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Eu não estava com cabeça para conversar, eu não queria ter que falar mais nada com ninguém a única coisa que meu corpo e a minha mente pedia era cama.

A noite tinha acabado pra mim desde o momento que sai daquele camarim.

— Tu já tá indo? — Escuto o Matheus falar enquanto me olha desconfiado. — Qual, foi? O que tá pegando?

Nego com a cabeça sem querer prolongar o assunto, me viro encontrando ele e a Steff me observando, até me dar conta que tinha gente demais onde estávamos, o que de certa forma estava começando a me sufocar.

— Vou voltar pro hotel, não tô me sentindo muito bem. — Me limito a dizer cortando o contato visual.

— Quer que eu avise ao Filipe? — A Steff rebate no mesmo instante me fazendo gelar.

Nego de imediato.

— Não, ele tem outras coisas a fazer. — Engulo seco tentando ao máximo disfarçar. Mas a essa altura do campeonato já estava mais do que óbvio que todo mundo tinha percebido o clima bosta que estava no ar.

— E tu vai sair sozinha por onde tu nem conhece, Manuella? — Confirmo com a cabeça em resposta ao meu irmão, já me adiantando e tirando o celular da bolsa abrindo o aplicativo do uber.

— Nasci sozinha, Matheus. — Quando penso em me virar ele toma o aparelho das minhas mãos. — Ficou maluco?

— Vem com neurose pra cima de mim, não. — Arqueio a sobrancelha pelo seu tom de voz. — Fica sucegada no teu canto ae que já, já a van vai sair.

— E desde quando eu preciso de permissão sua, ou de quem quer que seja pra fazer o que eu bem quero? — Estico a mão fazendo ele me fuzilar com os olhos. — Me dá a merda do celular, porque você me conhece o suficiente pra saber do que eu sou capaz.

— Gente, vamos com calma. — A Steff até tenta mas eu já tinha perdido o bom senso a muito tempo atrás.

— Me dá essa merda, Matheus. — Retruco indo pra cima dele que estica a porcaria do celular me fuzilando.

— Então já é, faz as tuas merdas e depois não vem chorar pelo desenrolo do bagulho. — Puxo o aparelho com tudo e saio sem nem olhar para trás, sentindo os olhos lacrimejarem.

Respiro fundo tentando ao máximo não chorar.

Acabo passando despercebida pela multidão de fãs na espera por foto e não sei como, mas consigo chegar em uma rua do lado do espaço onde estava acontecendo o evento.

Dentro do uber vejo quando o nome do Filipe surge em chamada, recuso e apenas desligo o aparelho jogando dentro da bolsa sem me importar com mais nada.

Em toda a minha vida eu venho tentando ao máximo não trazer o peso das atitudes dos outros pra mim. Entretanto, tudo é lindo na teoria, na prática, é lutar contra todos os seus sentidos.

É impossível não sentir a dor a cada segundo que você tenta silenciar o que tá te consumindo por dentro.

A sensação é de que algo te perfura lentamente, invadindo as camadas de gelo que você tenta reconstruir em volta do seu próprio coração.

Fingir não sentir é como se envenenar lentamente.

Enquanto do lado de fora tudo parece silenciar, do lado de dentro resta os sussurros da sua dor.

A primeira coisa que faço ao chegar no hotel é ignorar a realidade, tiro meus saltos faço um coque no cabelo e saio do carro depois de pagar a corrida.

O dia está prestes a amanhecer e a última coisa que eu penso em fazer é seguir na direção do quarto.

Passo pela recepção e pego o elevador até a piscina, no último andar..

ContramãoOnde histórias criam vida. Descubra agora