Manuella°
Durante todo o jantar percebi o Filipe inquieto, o que de certa forma me fez começar a enxergar coisas a quais antes não eram tão perspectiveis a mim. Como por exemplo as mãos que não conseguem ficar quietas por muito tempo, demonstrando sinais de ansiedade e provavelmente o desejo de fumar, ou a tensão muscular sobre seus ombros e costas, o incomodando ao ponto de faze-lo se alongar disfarçadamente pela terceira vez desde que chegamos. Depois de comermos optei por pedir mais um pouco de vinho branco, o garçom se aproxima com a garrafa enchendo minha taça.
O restaurante não está tão cheio como imaginei que estaria, e eu agradeço por isso.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Dou um longo gole sentindo o olhar de quem está a minha frente acompanhando todos os meus movimentos, sempre quieto, posturado exalando a mesmo poder que o cerca desde a primeira vez que ficamos cara a cara. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Encosto as costas no estofado da cadeira erguendo um pouco o queixo só pra poder olhar em seu rosto, admirando cada detalhe. O formato da sua boca, o cavanhaque preto causando contraste com os fios descoloridos do cabelo, o risco nas duas sobrancelhas, as tatuagens no pescoço se perdem sobre as joias de ouro. Percebendo que está sendo observado vejo o exato momento em que ele estreita os olhos sorrindo de lado.⠀⠀⠀⠀
— Gostou? — Reviro os olhos segurando o riso. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Tinha esquecido como o seu ego é inflado. — Sua risada baixa me leva a olhar de volta em seu rosto quando ele se aproxima um pouco mais da mesa colocando os braços por cima da toalha branca. Acompanho o movimento dos seus dedos, os anéis.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Passo a língua nos lábios passando a unha sobre o vidro da taça a minha frente.⠀
Inspiro fundo antes de falar o que já estava na ponta da língua.
— O que você quer de mim, Filipe? — Sua mão alcança a minha segurando meus dedos ele começa a passar o polegar entre eles.
— Não tá claro? — Arqueio a sobrancelha me mantendo em silêncio. — O que eu preciso fazer pra te ter de volta? ⠀
Sinto o coração acelerar enquanto sorrio fraco sem saber o que falar.
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— Não sei se quero ser machucada mais uma vez. — Rebato fazendo-o balançar a cabeça em confirmação.
— Eu tô ligado que esse sentimento vai tentar prevalecer na tua mente em uma tentativa de se blindar e proteger teu coração, e é total direito seu. Eu só quero que você saiba que eu to aberto, puro de corpo, alma e intenção pra você. — Mordo a ponta da língua virando a cabeça de lado. — Quero fazer diferente dessa vez, depois que o Théo nasceu você foi a melhor coisa que aconteceu, e eu não tô falando isso pra fazer jogo de manipulação ou nada desses bagulhos, não. É o Filipe aqui, o filho da Vanda e do Ricardo, o pai do Théo, o que você viu largadão jogando bola com os moleques na rua, sem roupa de marca, sem cordão caro no pescoço, ou esbanjando os lucros da conta bancária. Um homem de quase quarenta anos na cara que percorreu uma jornada fudida carregando reflexões sobre a vida até encontrar uma morena de 25 anos dona de si, marrenta pra caralho que chegou quebrando todos os padrões de pensamentos e achismos errados sobre o que de fato é amar alguém. — Engulo seco sentindo os olhos marejar, baixo a cabeça mordendo o lábio inferior lutando contra a vontade de sorrir abertamente.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Como é que você luta contra um sentimento que te toma por completa ao ponto de te roubar o ar?⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Balanço a cabeça ainda sentindo seu toque.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Você diz que me ama, mas não exitou em nenhum momento quando achou que eu seria capaz de ter ficado com alguém que sempre foi próximo de você. — Enrugo a testa observando sua feição ao mesmo tempo em que respira fundo. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— O que você queria que eu pensasse? — Rebate. — Qual é o homem que não iria pra cima de você? Ainda mais sendo ele que eu não preciso destacar as paradas.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Mas não é sobre ele, Filipe. — Retruco ganhando sua atenção. — É sobre mim. — Aponto pro meu peito. — Foi comigo que você teve um história, você me conhece o suficiente pra saber que eu nunca pegaria um dos seus amigos. E uma coisa eu garanto, que chance não me faltou e o mais engraçado é você cobrar uma postura da minha parte que você nunca teve. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Tá falando isso por causa da ... — Falo o interrompendo de imediato.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Eu não quero saber quem quer que tenha sido, a diferença é que eu não fui pra internet fazer showzinho. — Puxo minha mão bebendo o resto do meu vinho de uma vez.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Quando assunto é você... — Se aproxima da mesa baixando a voz. — Eu fico maluco, viro bicho e fodasse com quem quer que seja. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Viro o rosto respirando fundo sentindo um calor de repente. Suspiro prestes a comentar sobre um assunto que não tem como fugir.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— E a Anna? — Foco em seus olhos enquanto ele bebe água. — O que finalmente rolou naquele dia que peguei vocês dois no camarim? ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Ajeitando o relógio no pulso ele começa a falar.⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Não rolou nada do que você acha que aconteceu naquele dia. Nem beijo, ou porra nenhuma. O meu erro foi ter dado espaço a ela quando a minha mente tava fudida, e eu já não tinha controle de nada. — Pisco três vezes seguida sentindo a boca secar. — Se fosse pra voltar teve tempo o suficiente pra isso. Acabou e nada e nem ninguém vai mudar isso. Quem eu quero tá aqui, bem na minha frente.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Até abro a boca pra retrucar quando ele toma a frente.
— Agora é a minha vez de perguntar. — Cruzo as pernas por baixo da mesa levando a mão até o brinco mexendo na tarraxa. — O que te levou a achar que eu impediria você de ver o Théo?
— Não é questão de impedir, Filipe. É saber que não estamos juntos e ele tem uma mãe que também decide o que é bom ou não para o filho dela. Por mais que eu ame o seu filho, nunca serei a pessoa que vai passar por cima da decisão dela. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Respeito e admiro pra caralho tua postura diante disso, e tu sabe disso. Mas fica ciente que quando ele tiver comigo ou com minha mãe, tu tem todo direito de tá perto. — Confirmo com a cabeça sentindo uma sensação de paz por saber disso. — Ver um dia pra tu pegar ele. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Filipe ... — Negando com a cabeça ele continua a falar.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Eu vou trocar uma ideia com a Anna. — Sorrio segurando sua mão mais uma vez vendo quando ele se aproxima beijando a minha. — Bora? — Confirmo com a cabeça.
Ele chama o garçom e paga a conta, saímos do restaurante entrando no carro dele que sai com tudo pegando um caminho oposto do que viemos, antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa sua voz surge.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
— Quero te levar em um lugar. — Sorrindo ele me olha trazendo a mão até minha cocha me deixando sem saber o que fazer.
Não demora muito pra de fato reconhecer onde estamos, assim que meus olhos batem no palácio do Catete.
Ele baixa os vidros esbanjando um sorriso de canto passando a mão no queixo.
— A gente tá na sua área, né? — Dando risada ele confirma, com brilho nos olhos.
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Contramão
FanfictionEu te proponho o que há de bom, aquela melhor onda Hoje eu quero te ver, então me diz onde você tá ...