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15 dias depois°

Manuella°

Sinto a claridade bater no meu rosto o que me faz revirar na cama tentando ao máximo prolongar o sono que ainda habita em mim, o que é quase impossível com o som alto que ecoa do lado de fora.

Inspiro uma, duas, três vezes antes me dar por vencida e levantar de uma vez já sabendo bem do que se trata, ou melhor, quem é o responsável por isso.

Saio da cama indo em direção a janela do quarto tendo total visão da piscina, onde consigo ver algumas cabeças pelo local.

Sigo direto para o banheiro caindo de uma vez no chuveiro, aproveito o momento pra lavar os cabelos e tirar o resto da maquiagem que ainda está no rosto, já que ontem mal lembrava meu nome.

De banho tomado, abro minha bolsa pegando uma calcinha limpa, e um vestidinho de alça, solto o cabelo da toalha quando escuto a porta do quarto sendo aberta e logo em seguida batidas na do banheiro.

— Tá aberta. — Respondo vendo logo a fechadura sendo puxada.

— Acordou, minha preta? — Olho pro espelho vendo seu corpo surgir logo atrás de mim, observando o mesmo sem camisa esboçando um sorrisinho de lado enquanto segura um copo de suco na mão.

— Com esse som, quem consegue dormir, Flávio? — Nego ouvindo sua risada que se aproxima colocando o copo em cima da bancada.

— Teu suquinho ae que a coroa mandou, e nem vem meter caô que tu bebeu os caralhos todo ontem e nem comeu direito. — Reviro os olhos passando o pente entre os fios sabendo que estou sendo observada.

Tem sido assim, desde que esse maluco entrou na minha vida através da Steff, em um momento onde eu se quer tinha pra onde ir.

Hoje eu posso dizer que conhecer o Flávio foi um encontro, literalmente. Quem diria que esbarrar com ele naquele camarim, e logo depois em um dos momentos mais difíceis na minha vida, me faria imaginar que hoje estaríamos aqui, onde ele simplesmente conseguiu achar um espaço no meio da minha bagunça e tem tentado diariamente me fazer não desistir, o que tem sido quase impossível, já que uma tarefa simples como levantar da cama e enfrentar mais um dia se tornou uma tortura.

Ele me estendeu a mão quando se quer eu conseguia abrir a boca pra falar o que estava sentindo.

Foi quando eu não quis mais atrapalhar a Steff com a rotina de trabalho dela que querendo ou não me mantém ligada ao Filipe, ele passou a ser minha companhia na grande parte do tempo, mesmo eu querendo me esconder do mundo e de tudo que me cerca, ele sempre faz questão de me lembrar o meu verdadeiro eu.

No auge da minha frustração pude entender que alguns finais são necessários para dar espaços a novos começos.

Desde o dia que sai da casa do Filipe, todos os nossos laços foram cortados por escolha minha, mudei de número, parei de segui-lo nas redes sociais, e tudo que pudesse me fazer lembrar do que éramos. Se foi uma decisão madura a ser tomada? Não sou capaz de responder essa pergunta com tanta precisão. Entretanto, prefiro acreditar que quanto menos cutucar a ferida, talvez ela cicatrize mais rápido.

— Vem cá, você não tem música pra gravar, show pra fazer, viver sua vida de artista, não? — Solto o pente olhando pra cara dele que cruza os braços indicando o suco com o queixo, ignorando totalmente minha pergunta.

— Toma o bagulho, primeiro. — Respiro fundo pegando o copo de uma vez sabendo que ele só vai me deixar em paz depois que me ver tomando a porcaria do suco.

Mesmo contrariada tomo tudo, assim que termino estico o copo pra ele que abre um sorriso se aproximando e passando a mão na minha boca suja.

— Parece até inofensiva com esse bigodinho, ae. — Dou um tapa na mão dele que solta uma gargalhada pegando o copo da minha mão. — Bora descer que só falta tu.

ContramãoOnde histórias criam vida. Descubra agora