78

12K 1.2K 186
                                    

Quando percebo que é o Victinho que surge em nossa frente, engulo seco cortando nosso contato visual.

— A vó tá chamando vocês pra bater parabéns. — O mais novo fala ganhando a atenção do tio enquanto tento de todas as formas não focar na maneira em como o meu coração permanece acelerado.

Solto o ar lentamente pelos lábios.

— Já tamos indo. — O Timbre da voz grossa dele ecoa.

Observo quando o garoto se vira voltando de onde veio o que me leva a dar dois passos na intenção de segui-lo e dali mesmo já pegar o meu rumo de casa.

— Vai ficar? — Percebo quando ele se refere a mim enquanto me acompanha.

Suspiro baixo em uma luta interna comigo mesmo.

— Tenho compromisso, Filipe. — Sinto sua presença bem nas minhas costas e eu tenho a plena certeza de que os seus olhos estão direcionados a minha bunda. — Forçar não é a melhor a coisa a se fazer, achei que soubesse disso

— Tem compromisso ou não quer assumir que tá fugindo do que você sabe que uma hora ou outra vai acontecer? — Enrugo a testa parando de andar e me virando pra ele que me olha com intensidade.

— Uma hora ou outra vai acontecer? — Sorrio fraco. — As vezes sua convicção pra certas coisas se torna irritante, sabia?

Nitidamente vejo um sorriso surgir no canto dos seus lábios.

— Te irrita saber que sou decidido a conquista tudo o que eu quero? — Reviro os olhos me virando quando sua mão agarra minha cintura por trás me fazendo desviar segurando o riso enquanto continuo andando chegando finalmente onde todos estão reunidos em volta da mesa.

Todos os olhares se direcionam na nossa direção o que consegue me deixar totalmente sem jeito, era a oportunidade perfeita pra me fazer sair correndo.

Isso se não se tratasse da família do Filipe e do Théo que corre e abraça minhas pernas.

Os parabéns começam e eu seguro as mãozinhas dele que bate palmas junto comigo dando risadas.

— Théo, vem comer. — A voz da Anna surge e eu percebo quando o pequeno me olha, confirmo com a cabeça a ele que sorrir e sai correndo em direção a mãe que o senta entregando um prato com salgados.

Decido me manter distante do Filipe até pra evitar certos desconfortos, mesmo sem ele conseguir parar de ficar me encarando a todo instante. Percebo que alguém senta do meu lado, me viro vendo o Tico.

— Depois do que rolou entre você e o ret me sentir meio culpado pelas merdas toda que aconteceu. — Foco em seu rosto enquanto seus olhos estão focados a frente. — Desculpa mermo pelo desconforto de todo o rolo lá.

Ajeito minha postura na cadeira me mantendo em silêncio.

Eu sei que ele é uma das peças mais importantes na vida do Filipe dentro e fora dos palcos. E o quanto ele é próximo das pessoas que fazem parte da minha rede de apoio, e até mesmo do meu irmão. Por certa parte percebo que a forma como as coisas acontecerem e a intensidade entre mim e o Filipe que é um dos melhores amigos dele, de fato deve ter assustado e causado dúvidas a respeito. Afinal, em um dia tínhamos uma base sólida, no outro, tudo se tornou fragmentos do que existiu entre nós dois.

A intensidade do sentir, e da maneira que se sente, assusta quem só conhece relatos da história.

— As coisas mudam o tempo todo, e o que passou já ficou pra trás. — Digo olhando na mesma direção que ele onde a família tá tirando fotos. — Você é um dos melhores amigos dele, não vou julgar a forma como você deduziu as coisas. Você sabe que errou na maneira que se direcionou a mim, e se reconhece isso, já é o bastante pra não refletir em uma atitude parecida ou igual a sua que possa resultar da minha parte. Não sou do tipo que paga da mesma moeda, já segui em frente, Tico. Tá tudo bem ...

ContramãoOnde histórias criam vida. Descubra agora