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Manuella°

Depois de jantarmos fora do horário já que chegamos mais tarde do que o esperado, resolvemos dar uma volta pela área dos brinquedos onde o Théo pediu umas duas vezes para vim.

O pequeno sai correndo na nossa frente assim que adentramos o espaço, com os braços em volta do meu ombro o Filipe sai me guiando até uns estofados divididos entre uma tv e os brinquedos em volta.

— Sua mãe já avisou que horas eles vão chegar amanhã? — Pergunto me sentando do lado dele que me puxa pra mais perto, jogo o cabelo para o lado encostando as costas em seu peito enquanto sinto sua mão descer até minha coxa.

— Antes do almoço. — Boceja largando o celular de lado passando a mão no rosto. A cara de sono tava estampada, pela teimosa em não querer reversar no volante, como sempre. — Bom que os moleques vem e o Théo não fica sozinho.

Viro minha cabeça olhando em seu rosto, seus olhos me observam de cima.

— Tá quieto, porquê? — Pergunto percebendo o momento em que ele foca na minha boca.

Suspirando sinto seus olhos me encarar quando escuto o Théo falar.

— Vou deixar minha sandália aqui, papai. — Me viro a tempo de vê-lo sair correndo na direção da mesinha com coisas para desenhar.

— A gente tem que trocar uma ideia, e eu prefiro fazer isso logo pra não ficar adiando e estragar o resto da viagem. — A voz grossa invade meus ouvidos e eu me distancio um pouco sabendo que alguma coisa rolou só pelo tom de voz dele. — A Anna veio com papo hoje de que eu to te pondo no lugar de mãe do Théo, só porque eu não avisei que ele teve febre e tudo que rolou naquele dia.

Enrugo a testa engolindo em seco no mesmo instante.

Fecho os olhos buscando o ar com força.

— Era exatamente isso que eu tentei evitar. — Nego com a cabeça já me sentindo incomodada. — Eu nunca quis ocupar esse lugar na vida do filho de vocês, Filipe... — Sou interrompida por ele que abre os braços me olhando.

— Ninguém falou isso, nem precisa tentar justificar. — Bufa desviando os olhos ao mesmo tempo em que começa a balançar a perna, impaciente. — O erro foi meu, e eu tô ligado nisso. — Acompanho sua língua passar de um lado para o outro em seu lábio inferior. — Não achei necessário falar, a situação tava resolvida. Se fosse caso de hospital e os bagulhos todo, ae era outra parada.

Pressiono os lábios entendendo o ponto de vista dele, mas ao mesmo tempo em que entendo e respeito o desconforto dela por não ter sido informada. O sentimento de incômodo direcionado a mim no meio disso tudo, é por certa parte, compreensível.

Se fosse o meu filho, também gostaria de ter sido informada.

— Ela é mãe, não tiro o direito dela ... — Volto a me encostar nele tentando fazer meu corpo relaxar.

Sua mão sobe até minhas costas onde ele faz movimentos subindo e descendo com os dedos de leve.

— As nossas diferenças não são direcionadas a maneira em como os dois cuidam do Théo, separados, não pô. Isso eu sempre soube enxergar mesmo diante de toda merda que rolou na separação. Só que eu não vou abaixar a cabeça e fingir que não vejo a indiferença que rola com você só por tá comigo, e querer usar disso pra me atingir. Antes de todo nosso envolvimento, tua atenção sempre foi voltada ao meu filho, independente de estarmos juntos, ou separados, e isso é mais claro que a água, porra. Nego finge que não vê ... — Jogo as pernas por cima das deles fazendo com que ele pare de se balançar.

— Você errou e reconhece, pronto. — Passo a mão em seu rosto fazendo com que ele vire na minha direção. — É saber o que fazer daqui pra frente, não dá pra viver em pé de guerra quando se tem uma criança no meio, ainda mais o Théo que percebe tudo nos detalhes. As intrigas de vocês só vai atingir a ele, que não tem escolha nesse meio.

Com os olhos fechados ele joga a cabeça para trás soltando o ar que até então estava preso em seus pulmões.

— Não consigo desacelerar nessa rotina do caralho ... — Resmunga me fazendo dar risada.

— E quando foi que você conseguiu fazer isso, Filipe? — Um sorriso surge no canto dos seus lábios ao mesmo tempo em que seus olhos se abrem lentamente.

— Quando tu tá quicando gostoso pra mim. — Reviro os olhos dando um tapa no peito dele que dar risada. - Qual foi? Essa carinha de tímida já perdeu a credibilidade comigo, faz tempo.

Arqueio a sobrancelha fazendo cara de deboche.

— Era esse o requisito das mulheres que você pegava quando tava solteiro, Filipe ret? — Sussurro vendo ele revirar os olhos.

— Lá vem ... — Aperta minha coxa querendo me puxar a todo custo pra cima dele. — Já tá querendo meter a porra de uma dr?

Dou risada prendendo o cabelo.

— Isso tudo é só para não assumir que passou vergonha em quesito mulher, quando tava solteiro? — A gargalhada que ele dá me faz fuzila-lo só com os olhos.

— Eu não vou entrar nesse papo... — Continua rindo ao mesmo tempo em que me olha com aquele ar de ego nas alturas que me faz querer voar em seu pescoço.

— Claro que não vai ... — Estralo a língua no seu da boca cruzando os braços. — Estava muito ocupado pra lembrar de metade das merdas que fez, incluindo meter puta no clipe de konteiner.

— Não vai esquecer essa porra, nunca? — Nego a cabeça fingindo estar emburrada ouvindo sua risada abafada. — Quer que eu faço pra você me perdoar, meu amor? — Sussurrando ele se aproxima beijando meu pescoço. — Próximo disco é só seu, a dona da porra toda.

Por cima do ombro olho com cara de desdém pra ele que me puxa contra minha vontade me obrigando a sentar em seu colo.

— Tá achando que eu sou a Virgínia e você o Zé Filipe, meu anjo? — Sua mão aperta minha bunda e eu me afasto no mesmo instante em que ouvimos vozes invadir o ambiente. — Me solta ... — Bato em suas mãos fazendo ele afrouxar os braços em volta de mim enquanto volto a me sentar onde estava antes. — Aproveita e vai fazer dancinha no tik tok também, chama a pipoquinha agora, que a Gabilly já foi.

— Quer eu faça o que, mulher? — Resmunga se aproximando da minha boca prendendo meu maxilar com força entre os dedos. — Quem tá no meu porte tá aqui, fazendo ceninha.

Reviro os olhos segurando a risada.

— Eu quero é que você crie vergonha nessa sua cara, safada. — Mordendo meu lábio inferior ele sussurra entre dentes.

— A única coisa que eu vou ter na cara é você sentada ... — Belisco sua barriga o obrigando a me soltar quando as crianças surgem no meu campo de visão, logo em seguida os pais entram atrás fazendo o safado me soltar.

O telefone dele toca atraindo nossa atenção quando o nome do Matheus surge em chamada de vídeo.

— Parece até que minha puta ... — Dou risada quando ele atende e logo aparece o Matheus, Tico, Dallas e a Steff juntos.

— Quem tiver morrendo que morra ... — O Dallas dá dedo e o primeiro a responder obviamente que é o Matheus.

— Sempre educado, a linguagem preferida dele é coice. — Dou risada junto com a Steff enquanto o Filipe fica calado se observando a bagunça do outro lado.

ContramãoOnde histórias criam vida. Descubra agora