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Inspiro fundo sentindo meu coração disparado.

— Chega ae, Tico. — Engulo seco me afastando recebendo o olhar de reprovação dele. — Entra no Camarim, Manuella.

Nego de imediato.

Sua testa enrugada, a feição de puro ódio.

— Entra ... — Rebate entre dentes indicando com a cabeça. — Ou a gente vai resolver esse bagulho aqui mermo e eu tô pouco me fudendo pra quem vai ouvir.

— Qual foi? — Escuto a voz do outro e me limito a virar as costas e entrar no espaço reservado com o nome dele.

Não demora e os dois passam pela porta, mas é a voz do Filipe que sobressai chamando atenção do restante da equipe.

— Ae turma, preciso de cinco minutos aqui, tem como vocês darem um espaço. — Seu timbre de voz é de pura impaciência.

Jogando a toalha em cima da mesa enquanto pega uma garrafa de água observo o restante do pessoal sair, a Steff me olhando questionando com o olhar só nego com a cabeça e escuto a porta sendo fechada.

Do outro lado o Tico tá em pé de braços cruzados olhando cada movimento do Filipe.

Inspiro fundo decidindo me sentar, minhas pernas já não estavam tão firmes como antes.

Escuto o barulho do isqueiro o que me chama atenção novamente a ele.

Parado de costas pra nós dois, ele leva o baseado entre os dedos até a boca onde faz questão de dar uma tragada longa. Puxa como se a intenção fosse que a sensação que a erva lhe propõe invada seus pulmões os preenchendo totalmente.

Prende, negando com a cabeça.

Sei que os pensamentos estão longes, enquanto luta contra seu próprio instinto.

Solta, como se pudesse expulsar de dentro de si as sensações distintas que o invadem.

— Vou perguntar só uma vez, e eu não to com saco pra papinho de desculpas. Quero a porra do jogo limpo, na cara dura. — Engulo seco quando ele se vira passando o olhar de mim para o amigo.

Com o baseado preso entre os dedos ele passa o dedão no lábio inferior, umedecendo logo em seguida com a língua.

— Que papo, irmão? — Arqueio a sobrancelha olhando bem pra cara dele.

Cortando o contato visual o Filipe prende o olhar em algo que não é ele.

— Papo de tu tá tratando a minha mulher mal, e eu tô doido pra saber o fundamento dessa parada, tá ligado? — Vira a cabeça estreitando os olhos. — Eu já saquei que essa porra vem rolando desde aquele dia na delegacia, onde tu nem fez questão de incluir no meio do que tava rolando.

— Ae irmão, a responsabilidade de apresentar a tua família não era minha, não e tu tá ligado. — Fala rindo tentando desconversar.

— Joguei porra de responsabilidade pros teus peitos, não. O papo é que, tu sabendo que ela tava comigo o mínimo que tu tinha que fazer era tratar bem diante da situação fodida como aquela.

— Qual foi, ret. A gente é irmão, nunca que eu ia fazer algo esquentar a cabeça com você, cara. — Começo a balançar a perna respirando fundo.

O Filipe apenas confirma com a cabeça e cruza os braços na altura do peito.

— Tô ligado, tô ligado. — Passa a língua entre os dentes. — Então me fala ae, Manuella. — Chama minha atenção me fazendo gelar. — Qual foi do proceder lá no palco? E outra, se rolou essa é porque rolou outras vezes, ou eu to ficando maluco?

ContramãoOnde histórias criam vida. Descubra agora