de conforto, cuja sinceridade ela questionava agora.

Muitas das colegas de trabalho talvez se considerassem melhores mães que ela. 

Talvez pensassem que eram o modelo perfeito de maternidade e que ela devia fixar-se nelas, seguindo os seus exemplos e mendigando-lhes por conselhos. 

Afinal, muitas delas tinham mais filhos, geriam toda a vida doméstica e ainda organizavam festas de aniversário para as crianças. 

O que elas se escusavam a relatar era todo o apoio que recebiam dos maridos, pais, sogros e até vizinhos.


– Então recorda-se do que bebeu naquela noite? – perguntou o inspetor, pressionando-a para lhe responder. – Um copo? Dois? Uma garrafa?

Bebera alguma sangria à refeição, mas nada de transcendente. Ou seja, não fora definitivamente a borrachona da noite. 

O tempo arrefecera subitamente e acreditava que a climatização do restaurante estava exageradamente quente. 

Teria sido uma tentativa da gerência do local para os fazer sentir mais confortáveis, ou um ato deliberado para consumirem mais bebidas? Não podia ter a certeza! 

Recordava-se que após a sangria do jantar, tomara um digestivo e talvez um par de copos de vinho tinto. 

O evento terminara, pelo menos de forma oficial, com um brinde à empresa, temperado por uma bebida espirituosa que uniu todos os empregados.

– Bebi como a maior parte dos meus colegas. – respondeu vagamente ao inspetor. – Mas nada que afetasse as minhas faculdades mentais.

Efetivamente lembrava-se de tudo o que tinha feito. Como é normal, ficara um pouco mais eufórica e leve, soltara com facilidade um par de piadas que tinha granjeado o sorriso de todos à sua volta. 

Mas com o avançar da noite, o cansaço tinha se abatido e, quando se levantou para ir embora, sentiu o mundo a querer escorregar-lhe por debaixo dos pés.

Lembrava-se de ter caminhado sozinha pela cidade até à estação. Talvez tivesse demorado um pouco mais do que o habitual, concentrando-se para não dar nenhum passo em falso. 

Mas tinha sido a indisposição que consumira-lhe mais tempo. Ultimamente não tolerava bem a bebida e naquela noite não tinha sido exceção. 

Tinha se sentido bastante mais aliviada após ter feito as pazes com o seu estômago. 

Finalmente, escolhera uma carruagem mais vazia e abrira a janela para que a brisa fria lhe revitalizasse os sentidos.


A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora