18 de Junho de 2022
Manuella°
Sabe aquela frase clichê que a gente já tá acostumado a ouvir, que já se tornou tão superficial, é, a famosa enfermagem por amor.
Sim, foi por amor e continua sendo diariamente a melhor escolha da minha vida, mas a caminhada de quem vive por trás dos bastidores é extremamente cansativa, fisicamente e emocionalmente falando.
Viver de plantões, pulando de hospital em hospital, cobrindo ausências, enfrentando o ritmo frenético da emergência, lidar com o luto de pacientes que por mais difícil que seja, acabamos criando vínculos. Encarar a realidade do SUS, saber que nem sempre os seus esforços serão capaz de salvar uma vida, respirar fundo, engolir o choro, e atender o próximo com um sorriso no rosto na tentativa muitas vezes falhas de transmitir conforto, mesmo diante do caos que ocorre dentro de nós mesmo. É segurar a mão, dar o ouvido a quem precisa, sentar e dividir um pouco do seu dia com aqueles que de você espera sempre o melhor, independente do que esteja acontecendo ao seu redor, é se doar ao máximo a alguém que talvez der o último suspiro, bem diante dos seus olhos. Dos mesmos olhos que se depara com a dádiva do nascer que trás consigo o grito preso na garganta, exalando e pondo pra fora, o melhor presente que alguém pode ter, a vida.
Inspiro forte saindo da UTI de onde acabamos de perder mais um, me fazendo sentir o peso de estar a quase dois dias dentro de um hospital na tentativa de conseguir algumas folgas a mais. Tiro a touca da cabeça caminhando na direção do Jardim em busca de ar puro, meus olhos estão cansados e junto com eles toda a minha coluna dói implorando pela minha cama.
Me sento em um dos bancos afastado e tiro o celular do bolso vendo algumas mensagens do Filipe de mais cedo avisando que iria embarcar pra Brasília, depois de se apresentar no CENA. Já faz quase uma semana desde a última vez que nos vimos, a correria das nossas vidas acaba tornando os desencontros maiores, e por mais que o nosso contato tenha se tornado mais frequente desde a nossa última noite juntos, tenho me dado conta por esses dias do quanto a presença física dele tem se tornado o meu ponto de paz preferido, o que de certa forma tem me causado um certo receio de tudo o que possa acontecer.
Relacionamentos amorosos nunca foram a área mais bem sucedida na minha vida, os traumas me tornaram uma mulher totalmente segura de mim, porém, com um abismo imenso quando o assunto é me entregar ao ponto de confiar de olhos fechados em outra pessoa. Ainda mais quando se trata dele, um dos caras mais cobiçados, que esboça segurança e determinação quando o assunto é mulher, principalmente, a ex.
É, as cicatrizes tem vozes, e as minhas, gritam constantemente na minha cabeça me impedindo de mergulhar no que deveria ser natural, e acaba se tornando assustador, tornando-me tóxica a mim mesma.
Extremamente sufocante e confusa, é, eu sei.
Faltam exatamente meia hora para o aniversário do homem mais mandão e ranzinza que eu já conheci em toda minha vida, e por mais que ele tenha tentado esconder de mim, ele não contava nenhum pouco com a minha parte fã de carteirinha.
O que me levou a organizar uma surpresinha pra quando ele voltar, mesmo sabendo que o clima segue estranho entre nós dois, já que o mesmo insiste em saber a minha confirmação ou não sobre a festa de lançamento da nada mal.
Abro nossa conversa vendo o mesmo online, respiro fundo mordendo o lábio inferior começando a digitar.
Manuella: Tá cansado? — Mando enquanto mordo a unha vendo ele digitar.
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Contramão
FanfictionEu te proponho o que há de bom, aquela melhor onda Hoje eu quero te ver, então me diz onde você tá ...