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Manuella°

Acho que em toda minha vida eu nunca me sentir tão estranha quanto agora, em saber que estamos novamente pisando em solo brasileiro e que porra, como é que eu vou conseguir esconder uma gravidez?

Por favor, alguém consegue uma consultoria com a Kylie Jenner.

Inspiro fundo quando o calor do Rio vem de encontro a minha pele assim que adentramos o estacionamento depois de nos despedir do resto da equipe.

— Jogo rápido, a gente deixa o Théo com a Anna, passa em casa larga as coisas, bate um rango e vai direto pra consulta. — Fecho os olhos encostando a cabeça no banco enquanto escuto a ansiedade em seu tom de voz

Cadê o Filipe rabugento que eu conheci?

Desde que ele soube da gravidez, nunca mais parou de falar, o que chega até ser engraçado essa nova personalidade que foi criada repentinamente.

Me limito a confirmar sentindo a boca encher de saliva e a ânsia de vomito surgir como já tem sido de costume.

Ele para e eu percebo que está me analisando.

— Tá enjoada? — Sussurra me fazendo rir fraco. — Porra meu amor, a gente tem que ver esse bagulho ae com tua médica.

Sua mão vem de encontro a pele da minha perna, onde faz carinho com os dedos.

Abro os olhos virando a cabeça e encontrando os seus olhos, mais acesos que o normal, preocupado e atento a tudo.

— É normal... — Suspiro. — Vai passar. — Sorrio fraco mais uma vez em uma tentativa de conforta-lo.

— Bebi um pouco de água, vai ajudar. — Ele estica o braço pegando a garrafa de água no compartimento da porta, abre a tampinha e estica a mão.

— Vai vomitar, tia? — A voz do Théo invade o nosso meio o que me faz olha-lo pelo retrovisor antes de virar o pescoço por cima do ombro e encontrar seus olhinhos voltados a mim.

— Se ela beber a água que o papai tá dando, não filho. — O mandão resmunga enquanto eu pisco um dos olhos pra ele que sorrir. — Agora para de enrolar e toma a água, Manuella.

Faço careta ainda olhando para o Théo que dá risada.

— E aqui estamos de volta, com a versão velho gagá. — Retruco voltando a me sentar de forma correta e pegando a garrafinha de sua mão. — Para de querer me controlar, ein.

Aponto o dedo pra ele que me ignora passando o cinto e metendo o pé no acelerador pegando o caminho do nosso trajeto.

Quando paramos no condomínio da Anna, o Filipe me olha.

— Não precisa descer, tá quente pra caralho e tu vai passar mal. — Faço bico confirmando com a cabeça quando ele estaciona e já abre a porta indo tirar o Théo da cadeirinha.

Me viro vendo meu pequeno ficando em pé e vindo até mim de imediato após o Filipe soltar o cinto dele.

— Hora de encontrar sua mamãe, meu amor. — Digo sentindo ele passar os braços por meu pescoço. — Prometo que depois vamos fazer sessão de cinema comendo muita batatinha frita e sanduíche, tá bom?

Ele se afasta só um pouquinho com o intuito de me olhar nos olhos.

— O papai disse que se você comer besteira, vai vomitar tia. — Arqueio a sobrancelha sabendo que o Filipe tá nos observando.

— Não vou... — Sussurro. — A gente faz escondido e deixa ele comendo os mato da salada dele sozinho.

Ele dá risada e antes de se afastar de vez me beija no rosto e volta a falar.

— Não vomita mais e nem precisa chorar, tá bom? — Faço bico antes de cair na risada o observando sair do carro e já ir correndo na direção dos elevadores onde posso ver a Anna parada.

— Já volto! — Escuto o Filipe dizer fechando a porta em seguida e ir caminhando até lá.

É quando estranhamente algo surge na minha mente.

Será que o Théo vai contar do bebê?

Se ele contar, como vai ser a reação dela?

Cruzo as pernas mordendo a ponta da unha observando os três, ela parada segurando as coisas do Théozinho enquanto o Filipe se despede dele.

Meu celular vibra e é mensagem da minha sogra, perguntando se vamos jantar por lá, como havíamos combinado antes de voltarmos.

Optamos por contar logo para nossas famílias, até para que de certa forma tenhamos uma rede de apoio no meio desse turbilhão de sensações, informações e sentimentos.

Fora que eu não confio muito no cabeça de vento do meu irmão para se manter de bico fechado.

Confirmo a mensagem com ela, e já mando uma no grupo que estou com minha mãe o Matheus, confirmando o jantar com todos juntos.

Se esse jantar não sair hoje, o Filipe infarta, com toda a certeza.

Volto a realidade quando escuto a porta abrir e ele voltar a se sentar do meu lado fechando a porta e já pisando no acelerador.

Assim que chegamos na casa dele, corro direto para o banho na intenção de tirar a sensação de estar pegajosa do corpo, quando volto para a sala de jantar o encontro pondo a mesa pra dois.

— Pedi comida, e seu suco de acerola. — Sorrio o abraçando por trás. — Vou tomar um banho rapidão.

Seus olhos me analisam por cima do ombro assim que ele para de mexer nas coisas.

— Qual foi? — Questiona com a sobrancelha arqueada e um sorrisinho de canto.

— Obrigada, por cuidar tão bem da gente. — Respondo calmamente, vendo seu sorriso ganhar proporção sobre seu rosto. — Mesmo você sendo absurdamente hipocondríaco, na grande parte do tempo.

Revirando os olhos se vira ficando frente a frente comigo.

— Já deveria ter se acostumado com isso. — Dou risada negando com a cabeça sentindo seus dedos invadirem meu cabelo pela parte da nuca me obrigando a fechar os olhos com seu toque.

— Com seu jeito mandão, controlador e obcecado? — Rebato fazendo careta enquanto nego com a cabeça de um lado para o outro. — Seu erro foi ter se apaixonado por alguém que quebra todas as suas regras.

Sua risada ecoa de forma rouca na curva do meu pescoço onde ele morde fraco.

— O foda é que eu sou viciado na porra do chá que ela dá, sacou? — Umedeço os lábios passando as mãos por seus braços. — Mas ela eu sei como domar, facinho.

Fecho os olhos sentindo sua mão descer parando na minha bunda.

— Uma chupada e uma dedada ela fica molinha. — Gargalho dando um tapa no seu peito fazendo ele se afastar sorrindo.

Quando penso em abrir a boca e rebate-lo meu celular que está em cima do sofá toca em alto e bom som me fazendo esticar o pescoço vendo o número da clínica no ecrã.

— Deve ser pra confirmar a consulta, resolve ae que eu vou adiantar as paradas. — Olho para ele pela última vez que some do meu campo de visão quando entra no corredor dos quartos, me estico pegando o celular e atendendo a ligação.

Menos de uma hora estaremos ouvindo o coraçãozinho desse serzinho que mal chegou e já roubou toda a cena entre nós.

Sei que esse dia vai ficar marcado para o resto de nossas vidas. 



OBS: E lá vamos nós para mais uma fase na vida do nosso casal!

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