A Filha Roubada - Completo - ✔

Epílogo

----------

< Capítulo anterior: 97§ Aquele comboio

A filha visitou a mãe em busca de recuperar a relação de ambas e redescobrir o seu passado...

----------

O capítulo que se segue é opcional!

– Filha –

"Faltam vinte minutos para conhecermos as primeiras projeções que ditarão o próximo governante do país..." – anuncia a pivot de informação do principal canal televisivo estatal, no plasma diante de mim.

Olho o relógio de pulso e ele marca precisamente oito menos vinte, na noite de todas as decisões. 

O meu marido pressiona-me gentilmente a mão, numa demonstração de que está ali comigo.

Na sala privada, montada para o efeito, estão aqueles que me são mais próximos. 

A um canto está a minha mãe com o seu namorado. Segredam entre si algo, numa cumplicidade normal de início de relação. Tão íntimos, tão perfeitos! 

Volta e meia ela acena-me sorridente. Noutras alturas, fita com estranheza e desconfiança a minha nana, sentada no outro lado da sala, a entreter o meu filho.

Sinto remorsos do inferno em que converti a vida daquela senhora anciã, que sempre tão bem cuidou de mim. 

Desde o malogrado discurso que ela não tem tido sossego. Se houveram pessoas que entenderam as suas atitudes, outras não hesitam em julga-la onde quer que vá. 

Ela tem sofrido muito com todo esse assédio condenatório na rua ou até mesmo à porta de casa. 

Dado a sua idade avançada não a deveria ter arrastado para este circo. Temo que ela ainda sucumba a outra depressão.

Os meus tios também fizeram questão em comparecer nesta ocasião, ainda que não merecorde de ter insistido na presença deles.     

Sob o pretexto de trazerem os meus avós, já debilitados pela idade, acabaram por se instalar ali. 

Custa-me entender a vassalagem que toda a família se empenha em prestar ao meu tio, apesar deste se ter apoderado do controlo da empresa. Vejo-o ao telefone, certamente a tratar de alguma negociata sua. 

Obviamente que esta reaproximação visa os seus próprios interesses. Quer aproveitar-se duma possível vitória minha nas eleições. 

Neste momento, já deverá ter feito contas a toda a rede de influências que poderá beneficiá-lo e à qual só terá acesso através de mim. Lamento, mas está muito enganado! 

Pergunto-me quando ele se convencerá de que não sou igual ao resto da família. Quando recuperei parte daquilo que era da minha mãe, por direito, pensei que tivesse ficado claro que não estava aqui para entrar em jogos de favores.

Connosco, dispersos pela sala, estão mais uns dez elementos da minha comitiva. Vigiam o que é revelado em cada um dos meios de comunicação social mais preponderantes. 

Uns preferem circular de um lado para o outro com os seus auscultadores, ao passo que outros seguem a emissão de diferentes canais televisivos, em ecrãs mais pequenos. 

Nada é deixado ao acaso! Tudo é escrutinado por esta equipa maravilhosa que me tem acompanhado.

– Vais vencer querida. Tenho essa intuição! – assegura-me o meu esposo, beijando-me a face em seguida.