5§ A mulher que não era bairrista, mas recebeu o bilhete dourado

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A mãe questionou vários conhecidos acerca do paradeiro da menina. Desde a educadora de infância aos vizinhos, as reações com que se deparou foram as mais variadas. Contudo, uma primeira pista acerca da menina veio de onde ela menos esperava...

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- MÃE -

O motorista conduzia com algum nervosismo. Ela podia notar o desconforto dele com a situação. 

Era impossível não reparar na mão trémula do homem quando este tinha de se socorrer do manipulo das mudanças do táxi. 

Ela sentara-se ao lado do condutor e agora começava a surgir-lhe um turbilhão de questões, para as quais aquele motorista podia ter as respostas. 

Cabia-lhe a ela obter a maior quantidade de informação possível acerca dessa mulher que levara a filha. 

Ela era do bairro? Como teria sido a viagem? Que teriam conversado? E a menina? Estava assustada? Chorava?

— Nunca vi a senhora — começou por explicar o homem. — Vinha com a menina pela mão, quando chegou à praça de táxis, onde você me encontrou. Trazia uma mala de viagem na mão e a menina tinha uma mochila. Coloquei ambas na bagageira.

— Mas como estava a minha filha? Estava agitada? — indagou a mãe, impaciente. — Como não se apercebeu de que era um sequestro?

— Não houve qualquer sinal de resistência por parte da menina. — prosseguiu o taxista com um tom de voz baixo e calmo, característico de quem prestava um serviço. — Ela estava ensonada e foi praticamente toda a viagem a dormir, encostada ao braço da senhora. Das vezes que olhei pelo espelho retrovisor, tudo o que me pareceu ver foi uma mãe que ia viajar com a sua menina. Uma mulher prevenida que apanhara um táxi com a devida antecedência para chegar atempadamente à estação de comboios.

Teria drogado a sua filha? Como podia a menina estar assim tão calma? 

A mesma menina que teimava em se isolar na escola, tinha-se entregue às mãos de uma estranha, sem qualquer hesitação. Não podia conceber tal ideia na cabeça.

— Do que falaram durante a viagem? — questionou a mãe.

— De nada! Absolutamente nada! — afirmou o condutor. — Tenho por norma não tomar a iniciativa de fazer conversa com os clientes. Há muitas pessoas que não apreciam isso... A senhora limitou-se a dizer-me o destino à entrada e fazer o pagamento à saída.

Continuava sem saber grande coisa da identidade da sequestradora da menina.  

Após pedir ao motorista que a descrevesse, traçou o desenho mental de uma mulher de uns trinta e tantos, estatura normal, cabelo alourado. 

Acrescentou também que a mulher apresentava um semblante carregado e agastado. Estava arranjada, mas sem grandes maquilhagens.

— Pela sua roupa e comportamento, não é de toda uma mulher bairrista. — dissera o motorista, quando já avistavam a estação ao fundo da rua. — Não digo que não viva no bairro, mas não me parece que tenha sido criada nele.

Logo que pôde, saiu do táxi sem se importar com o troco. Já estava um par de minutos atrasada em relação à hora prevista do comboio. 

O condutor do táxi ainda esboçou um tímido "Boa sorte!", ao qual optou por não responder. Não podia desperdiçar mais qualquer segundo.


O comboio já estava parado no cais, o qual estava cheio de gente. 

Era o terceiro dia consecutivo da greve parcial nos transportes ferroviários, lembrava-se agora a mãe, voltando a contactar com a realidade. 

Isso fora mais uma razão para justificar o quão tarde chegara a casa naquela noite. 

Basicamente, os maquinistas asseguravam os primeiros dois horários do dia, recusando-se a circular durante as horas de ponta. 

O mesmo cenário ocorria ao final do dia, em que somente os horários tardios eram realizados. 

Assim, todas as pessoas que quisessem ir trabalhar ou ir para o centro da cidade, amontoavam-se no cais na esperança de conseguir o "bilhete dourado". 

Esta era a expressão que usara mais cedo para ilustrar aos colegas de trabalho, de forma sucinta, todo o aparato.

Embora fosse Sábado, o cenário era pouco melhor que nos dias anteriores. Mais uma adversidade com que tinha de lidar se queria encontrar a sua menina. 

De repente, as portas do comboio fecharam, sem que ela tivesse logrado aproximar-se de uma qualquer entrada. 

Tentou furar a multidão com o intuito de avistar a mulher e a filha. A "menina de casaco vermelho", assim se referira o taxista à filha, a dado momento da conversa entre ambos. 

O processo de fecho definitivo de portas ainda tardou mais uns segundos, dada a persistência de algumas pessoas em se atravessarem nelas.  

Ela procurava ganhar terreno entre o emaranhado de gente, olhando ao redor numa busca incessante pela sua cria. 

Quando o extenso comboio começou a movimentar-se, ela conseguira aproximar-se, mas só tivera tempo para observar as janelas das últimas carruagens. 

Num derradeiro e fugaz vislumbre de uma das janelas da composição, pareceu-lhe ter visto uma menina. 

No entanto, foi prontamente engolida pelos passageiros frustrados que a atropelavam de um lado para o outro. 

O comboio partira e pressentia que levara nele a sua filha, a menina que avistara colada a uma das janelas.

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora