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Já pronta, saio do quarto vendo os meninos que estão gravando o documentário do novo álbum do Filipe na nossa direção. Juro que só aceitei por saber que um dia essas imagens vão ser uma das minhas maiores lembranças.

O cheiro forte do perfume dele chega até mim quando finalmente o vejo sair do quarto logo atrás, se aproximando e envolvendo minha cintura.

— Tá suave? — Sinto sua respiração na curva do meu pescoço me levando a virar o rosto e encontrar seus olhos puxados me observando como uma chama ardente, pelo tom esverdeado que reflete sobre os raios de sol do fim da tarde que adentram o corredor.

— Seja lá o que for que me espera lá fora, prometo não surtar. — Falo sorrindo fraco. — Hoje é um dos melhores dias de toda nossa vida.

Ele confirma com a cabeça e me rouba um selinho.

— Hoje a gente tá escrevendo a estrofe do melhor som que eu já consegui criar. — Sorrio suspirando dando os primeiros passos até a parte externa onde a decoração em tons pasteis toma conta de todo ambiente.

Confesso que sou surpreendida quando vejo toda a turma reunida dentro do nosso mundo paralelo, sinto minha mão começar a soar o que imediatamente faz com que o Filipe aperte ainda mais seus dedos sobre os meus.

O sentimento que parece crescer dentro de mim é tudo diferente do que eu já sentir durante toda a minha vida.

É como se algo nos envolvesse, de tal forma que preenchesse cada buraquinho que um dia foi aberto no meu peito pelos dilemas da vida.

É real, bem mais real do que eu pudesse imaginar.

— A mulher tá reluzente, enquanto o pai da criança tá cansado pela idade; — O Matheus fala me fazendo gargalhar quando o Filipe está prestes a responder mas engole em seco quando o Théo aparece na nossa direção.

— Tia, a gente já pode descobrir se eu vou ganhar um irmão ou uma irmã? — Ele fala assim que está no colo do pai.

Me aproximo e beijo sua bochecha sentindo seu braço apertar meu pescoço em um abraço desengonçado.

— Prometo que a gente vai já vai descobrir, tá bom? — Pisco para ele que sorrir e olha para o pai que nos observa quieto. — Mas o papai falou que é a Maya.

Encaro o Filipe que sorrir abertamente enquanto se abaixa e põe o pequeno no chão.

— Você tá criando expectativas nele que podem ser frustradas, você sabe disso, né? — Arqueio a sobrancelha.

— Confia, morena. — Responde com ar de graça me fazendo revirar os olhos.

Caminhamos até o pessoal cumprimentando nossos amigos, até que seu Ricardo me chama para um abraço.

— Não esquenta com eles, são tudo cabeça de vento. — Se refere a conversa besta dos meninos o que me faz sorrir. — Como você tá?

Me afasto um pouco conseguindo olhar bem para o seu rosto quando dona Vanda se aproxima com minha mãe.

— Hoje eu to um pouco menos enjoada, mas tenho certeza que o doce não vai ser uma boa opção. — Balanço a cabeça evitando o máximo evitar o amargo que surge em minha boca.

— Mas é assim mesmo, Manu. — Minha sogra responde passando a mão nas minhas costas. — Aliás, trouxe limão pra você beber com água gelada. Ajuda e muito, você vai ver. — Sorrio fraco agradecida.

Olho para minha mãe que tá tirando fotos aleatórias minha.

— Juro que a senhora e o Filipe estão competindo. — Passo a mão na barriga.

— Não posso mais tirar foto da minha filha? — Questiona tirando o óculos do rosto e guardando o celular. — Já tá tudo certo, nada de balões com cor, nem caixa de presente, e tudo que eu gosto. — Faz drama me fazendo rir.

— Mãe, isso aqui tá quase um baile se comparando a ideia de um bolinho, que foi o combinado, lembra? — Pisco os olhos ouvindo ela bufar.

— Não esquece que vamos fazer a festa de um ano. — Minha sogra responde animada, e por mais que eu estivesse em um momento de exaustão mental graças a esses primeiros meses de tanto enjoo e cansaço, não corto a animação delas.

O Filipe se aproxima e eu nem preciso dizer nada para que ele entenda e fale o que eu tanto esperei.

— Bora logo cortar esse bolo que não é ano novo pra ficar esperando a hora passar. — Dou risada quando ele sai me empurrando até a mesa ouvindo nossas mães reclamarem.

— Elas vão estragar essa criança, você sabe, né? — Dando de ombros ele me encara e sorrir.

— A gente faz uns três ae fica um pra cada. — Sorrio dando um tapa de leve em seu braço, e no minuto seguinte o escuto chamar atenção de todo mundo com um assovio, chamo o Théozinho com a mão até que ele esteja no nosso meio. — Ae turma, hoje eu nem consigo mensurar a ansiedade que tá aqui dentro. — Sua voz embarga o que me leva automaticamente a olha-lo.

É Filipe, hoje tudo faz sentido.

Travo a garganta envolvendo seu braço, prestando atenção em cada fala sua.

— Deus sempre foi bom comigo, mas hoje, eu consigo desfrutar do melhor que ele separou pra mim, tá ligado? — Seu sorriso cresce a cada palavra dita,o que me faz suspirar. — Logo eu, todo errado, cabeça dura para um caralho, não merecia nada disso... — Balança a cabeça de um lado para o outro olhando para cima me permitindo ver claramente as lágrimas envolvendo seu rosto. — E porra, ele me deu o melhor. Uma rocha em que eu posso me apoiar, uma base que me tornou o homem que sou hoje, graças aos meus pais, ao meu irmão que segurou todas as barras do meu lado. Uma tropa que me ajudou a quebrar barreiras, um filho que me ensinou a ver o lado bom da vida, e agora... — Sorrio quando seu olhar encontra o meu. — Agora eu tenho onde ficar, e pra quem ficar.

Confirmo com a cabeça falando entre os lábios que o amo.

— Esse aqui não é o ret, o ret construiu uma carreira, percorreu milhas de estradas, fez acontecer e provou pra si mesmo que a persistência trás resultado. Mas aqui, é o Filipe, sem luxuria, sem a fama, longe de toda cena; E porra, essa é a melhor parte de mim.

Fico na ponta dos pés selando nossos lábios enquanto os meninos gritam e assoviam o que me faz rir.

Me viro sabendo que todos estão esperando que eu fale algo.

— Não vou falar nada se não vou desidratar então bora logo corta esse bolo antes que eu venha parir essa criança de ansiedade. — Mexo as mãos nervosa quando dona Vanda se aproxima e me entrega duas taças.

— Filipe, não é pra estragar o bolo. — Murmura ao filho que sorrir fraco passado a mão pela boca, tão nervoso quanto eu.

Me posiciono do lado dele colocando as taças uma do lado da outra, o que me faz rir e querer fazer xixi ao mesmo tempo.

— No três; — Alguém grita mas eu sou incapaz de me virar;

A contagem começa e antes do três o Filipe empurra nossas mãos de proposito já puxando a taça com tudo, e junto com ela os fogos ao nosso redor surgem junto com a fumaça trazendo cor não só ao nosso redor, mas ao nuance de tons que colorem o céu;

Como se tivesse sido combinado, e talvez tenha sido mesmo, por alguém que sempre soube o que estava por vim, separando o melhor para nossas vidas.

A Maya!

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⏰ Última atualização: Aug 15 ⏰

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