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Com o som no último volume fazendo a voz do cabelinho ecoar tocando né segredo, sinto o vento balançar meu cabelo pelo teto solar aberto.

— Ela é uma preta rara ... Disse que ficou viciada, igual eu, não vale nada — Olho pra ele que canta do meu lado parando no sinal.

Depois de demorar quase duas horas pra se arrumar saímos de casa mais tarde do que o planejado, o sinal ficou verde o impulsionando afundar o pé no acelerador, ele que lute com as multas depois.

Chegando no Leblon o observo baixar o volume fechando o teto enquanto dá a volta estacionando o carro em frente a um restaurante de luxo.

— E lá vamos, nós. — Tiro o cinto descendo, fecho a porta aproveitando pra me olhar no espelho já sentindo alguns olhares voltados na nossa direção, o que me começa a me deixar meio incomodada.

Ele dá a volta no carro se aproximando.

— É só não dar palco. — Sinto quando ele pega minha mão e sai andando em direção a entrada do restaurante onde somos recepcionados e guiados para uma mesa mais afastada.

Passo os olhos pelo local sabendo que provavelmente só a elite frequenta o ambiente, o que de certa forma me faz segurar o riso pelos olhares voltados a nossa direção, também o tanto de ouro que o Flávio tá reluzindo é meio impossível passar batido.

— Vinho? — Pergunta me tirando do transe. — Por mim, descia uma gelada gostosinha agora.

O garçom nos entrega o cardápio enquanto se mantém parado do nosso lado aguardando os pedidos, pelo bem da minha sanidade decido não focar no preço dos pratos que provavelmente só vai enganar a barriga, e sigo fingindo costume.

— Tinto? — Olho pra ele que faz bico antes de confirmar e fazer o pedido.

Acaba que os dois resolvem pedir massa, e logo estamos a sós novamente até eu me dar conta que ele tá tirando fotos minhas.

— Flávio... — Coloco a mão no rosto ouvindo a risada dele. — Se você postar isso... — O repreendo com os olhos.

— Qual foi, tá maior gata ae toda posturada. Aproveita e posta, mostra pra geral que tu tem luz própria. — Sorrir me fazendo negar com a cabeça quando o garçom se aproxima com o vinho enchendo nossas taças. — Chega ae, bora brindar.

— Brindar a o que, garoto? — Levanto a taça até a dele que mantém aquele sorrisinho sacana no rosto.

— A vida, Manu e a tudo que ela tem pra nós dois. — Brindamos um olhando para o outro o que me faz dar mais risada ainda.

— Agora me fala ae, como tá essa cabeça. — Pergunta se ajeitando na cadeira me olhando atento.

— Sessão terapia fora de casa? — Jogo a cabeça pro lado fazendo bico.

— Claro, pô. Por isso to te empurrando cachaça pra dentro. — Chuto a perna dele por baixo da mesa que gargalha alto.

Respiro fundo olhando o liquido dentro da taça criando coragem pra por em palavras os sentimentos dos últimos dias.

— Sei lá... — Suspiro. — Não dá pra fingir que de uma hora pra outra ele e tudo que aconteceu deixou de existir, de certa forma, sinto que ele sempre vai ser meu ponto fraco, sabe? Ele e tudo que o cerca, principalmente o Théo.

Inspiro fundo soltando o ar pela boca sentindo o peito apertar pela falta do meu pequeno.

— Eu ainda acho que tu deveria procurar o moleque. — Ergo o olhar focando no que ele fala. — Porra, a tua relação com os outros não pode ser estabelecida em cima do que rolou com o ret, isso é papo de egoísmo.

ContramãoOnde histórias criam vida. Descubra agora