84§ Um mar de cedências

113 19 19
                                    

----------

< Capítulo anterior: 83§ Engolir o orgulho

A mãe viu-se confrontada com uma decisão difícil: a sua família ou o seu orgulho...

----------



- MÃE -

Naquele final de tarde, quando reentrara na casa dos pais, percebeu que se iniciava uma nova fase da sua vida. 

À medida que explicara ao pai as tribulações pelas quais tinha atravessado, durante os últimos tempos, ficara angustiada perante a postura indiferente que este assumia face a tudo o que ela tinha sofrido. 

Era como se estivesse a abordar uma rocha, a qual permanecia impassível aos constantes assédios das marés.

No entanto, ali encontrava-se ela, esvaziando-se das suas convicções e abdicando do seu orgulho. 

Se por um lado recriminava-se por estar a anular-se perante o pai, por outro, acreditava que estava a demonstrar madureza, ao tornar-se uma mulher mais consciente, que já não vivia somente em função de si. 

Afinal, comparecera ali com o objetivo de lutar pelo futuro do seu bem mais precioso, a sua própria família. Tudo se decidia com aquela conversa!

Com o rumo que o monólogo estava a levar, temera ter-se despido da sua dignidade para nada. 

Ainda por cima, alguns instantes depois, a mãe juntara-se à conversa na sala. "Agora, o quadro para a minha humilhação está completo." – dera por si a pensar. 

Contudo, mal podia ter adivinhado que, na sua mãe, encontraria a aliada mais inesperada para aquela hora decisiva.

– Esgotei todas as tentativas de reaproximação contigo. – sublinhara o pai. – Da última vez, deixaste-nos aqui plantados à tua espera! Aquela reunião familiar que desprezaste, visava apenas ajudar-te. Não tolero semelhantes atitudes! Estendi-te a mão e tu voltaste a agir como uma garota obstinada!

Naquele momento, apercebera-se de que por debaixo da couraça de insensibilidade, o seu pai estava profundamente magoado com as atitudes dela. Do seu jeito retorcido, ele tentara auxiliá-la.

Valera-lhe, finalmente, a intervenção da mãe! Ela possuía um talento peculiar: o de traduzir qualquer situação familiar em linguagem de negócios. 

Assim, esta munira-se dos melhores argumentos para convencer o marido de que o melhor para a imagem da família era aceitarem a filha de volta.

– Temos de estancar este escândalo o mais rápido possível. – referira a mãe, no seu tom coloquial caseiro, ao qual o pai costumava dar ouvidos. – Já basta de alimentar tabloides com este assunto. Querido, o arrastar deste tema vai sempre desgastar a nossa empresa e a tua imagem perante os teus sócios.

Abatera-se um lento e doloroso impasse naquela conversa. Durante algum tempo, ela tornara-se uma mera espetadora no debate que os pais encetavam acerca do seu futuro. 

Sim, era a sua vida que estava sob um escrutínio detalhado e ela nem sequer era consultada para nada. 

Não obstante a sua natural irritação perante aquela circunstância, esforçara-se por conter a sua cólera.

– Muito bem! – suspirara por fim o pai, dando-se por vencido com as explicações da esposa. – Estou disposto a aceitar o teu regresso a esta casa! Contudo, existem várias condições, as quais considero inegociáveis!

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora