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Por mais que eu me revirasse para todos os lados na poltrona do avião em uma tentativa frustada de acalmar meu coração e o embaranhado de pensamentos que rondava minha mente, nada me fazia esquecer o resultado do exame que a horas atrás se tornou real, em minhas mãos.

REAGENTE!

Ou seja, grávida, porra.

Tem alguém crescendo dentro de mim, e eu se quer ainda fui capaz de respirar ou ter qualquer reação que não seja criar mil e uma possibilidades de imprevistos que possa acontecer quando de fato conseguir externar tudo que parece estranhamente confuso dentro de mim.

Como eu vou falar isso para o Filipe no meio dessa correria louca de fazer shows fora do país.

Eu quero gritar.

Tudo que eu menos preciso agora é de uma crise de ansiedade dentro de um avião cercada de desconhecidos.

Suspiro e fecho os olhos.

Ainda faltam duas horas para de fato o avião pousar, e eu acabo recorrendo a única coisa que seria capaz de me fazer apagar por alguns minutos.

Cato a cartela do remédio de enjoo dentro da minha bolsa e engulo de uma vez tentando relaxar ao máximo até pegar no sono de vez.

Perco totalmente a noção do tempo e só me dou conta de que estamos prestes a pousar quando a aeromoça me acorda pedindo para que aperte os cintos, pisco algumas vezes os olhos de forma involuntária e me sento catando o cinto e prendendo em volta de mim.

Minutos depois me vejo passar pelo portão de desembarque já dando de cara com a Steff me esperando.

Respiro fundo pela primeira vez desde que entrei naquele avião até chegar aqui.

Tenho a sensação de que o bolo preso na garganta insiste em me fazer engolir seco, por não saber ao certo como agir daqui em diante.

— Sua cara tá péssima. — Escuto ela falar assim que me aproximo. — Não conseguiu dormir? — Questiona assim que me abraça.

Suspiro mordendo o lábio inferior antes de falar.

— Não tô me sentindo muito bem. — Respondo tentando a todo custo não dar indícios do que realmente está acontecendo.

Sei que aqui não é o melhor lugar para isso.

— Vamos fazer assim, amiga. — Fala ganhando minha atenção. — Quando chegar você fica no meu quarto, descansa e depois dá um jeito de entrar no quarto do Filipe sem que ele veja, tá? — Confirmo com a cabeça agradecendo a Deus por ela não ter feito nem um tipo de questionamento a qual eu não sei se conseguiria passar ilesa.

Com a ajuda dela saio arrastando minhas malas em direção a entrada do aeroporto, onde o motorista qual o Filipe reservou para a equipe estava nos esperando, graças a ela que sempre consegue ser a melhor em tudo.

Me afundo no banco assim que começo a sentir o carro em movimento.

— Sei que tá acontecendo alguma coisa, mas vou te dar espaço para falar só quando se sentir a vontade. — A escuto falar,  o que me faz sorrir fraco antes de encostar a cabeça no seu ombro.

As ruas de Paris são literalmente cenários de filme, automaticamente consigo imaginar como o Théo deve estar encantando com tudo isso, e de repente me vejo pensando como será daqui um tempo com a chegada desse bebê, se ele será tão apegado a mim como o Théozinho ou se será apaixonado pelo pai.

Levo a mão na altura do meu ventre de maneira sutil, enquanto sinto meus olhos marejados, o medo que quer se instalar dentro de mim é sorrateiro, as incertezas sobre os riscos de uma gestação, a maldade do mundo que nos cerca, tudo parece ganhar espaço aos poucos na minha mente, desde o momento que soube.

E se eu não for uma boa mãe?

Inspiro fundo e quando me dou conta me escuto falar de uma vez atraindo atenção da Steff ao meu lado.

— Acabei de descobrir que estou gravida. — Em um pulo ela vira todo o corpo na minha direção e com os olhos arregalados, grita.

— GRAVIDA? — Fecho os olhos confirmando com a cabeça segurando a vontade de rir da cara de assustada que agora está sobre seu rosto. — Puta que pariu, Manuella. — Leva a mão ao peito. — E o Diu, caralho?

Levanto os ombros em resposta e de repente caio na gargalhada junto com ela.

— PORRA... — Repete pela terceira vez no meio de uma risada e outra. — Eu sabia que isso iria acontecer, eu sabia...

Reviro os olhos puxando o ar forte quando ela entrelaça os nosso braços.

— Agora fudeu, que o Filipe vai infartar quando receber a noticia logo no meio da viagem... — Gargalha alto com a risada icônica dela. — A eurotrip vai pra casa do caralho por que ele vai meter todo mundo na sua cola. — Dou risada empurrando ela pelo ombro.

O carro estaciona em frente a um hotel e logo o motorista desce para tirar as malas. 

— Já pensou como vai contar? — Nego com a cabeça me jogando na cama assim que entramos no quarto.

— Ainda não processei a informação, e sei que no momento em que ele souber tudo vai mudar... — Suspiro passando a mão nos olhos. — Não sei se é uma boa ideia contar agora.

Sinto a cama afundar e ela se sentar virada para mim com as pernas dobradas.

— E como você vai conseguir segurar isso até voltar? — Faço bico o que automaticamente a faz sorrir. — Você tá surtando, né?

Dou risada de nervoso.

— Era só uma troca de um diu, cara. — Choramingo. — Não tô reclamando, sabe? Eu só tô... — Respiro fundo soltando todo ar preso nos meus pulmões. — Tentando entender tudo.

Vejo quando ela abre a boca fazendo menção de falar, mas é interrompida por batidas na porta.

De repente do outro lado a voz do Dallas surge, nos fazendo paralisar.





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