97§ Aquele comboio

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!!!ATENÇÃO!!!

Este capítulo foi publicado em conjunto com o anterior! Certifique-se de que leu o penúltimo capítulo!!!

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No reencontro entre pai e filha foram expostos os ressentimentos e mágoas acumulados ao longo de anos. Houve ainda tempo para uma terceira pessoa se juntar surpreendentemente a esta reunião...

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*** ÚLTIMO CAPÍTULO ***

– Filha -

Está imóvel em frente à porta do apartamento onde foi criada enquanto criança. 

Nunca regressou ao bairro que determinou tudo o que ela é hoje. Poder-se-á dizer que não tinha curiosidade ou que, simplesmente, não é dada a nostalgias. Respira fundo e toca à campainha.

Pode ouvir alguém se aproximar para abrir-lhe a porta. Surge-lhe um homem, provavelmente o atual companheiro da sua mãe.

– Bom dia! – cumprimenta-o, um pouco sem jeito. – Eu sou...

– Entra! – convida o homem, sem deixá-la terminar. – Fica à vontade, vou chamar a tua mãe.

Claro que ele a conhece, afinal ela é uma candidata à presidência do país. Toda a nação sabe quem ela é, ou pelo menos assim acham. 

Nem que seja dos prospetos e cartazes que estão espalhados por tudo o que é sítio, qualquer cidadão já esbarrou com a sua face em algum momento.

Enquanto o homem sobe as escadas do duplex, ela fixa a sua atenção em cada mobília que decora o espaço. 

Tudo parece-lhe tão estranhamente familiar. Apesar das décadas que passaram, desde a última vez que habitou naquele apartamento, sente-se em casa.

Dum modo irracional, sente a necessidade de tocar cada um dos objetos expostos. A cada canto que explora, avivam-se-lhe memórias que ela desconhecia. 

Invade-lhe uma sensação confusa de tortura e prazer, à medida que deambula pela sala e pela cozinha, como que resgatando um pouco de si mesma.

– Bom, vou trabalhar e deixar-vos falar tranquilamente!

É sobressaltada pela voz do companheiro da sua mãe, que reaparece subitamente nas suas costas.

– Foi um prazer conhecer-te! Espero que apareças mais vezes.

Tal como na receção, o homem despede-se afavelmente, mas sem grandes aproximações. Talvez esteja apreensivo, do mesmo modo que ela, acerca de como hão de se tratar.

Após o homem sair, olha para a mãe, que a observa parada. Durante a viagem até ali, foi constantemente escoltada pelo nervoso miudinho de como a progenitora a iria receber. 

Talvez devesse ter ligado antes, a avisá-la de que iria aparecer. Prosseguia insegura acerca do estado atual da relação delas.

– Não vais dar um beijo sequer à tua mãe? – questiona-lhe, abrindo os braços e deixando transparecer um sorriso.

Abraça a mãe afetuosamente. Jamais equacionara o quanto desejaria ter de novo o carinho da progenitora.

– Tive receio que... – tenta-lhe explicar no meio do abraço.

– Receio do quê, minha boba? Que estivesse chateada contigo? – retorque empaticamente a mãe, enquanto a encara com o seu modo maternal. – Confesso que nos primeiros dias não foi fácil!

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora