19§ À margem da ética

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O Wattpad por vezes tem comportamentos estranhos. Assim, antes de continuar, certifique-se sempre de que leu o capítulo anterior.

< Capítulo anterior: 18§ A primeira brecha no castelo das mentiras

Durante a recolha de informações da polícia, o pai vê-se obrigado a admitir que passou a noite num hotel, para surpresa da esposa... Ambos são fortemente aconselhados pelo inspetor a se apresentarem na delegacia com a maior brevidade...

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- ASSISTENTE SOCIAL -

Mais do que a chamada do inspetor, a urgência com que este insistira em que ela se encontrara com ele na delegacia tinham-na deixado surpresa. 

Teria se excedido nas declarações à comunicação social? Não acreditava que ele já as tivesse visto! 

Será que ele tinha detetado alguma das muitas irregularidades que ela cometera na abertura do processo em relação à menina? 

Ela tinha se certificado de atar as pontas soltas o melhor que sabia, dada a sua experiência como assistente social. 

No entanto, era consciente da perspicácia do inspetor, com o qual já se cruzara diversas vezes em outros casos.


Recebera a chamada dele já no seu local de trabalho. Regressara ao escritório ainda a sentir-se meio nauseada, depois de ter visto aquela cena no quarto da menina. 

Não era dela, ficar perturbada com este tipo de coisas, mas desta vez fora diferente. Talvez por que já conhecia a menina e já interagira com ela várias vezes. 

Tinha conseguido alguma proximidade com a criança nas semanas que a levara a visitar a "tia" ao hospital. Era inegável o carinho que florescera entre a criança e a mulher. 

Ela simplesmente procurara facilitar o encontro das duas e assim atenuar o sofrimento da mulher no hospital.

Mal tivera tempo para pousar a mala na sua secretária, quando o chefe a chamara de imediato ao gabinete. Continuava impaciente tal e qual da forma como o encontrara mais cedo naquela manhã.

– Como correram as coisas? – questionou-a com um nervoso miudinho na voz. – Achas que podemos ter problemas por não termos agido com maior determinação no caso?

– Tudo aponta para que a criança sofresse abusos por parte dos pais...

– Bolas! – interrompeu-a de forma intempestiva o chefe. – Como abres um caso destes e depois o deixas em banho-maria durante semanas?

– O atentado que ocorreu no bairro veio baralhar a situação. – tentou justificar-se, sabendo de antemão que a abertura do processo já nascera torta desde o início. Tivera que adicionar alguma criatividade às evidências recolhidas, para encobrir as ilegalidades que cometera previamente. – Toda a gente estava com os nervos à flor da pele e a menina estava naquele parque. Não achei que fosse a altura indicada para abordar a família!

– Já pensaste em toda a publicidade negativa de que vamos ser alvo se a policia alegar que temos uma quota parte da culpa nisto?

Agora o chefe tinha chegado ao ponto fulcral da situação. Não era somente ela quem cometia ilegalidades. 


Anos antes, ela deixara o seu emprego na agência de adoção por discordar do modelo com que operavam. 

A Filha Roubada - Completo - ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora