40§ Esperanças renovadas

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O Wattpad por vezes tem comportamentos estranhos. Assim, antes de continuar, certifique-se sempre de que leu o capítulo anterior.

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O pai contou tudo o que verdadeiramente se passou com ele, nas horas que antecederam o desaparecimento da filha...

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- MÃE -

Um misto de emoções invadiu-a ao observar o marido encaminhar-se para si, livre. O coração dela latia descompassado e sentia o peito comprimir-se. 

Não obstante, o seu lado racional teimava em a recordar de todos os segredos e omissões que o marido guardava. 

Ele não tinha legitimidade para agir sem o seu conhecimento em temas tão delicados como: a relação com os pais dela, o casamento de ambos e, claro, a filha.

Sentiu o marido abraçá-la e ela ficou estática, indecisa acerca do que fazer. 

Era inexplicável como cada milímetro do seu corpo respondia ao toque do homem que virara o seu mundo do avesso desde que o conhecera. 

Ele aliviou o abraço e encostou a sua cara à dela, testa com testa e nariz com nariz. A brisa de cada respiração do marido fazia-a desejar por mais. 

Queria-o desesperadamente, mas sem mistérios e factos ocultos. Agarrou-o e beijou-o com um sabor agridoce, um tempero de paixão e de raiva. Ele era a sua fraqueza, o seu vício e ela odiava admitir isso.

– Vou encontrar a nossa menina, podes estar certa disso! – prometeu-lhe ele, assim que os lábios de ambos se afastaram.


Também o barman incrementara as esperanças dela em descobrirem o paradeiro da filha. A conversa entre ambos tinha sido agradável e fluído naturalmente. 

Quando este se apercebera que o pequeno almoço dela fora simplesmente um café, insistira para que parassem numa pastelaria e ela se alimentasse corretamente.

– Calha bem porque eu também não comi nada antes de sair de casa. – dissera o barman, ao entrar com ela no estabelecimento. – Os bolos aqui são ótimos, não há um que não goste! Talvez por isso não venha a este sítio com tanta frequência, senão já teria uns bons quilos a mais.

A ideia de ir àquela pastelaria não a agradava sobejamente, ou não tivesse ele escolhido precisamente a mesma pastelaria que recusara aceitar mais a sua menina ali. 

Era um local bem decorado, a uns quinze minutos a pé do bairro, distante o suficiente para se notar um nítido contraste no perfil dos clientes. 

Por norma havia sempre pequenos grupos de mulheres na faixa etária dos sessenta para cima, que ficavam ali nas suas intermináveis tertúlias acerca da vida alheia. 

Mulheres mais jovens, como ela, também eram clientes assíduas, mas num sistema de visitas mais rápidas. 

Geralmente pediam algo para levar ou comiam rapidamente ao balcão. Aproveitavam aqueles minutos para dar, entre uma dentada e outra, uma rápida vista de olhos numa revista ou ler na diagonal as novidades do facebook no telemóvel.

Felizmente o dono da pastelaria não estava. Temia a reação que poderia ter se visse à frente esse indivíduo. 

Afinal, ele podia ser a génese de toda a cascada de acontecimentos que conduzira ao sequestro, desaparecimento ou roubo da menina. 

"Efeito borboleta", assim ouvira alguns nerds apelidar essa corrente de acontecimentos que são despoletados por algo simples e terminam numa tragédia.

Acerca desse gerente da pastelaria, sabia o que as más línguas já espalhavam por meses a fio. 

Os boatos diziam que a esposa dele tinha-o deixado, ressentindo-se a qualidade da pastelaria a partir aí. 

Não que a esposa trabalhasse naquele local, já que esta optara por cuidar mais da gestão financeira da pastelaria. Segundo consta, dedicava-se a visitar fornecedores e renegociar contratos. 

Contudo, o adultério dela deixara o homem desmoralizado e este abandalhara-se na confeção dos bolos e atendimento da pastelaria. Até que ponto tudo isto era verdade, ela não sabia, e agora tampouco lhe importava.

– Acho que não devias voltar àquele bar. – referiu o barman, em tom de conselho. – Desculpa se estou a ser invasivo, mas trabalho lá e não me parece que se adeque a uma pessoa como tu.

– Por que dizes isso? – questionou ela com simpatia, querendo alimentar a conversa. – Achas que por ser uma mulher casada, não posso beber um copo?

A observação do rapaz, aliás homem, não lhe caíra mal. Pelo contrário, até se sentira lisonjeada com a preocupação dele. 

No entanto, decidira provoca-lo com aquelas questões. Talvez um teste aos preconceitos dele e uma tentativa de conhecê-lo melhor.

– Nada disso! – sorriu ligeiramente, sem jeito. – O que se passa é que, embora seja um bar normal em que nunca vi nada de estranho, muitas das pessoas que passam por lá, levam segundas intenções. Nestes meios quando alguém entra, mesmo que só para beber um copo, os aí presentes apressam-se a concluir que vêm à procura de algo mais.

– O quê concretamente? – espicaçou ela mais uma vez o barman, mas perante a face corada dele, retratou-se com uma gargalhada. – Estava a brincar! Percebi perfeitamente! Efetivamente não estava a par da fama do bar. Ontem só queria mesmo parar num sítio qualquer e beber algo forte para relaxar.

Os casos mais insólitos, pelos quais o barman tinha passado no seu local de trabalho, foram o tema que acompanhou o restante do pequeno almoço. 

Teve oportunidade de escutar de tudo um pouco: desde brigas entre bêbedos aos seus desfechos mais inusitados, passando pelos típicos clientes "cromo", bem como as aventuras dele para impedir cenas de pancadaria. 

O homem, com cara de garotão, tinha uma habilidade nata para a envolver nas suas histórias e fazê-la esquecer, por alguns instantes, o pesadelo em que estava mergulhada. 

Aquela lufada de ar fresco, das crónicas despretensiosas dele, revitalizavam-na e davam-lhe ânimo para mais um dia que tinha pela frente.

Finalmente, quando tinham chegado ao parque de estacionamento do bar, onde o seu carro ficara, ele tocara no tema da criança.

– Tenho estado a falar com todos os taxistas. Embora ainda não tenha encontrado o indivíduo que me descreveste, estou confiante de que é uma questão de tempo! – afirmou com a segurança e a positividade com que o marido dela costumava se pronunciar. – Não há um taxista naquela praça que eu não conheça, por isso podes estar certa de que o vou encontrar e trazê-lo para falar contigo.

Ficou-lhe imensamente agradecida por toda amabilidade com que ele a tratara. Trocaram números de telefone, para o caso de surgirem novidades e ele enviou cumprimentos para o ex-colega.

***

Olhou o marido, olhos nos olhos e acariciou a face dele, antes de desferir mais um golpe que poria à prova a sua sinceridade.

– Conheci um colega de trabalho teu! – disse-lhe ela. – Ele mandou-te cumprimentos! Contou-me que até te ajudou com as mudanças de casa para o duplex!

Viu as cortinas de fumo baixarem de novo no olhar do marido, seguidas apenas pela interjeição "Ãh?!".


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Quer o marido, quer o barman estão prontos para se empenhar em encontrar a menina. Será desta?

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Aquele abraço!

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora