Filipe°
Inspiro fundo impaciente deitado na cama, a televisão ligada sem som, sinto a mente fervilhando, trabalhando de forma violenta, um pensamento se forma em cima do outro sem chegar em conclusão nenhuma, me deixando alucinado com a porra dos sentimentos que se chocam dentro de mim me levando a insatisfação do que está além do meu alcance. Viver acelerado te faz perder a noção do tempo, fugindo a todo momento da realidade, se fechando em um mundo que se cria dentro de si próprio, é a consequência da sensação no peito e a frieza no raciocínio de ter uma alma inquieta
Estico as costas alongando a coluna esperando dar a hora do show, aproveito pra ligar pro Théo enquanto tem tempo, os últimos dias tem sido foda sem ele por perto.
Não dá pra bancar o hipócrita e fingir que não tá tudo de ponta a cabeça a dias, desde que a Manuella foi embora nem conseguir encostar em casa, nem resolver nada do que tinha planejado. Até resolver as coisas da obra do apartamento que comprei na intenção de ter mais espaço pra nós três, era essa meta, se as coisas não tivessem ido por água abaixo.
Parece um ciclo vicioso sem fim, não importa o que faça sempre me vejo no mesmo lugar de sempre, preso na sensação de perda, toda vez que encaro a porra do espelho o vazio gritante ecoa martelando a cada segundo o que falta, ou melhor, quem falta.
Pior do que se sentir fudido é saber que nessa história alguém saiu pior do que eu, pelos erros das escolhas mal tomadas, pela intensidade dos momentos, pela palavras ditas, pelas minhas próprias decisões.
Fecho os olhos passando a mão no nariz ouvindo o toque da chamada até que minha mãe atende a chamada de vídeo.
Ligação:
— Oi filho. — Fala colocando os óculos de grau. — Ele acabou de dormir.
— Deixa ele dormir, depois eu ligo. — Suspiro colocando o travesseiro atrás da cabeça. — E ae, como vocês estão? Cadê meu pai?
— Estamos bem, seu pai tá no banho, e você, como tá? — Olho pra tela do celular me sentindo cansado até pra explicar o que tô sentindo. — Tô te achando tão quieto esses dias, Filipe.
Confirmo com a cabeça.
— Altas paradas na mente, mãe. — Passo a língua nos lábios. — Tá de boa, só preciso tirar um tempo pra descansar.
— Sabe que pode conversar comigo, né? Fico preocupada quando você se fecha assim, filho. Desde que seu relacionamento terminou você não parou um dia se quer, fugir da realidade não vai te fazer seguir em frente, espero que saiba disso.
Balanço a cabeça soprando fundo.
— Essas paradas de sentir, é complicado demais dona Vanda. — Vejo ela sorrir confirmando do outro lado. — Talvez a ideia seja ficar sozinho mermo e focar na caminhada e no Théo.
— Eu ainda acho que o caminho não seja esse, mas vamos dar tempo ao tempo. Só que você precisa dar um tempo de tudo isso, se afundar em trabalho vai te adoecer e vai fazer essa barba que já tá na hora. — Dou risada passando a mão no queixo.
— Deixa essa porra assim, mermo. Vou desligar aqui e adiantar o que tenho pra fazer antes do show, assim que chegar no Rio encosto ae pra passar o dia com vocês, maior saudades de assar uma carne.
— Você e seu irmão só resolvem as coisas em cima da hora, já desistir de marcar as coisas com vocês. Mas vai filho, bom show e amanhã ligo pro Théo falar. — Faço joia com a mão mandando beijo encerrando a ligação.
Levanto e vou direto pro banho, aproveito pra fazer o que ela mandou e tiro a barba que já tá pinicando e os caralhos, mando mensagem pra equipe me certificando que tá tudo certo enquanto me troco.
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Contramão
FanfictionEu te proponho o que há de bom, aquela melhor onda Hoje eu quero te ver, então me diz onde você tá ...