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Pisco algumas vezes sem saber ao certo o que sentir, mordo o lábio inferior abaixando o olhar.
Nada se forma na minha mente além das últimas palavras que ela direcionou a mim antes de me expulsar.
— O que ela, quer? — Questiono olhando para ele que nega com a cabeça.
— Ae tu vai ter que conversar pra saber. — Estreito os olhos olhando pro Flávio que observa tudo calado.
— Alguma coisa ela ficou sabendo, Matheus. Vem querer meter conversinha pra cima de mim, não. — Inspiro fundo conhecendo meu irmão o suficiente pra saber que tem dedo dele nessa história.
Coçando a cabeça ele me olha de lado.
— Papo de que ela ouviu minha conversa com a Steff sobre você ter terminado com o Ret e tá procurando emprego, e o resto eu não preciso ficar falando. — Reviro os olhos sentindo minha nuca coçar.
— Não sei se to afim de encontrar com ela, e ouvir ela se gabando de tudo que falou de ruim do Filipe e das minhas escolhas. — Levanto já sem paciência pra mais nada.
— Ae é escolha tua. — Dou as costas e volto pra dentro de casa indo direto pro quarto onde tomo um banho demorado e aproveito pra pensar em tudo que anda acontecendo na minha vida nesses últimos dias.
Por alguns minutos que fecho os olhos sentindo a água sobre a minha cabeça, lembro claramente do dia que sair daquele apartamento onde deixei uma parte de mim, qual ainda não sei se serei capaz de reconstruí-la novamente.
— Flashback —
Olhei pra Steff sem entender o que o Orochi tá fazendo aqui, e acho que pela cara dele ficou tão surpreso quanto, ao me ver mais uma vez, em uma situação fudida como essa.
Abaixo o olhar sem conseguir se quer falar.
Sem questionar nada, o observo ajudar a Steff colocar minhas coisas dentro do carro dele, onde me vejo logo em seguida sentada no banco de trás observando a noite silenciosa do lado de fora, ou talvez, seja só a sensação do oco que ficou aqui dentro.
Só me dou conta que chegamos no estacionamento do prédio quando sinto o carro ser desligado, me fazendo despertar.
Sei que estou sendo observada pelo retrovisor o que me leva a ignorar qualquer tipo de contato visual.
A última coisa que eu preciso no momento é expor a minha dor para um desconhecido qualquer.
Chegando no apartamento dela, sou logo guiada até o quarto de hospede onde vejo toda minha bagunça ocupar o mínimo espaço enquanto sento na ponta da cama.
— Toma um banho, respira que eu vou preparar alguma coisa pra gente comer, tá? — Ajoelhada na minha frente vejo a preocupação estampada em seu olhar.
— Desculpa está invadindo sua casa e te ocupando com meus problemas, amiga. — Suspiro sentindo meus olhos marejarem.
— Manu, desfoca disso e tenta ficar bem, tá bom? — Engulo seco confirmando com a cabeça. — Vai tomar um banho, tô te esperando.
A observo se levantar passando pela porta me deixando sozinha imersa na minha própria frustração.
A sensação que eu tenho é que estou na beira de um precipício que aos poucos vai me consumindo.
De banho tomado e já trocada crio coragem de sair do quarto indo em direção a sala onde encontro apenas o Orochi sentado mexendo no celular enquanto fuma um baseado, me mantenho em silêncio quieta.
— Ela tá no banho. — Escuto a voz grossa dele ecoar atraindo minha atenção novamente a ele que agora mantém os olhos em mim.
Apenas confirmo balançando a cabeça.
— Pega ae, acho que tu tá precisando mais do que eu. — Aponta na direção das bebidas em cima do rack.
Resolvo aceitar qualquer coisa que fosse capaz de desligar minhas emoções, nem que seja por um instante.
Coloco uma dose de whisky e viro de uma vez sentindo o líquido quente descer queimando, fecho a garrafa e resolvo me sentar de canto sentindo a todo momento o olhar dele sobre mim.
Respiro fundo criando coragem pra falar.
— Obrigada por hoje! — Suspiro passando o dedo na borda do copo antes de olhar novamente em seu rosto.
Ele balança a cabeça levando o baseado até a boca onde dá uma tragada longa.
— Não imaginei que fosse te esbarrar de novo. — Dou de ombros tomando o resto da bebida. — Satisfação, Flávio. — Umedece os lábios depois de tomar o resto do que tinha no copo.
É literalmente a primeira vez que o observo dos pés a cabeça, sem ao menos conseguir formar uma conclusão sobre qualquer coisa que esteja acontecendo fora da confusão formada na minha cabeça.
— Manuella. — Ergo o queixo quando ele estica o baseado na minha direção, penso umas duas vezes antes de aceitar e sentir a seda em contato com minha boca, tragando lentamente. Prendo, soltando a fumaça aos poucos com a sensação que aos poucos vai me invadindo. — Posso fazer uma pergunta?
Com uma das pernas dobrada sobre a outra, o braço esticado sobre o sofá e a cabeça apoiada no estofado ele estreita os olhos balançando a cabeça me incentivando a continuar.
— O quão prazeroso é destruir o coração de alguém? — sinto uma lágrima descer pela minha bochecha dando início as outras que caem sem esforço.
— Posso te mandar um papo real? — Engulo seco. — Nada do que te fizeram te define, sacou? Isso só diz a respeito a outra pessoa. Se tu deu o teu melhor e ele não fechou contigo, já diz muito a respeito do coração que tu tem, e nem sempre nego tá preparado pra receber o que tu tem a oferecer.
— Flashback —
Inspiro fundo tirando a hidratação do cabelo. Saio do banheiro enrolada na toalha sem saber ao certo o que vestir, quando a porta abre e o Flávio surge olhando alguma coisa no celular.
— É pra me arrumar ou não? — Pergunto chamando atenção dele que se joga na cama coçando a cabeça. — To quase sem roupa aqui, cara.
— Por mim tu fica assim o resto da noite. — Mostro o dedo do meio pra que ele dá risada. — Se arruma, fica naquele pique que hoje tu vai ter o privilégio de jantar fora comigo.
Faço cara de desdém ouvindo ele dar risada voltando a focar no celular.
— Ae, o que tu achou do papo da tua mãe querer falar contigo? — Me sento procurando alguma coisa pra vestir tentando ao máximo não pensar no assunto.
Inspiro fundo mordendo o lábio inferior.
— De verdade? Não sei qual é a intenção dela em querer só falar comigo agora...
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Contramão
FanfictionEu te proponho o que há de bom, aquela melhor onda Hoje eu quero te ver, então me diz onde você tá ...