Contramão

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— Vai paralisar logo agora? — Escuto o Filipe falar me trazendo a realidade.

Pisco algumas vezes ainda tentando raciocinar.

— Não acredito que você fez mesmo isso ... — Solto o ar preso dentro de mim ao mesmo tempo em que sinto meus olhos marejarem.

— Te prometi, agora tô fazendo valer. — Sorrio fraco voltando meu olhar a ele que me analisa com um ar de satisfação no rosto.

Juro que sou incapaz de fazer qualquer outra coisa que não seja ficar na ponta dos pés e envolver seu pescoço em um abraço.

— Eu nem sei o que te dizer ... — Falo com a voz trêmula sentindo as mãos dele descendo sobre minha coluna parando na altura da minha bunda.

— Bora que tem gente esperando. — Murmura depositando um beijo na minha testa entrelaçando nossos dedos enquanto ele me guia, me ajudando a subir na lancha.

Ok, é agora que eu finjo demência ou deixo meu espirito de fã surgir?

O tempo de pensar foi curto já que quando me deparei o homem estava parado a minha frente.

— A famosa, Manuella. — Mordo o lábio inferior sentindo minhas mãos suadas. — Ouvir falar muito de você.

Estreito os olhos.

— De mim? — Minha voz surge tão baixa que sou obrigada a forçar a garganta. — O Filipe já foi choramingar no seu ouvido? 

Ele gargalha e eu sou obrigada a olhar para trás por cima do meu ombro quando o peito do outro encosta bem nas minhas costas.

— Ih, que papo é esse? — Arqueio a sobrancelha. — Ae irmão, mais uma no teu fã clube. — Observo os dois trocarem um aperto de mão e um abraço forte.

— Fico feliz pra caralho em saber que vocês se acertaram e decidiram levar essa parada foda que estão construindo...— Ele fala olhando do Filipe para mim, fazendo meu coração acelerar. — Obrigada Manu, o papo é esse. Esse cara aqui ... — Bate no peito do Filipe o deixando totalmente sem jeito o que me faz querer rir. — Tá elevando os níveis em uma frequência absurda, e porra... — Balança a cabeça me olhando. — Isso tem grande influencia na visão e valores dos princípios que você agregou na caminhada louca que é essa vida que a gente tem, sacou?... O homem é outro, as ideias, a amplitude de ver a vida de outro ângulo lapidou um diamante bruto, a essência nua e crua desse cara, que além de fazer versos e descrever vivências, agora, mais do que nunca, sabe  que de nada desses bagulhos vale o preço de ter a consciência leve em saber que o cachê mais alto nunca vai ser comparado ao valor de ter pra onde voltar quando os parágrafos mais intensos da vida tiver um ponto final.

Engulo seco sentindo uma sensação diferente invadir meu peito.

Saber que você está vivendo de fato algo diferente a tudo o que um dia já foi expectativas criadas na sua linha de imaginação, é uma coisa. Ouvir e sentir na pele de uma das pessoas que mais se tornou referencia em parâmetros distintos, a respeito do peso que você tem sobre a vida de alguém que se tornou um eixo no meio dos furacões e tempestades que nos cerca, trazendo consciência e segurança, tanto em atitudes, como em palavras ou até mesmo, só o fato de ser e estar presente, te faz, de fato entender o porquê nunca deu certo com ninguém antes.

Por mas clichê que seja, ainda sim, se tornou real.

— É uma construção diária, de escolhas que geram frutos futuros. Toda intensidade precisa de uma racionalidade. Ou seja, prazer... estamos aqui! — Pisco olhando nos olhos do meu homem sabendo que nada do que pode ser dito será capaz de pôr em uma balança tudo que foi construído por trás das cortinas de uma realidade que só nós dois sabemos o preço que foi preciso ser pago para que hoje, temos a convicção de que nesse mundo imenso, sempre teremos a nossa própria fortaleza.