27§ O dia mais negro

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O Wattpad por vezes tem comportamentos estranhos. Assim, antes de continuar, certifique-se sempre de que leu o capítulo anterior.

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Munida de documentação irrefutável, a mãe revelou ao inspetor o que na realidade se passava com a menina... Nem tudo o que parece é...

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- MULHER -

Por mais que abraçasse a criança e soubesse que agora ela estava segura, não conseguia abrandar a corrida desenfreada em que o seu coração entrara, após ver a menina naquele varandim. 

Ela tinha resgatado a criança do perigo num ápice, mas continuava sem entender o que se passava. Jamais poderia aguentar aquela dor de novo. 

Aquele acontecimento fizera-a reviver o episódio que marcara a sua vida para sempre. 

O breve minuto que destruíra o mundo feliz, reconstruído a muito custo, após ter sido abandonada pelo seu primeiro grande amor. 

Os fatídicos segundos em que uma distração dela, custara a vida do seu amado filho!

O menino tinha quatro anos quando tudo aconteceu. Ele era a luz dos seus olhos. 

Um garoto com uma cara angelical, talvez ligeiramente travesso, como a maior parte das crianças. 

Mas era um miúdo sensível, capaz de se aperceber de quando ela precisava de um abraço genuíno e sincero, daqueles que só uma criança sabe dar.

Embora fosse um pai atencioso e dedicado, o marido passava longas horas no seu trabalho de polícia. 

Sempre que tinha uma oportunidade, não abdicava de contar histórias ao menino de como tinha conseguido, naquele dia, salvar o mundo dos maus. 

As mesmas crónicas que a deliciavam, tinham ainda um maior encanto aos olhos de uma criança, para a qual o pai era um herói. 

Aqueles dois homens tinham sido uma dádiva divina para ela, que não tinha como pagar.

No entanto, naquele final de tarde solarengo de verão, tudo mudou. 

Saíra com o menino para dar um passeio pela cidade. Algo tão trivial e banal que já fizera inúmeras vezes. 

Geralmente iam ao supermercado comprar algumas mercearias que estivessem a faltar em casa. 

Aproveitava para entrar num par de lojas de roupa de criança, espreitando os saldos e assim atualizar o guarda-fato do menino, que crescia de dia para dia. 

Quase sempre terminavam por parar nalguma esplanada para descansarem um pouco.

Por norma, optava por fazer poucas compras! Não queria maçar demasiado a criança, nem ter vegetais e verduras demasiado tempo em casa. 

Assim preferia comprar em menores quantidades, mas garantir que tudo estivesse fresco no momento de confecionar as refeições. 

Talvez esse fosse o segredo que granjeava rasgados elogios do marido aos seus dotes na cozinha.

Naquela tarde, tinha pedido o seu café italiano, do jeito que apreciava, e um gelado para o menino. 

O calor abrasador justificava que aligeirasse um pouco a dieta disciplinada que impunha à criança. 

Considerava-se uma mãe moderada, que sabia educar o filho nas diversas áreas, sem grandes fanatismos, mas com o devido rigor também. 

Ela tinha-se deliciado a observar o prazer com que a criança comera o seu gelado de limão. 

Afinal qual era a maior realização de uma mãe senão essa: a de ver o filho feliz e saudável!

Lembrava-se perfeitamente de ter desfolhado uma revista, que estava ali na esplanada, com as fofoquices dos famosos, enquanto o filho brincava com um carrinho que lhe comprara naquele dia. 

Não tardou muito para que outra criança, da mesa ao lado, se juntasse a ele. Os dois brincavam, cada um com o seu carrinho, numa daquelas competições habituais de miúdos.

Contudo o tempo passava e nenhum empregado aparecia para lhe cobrar a conta. Ainda esperou uma boa meia hora até se decidir a ir ao balcão para pagar. 

Não queria se atrasar e comprometer as tarefas domésticas que ainda tinha por fazer. 

Confiou que os pais da mesa ao lado estariam de olho em ambas as crianças e esse foi o seu maior erro.

Quando estava a introduzir o código do seu cartão bancário, para liquidar a conta, ouviu a travagem brusca dum carro e os gritos desesperados vindos da esplanada. 

Cada poro da sua pele arrepiou-se, pressagiando a tragédia que acabara de acontecer.

Correu desesperadamente para fora do estabelecimento, ansiando sempre que não tivesse sido nada de grave, e muito menos que envolvesse o seu menino. 

No entanto, já deveria saber que a vida não tinha piedade dela! Sim, era o seu único filho, a criança que jazia naquela passadeira de peões, no meio da estrada. 

Foi ao encontro dele o mais rápido que pôde e tomou-o nos braços dela, com toda a devoção de mãe que sempre tivera. Mas infelizmente isso não era o suficiente. 

O mundo naquele instante ficou resumido a ela, à criança sem vida nos seus braços e ao barulho dos pneus do carro que o atropelara a pôr-se em fuga.

Nunca soube ao certo o que impeliu o seu menino a atravessar aquela passadeira inusitadamente. 

Também jamais obteve resposta para o facto daquele carro o ter atropelado, embora testemunhas oculares garantissem que o semáforo estava verde para os peões. 

A polícia foi incapaz de identificar o suspeito a partir dos poucos detalhes que recolheram. 

Ela nunca se perdoou por aquele único e singular descuido que teve. O seu casamento não resistiu e o marido optou por mudar de cidade, entregando-a ao esquecimento.

Ela não podia tolerar que a mesma história se repetisse com esta menina. A vida não lhe roubaria aquela segunda oportunidade de ser feliz. 

Afinal fora a negligência dos pais daquela criança que a tinham impelido a todo um rol de ações questionáveis. Ela sabia ser melhor mãe do que eles, estava segura disso. 

Mas algo não batia certo ali. O que podia motivar uma menina daquela idade a querer se atirar da varanda de um prédio?

Só os pais da criança tinham as respostas para todas aquelas questões. Mas também eles eram certamente os únicos responsáveis pelos traumas que aquela menina tinha. 


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Próximo capítulo: Quinta-feira

(?) O que estão a achar do passado desta mulher?

Comentem e votem no capítulo! 

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora