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Filipe°

Paro em frente a casa dela me sentindo um moleque de quinze anos com o mesmo frio na espinha e a inquietude tomando conta de mim.

Esfrego uma mão na outra depois de mandar mensagem avisando que tinha chegado, não demora e logo eu vejo o portão sendo aberto e ela parar do lado da porta toda de branco, cabelo preso e uma bolsa na mão.

Destravo a porta do carro sentindo seu cheiro invadir tudo assim que ela se senta do meu lado puxando o cinto de segurança.
Não teve como inibir a vontade de apreciar a vista bem diante dos meus olhos.

Sorrio de lado subindo o olhar até seu rosto que me observa quieta com a mão estendida segurando meu anel.

— Antes que você arrume mais uma desculpa pra me ver. — Fala me fazendo dar risada estendendo a mão tocando sua pele propositalmente, deixo que meus dedos rocem sobre seu punho antes de pegar o objeto.

— Parece que deu certo, né? — Nossos olhos se prendem um ao outro até ela desviar.

— Algumas coisas não mudam, né? — Coloco o anel no dedo e acelero o carro pegando o caminho em direção a Santa Teresa onde fiz a reserva.

No fundo a voz do belo ecoa me fazendo aumentar o som mais um pouco ao mesmo tempo em que a observo quieta do meu lado, respiro fundo lutando pra caralho contra a minha vontade de encostar o carro e puxa-la logo de uma vez pro meu colo na intenção de matar a saudade que tá me corroendo por dentro, como uma metástase que pouco a pouco vai se espalhando, tomando todo o espaço em cada cavidade do meu corpo.

— Como  tá o Théozinho? — Me ajeito no banco encostando as costas quando paro no sinal vermelho.

— Levei ele pra escolinha de futebol hoje. — Passo a língua no lábio inferior umedecendo. Viro a cabeça sentindo seus olhos me observar. — Agora tá pedindo direto pra ir no jogo do fluzão. — Ela faz careta antes de rebater.

— Pelo amor de Deus, cara. Para de fazer a criança sofrer torcendo por um time meia boca como o seu. — Arqueio a sobrancelha.

— Nem vem com esse papo, já basta o pela saco do teu irmão enchendo a porra do meu saco em todo jogo do flamengo, pior coisa foi juntar ele, o cabelinho e maneiro. É pra tomar no cú, mermo. — Piso no acelerador assim que o sinal abre ouvindo a risada dela.

— Posso te perguntar uma coisa? — Confirmo com a cabeça surpreso vendo ela puxar assunto. — Como foi a conversa com a minha mãe?

Sabia que esse assunto uma hora ou outra iria rolar, sendo da minha parte ou não.

— Papo reto? Não imaginei que ela fosse te contar, mas pelo visto muita coisa mudou. — Sua respiração forte me faz perceber de cara seu desconforto, foco os olhos na estrada sentindo seus olhos em todo momento sobre mim. — Tava esperando alguém chegar pra não te deixar sozinha no estado que tu tava, tentei falar com o Matheus a noite toda, mas nem sinal o celular dele tinha. Assim que ouvir alguém chegando peguei minhas coisas e sair do quarto dando de cara com ela. — Passo a mão no cavanhaque olhando o gps, antes de voltar a falar. —  O papo é que passei a visão pra ela do porquê tava ali, e ela me pediu desculpas pelos bagulhos. O que eu tinha pra falar com ela, eu falei. A parada aconteceu, mas o peso maior caiu sobre você que é filha e deveria ter sido poupada de muita coisa, já te falei sobre isso. Então, se tu que saiu machucada na história toda decidiu dar uma segunda chance a ela, quem sou eu pra querer chegar causando?! Eu sei quem eu sou, e mesmo ela sendo a tua mãe, a escolha de querer acreditar ou não na minha verdade não muda em nada na minha vida, vai ser só mais um dedo apontado no meio de vários, sacou?

ContramãoOnde histórias criam vida. Descubra agora