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Encerro a chama de vídeo com o Filipe que está almoçando no restaurante junto com o restante do pessoal, incluindo o Théo e a babá.

Hoje faz exatamente três dias da viagem, três dias em que eu mal conseguir parar em casa e dormir uma noite de sono tranquila, ter que cumprir com a agenda, reversando entre São Paulo e Rio e todo esse trânsito caótico que nos cerca, de fato, é a pior parte de tudo isso.

Inspiro fundo largando a mala no meio da sala do apartamento dando graças a Deus ao poder tirar o tênis e respirar em paz.

Prendo o cabelo vou direto para o quarto onde deixei tudo pronto para fazer uma das maiores loucuras que já fiz, depois de ter os ensaios externos remarcados por causa da chuva, decidi enfim comprar as passagens e ir encontrar quem tanto insistiu por isso.

Meu voo está marcado para cinco da tarde, ou seja, só vou conseguir chegar em solo francês durante a madrugada, já combinei tudo com a Steff que já me passou todo o roteiro deles.

A intenção não é chegar e logo de cara encontrar o Filipe, sei que eles irão fazer um mini tour pelo centro, o que me possibilita fazer um surpresinha a mais.

Tomo um banho rápido, me arrumo e já chamo um uber, correndo contra o tempo para não atrasar tudo. Não avisei a ninguém além da Steff, do jeito que o Mattheus é um boca de sacola, o estado do Rio de Janeiro todo já estaria sabendo.

Inspiro fundo quando o motorista encerra a corrida e me ajuda a descer com as malas.

— Meu Deus... O quê eu tô inventando. — Sorrio nervoso e saio empurrando minhas coisas até o check in.

Uma fila pequena está formada, me posiciono atrás de um casal respirando fundo mais cansada que o normal pela correria em si.

Meu celular vibra no bolso, pego o mesmo sentindo minhas mãos trêmulas e a vista meio embaçada.

Ok, acho que a pressão baixou um pouco.

Me abaixo me segurando em uma das malas em uma tentativa de me acalmar e controlar a frequência respiratória, facilitando com que o oxigênio circule melhor.

Teto preto, é exatamente isso que começo a ter.

— Moça, você tá bem? — A voz de uma mulher surge, e pela resta da cor da blusa percebo que é a mesma que até então estava a minha frente.

— Não... — Respondo negando com a cabeça começando a sentir a sensação de pré-desmaio. — Acho que a minha pressão baixou.

Era só o que me faltava, passar mal bem no meio do aeroporto e perder o bendito voo.

— Calma... Vou chamar alguém. — Me dou por vencida e sento de vez no chão.

É questão de minutos para que um guarda se aproxime com uma cadeira de rodas e me direcione até a enfermaria. A médica de plantão se apresenta, e faz todo o procedimento de rotina, e isso inclui a série de perguntas.

— A senhora se alimentou hoje? — Inspiro fundo mordendo o lábio inferior.

— Sim, mas já faz um tempo. ­— Sorrio sem mostrar os dentes.

— Quando foi a sua última refeição? — Passo a mão na testa tentando focar o olhar nela.

— Ás onze da manhã. — Sorrindo fraco ela anota algumas coisas no papel. — Acho que foi a correria mesmo.

— Tem alguma possibilidade da senhora estar grávida? — Pisco umas duas vezes processando a pergunta.

É quando me dou conta que a minha menstruação já deveria ter descido, já que só posso retornar para repor o diu depois de ter feito o teste de gravidez e o resultado ser negativo, mas pra isso precisei esperar a minha taxa hormonal regularizar.

Meu Deus...

Será?

— Quer fazer um teste agora? ... Vamos precisar refazer o de Covid, por protocolo, se a senhora desejar, já fazemos o Beta agora mesmo.

Sou incapaz de falar qualquer coisa.

Quando que eu imaginei que estaria prestes a fazer um teste de gravidez dentro de um aeroporto com o Filipe do outro lado do mundo, como eu vou lidar com isso agora, sozinha sem surtar?

Ok, preciso respirar...

— Acho que não tenho muita escolha, uma hora vou ter que fazer mesmo, né? — Afundo na cadeira, e ela entrega um papel a enfermeira, minutos depois a mesma vem puncionar minha veia e fazer o teste de covid.

— Daqui a pouquinho o resultado do beta fica pronto. Pode ficar tranquila que o voo da senhora atrasou e provavelmente só sairá depois que a senhora for liberada. — A escuto falar de forma simpática antes de sair da sala e me deixar sozinha perdida com uma bola de neve se formando na minha mente.

Batem na porta e vejo a mesma médica surgir com um lanche na mão, mas só basta o cheiro invadir o ambiente para que meu estômago embrulhe obrigando a correr em direção ao banheiro colocando tudo o que não tenho pra fora.

E se for só a ansiedade?

Ae Jesus, eu vou surtar.

Não consigo acreditar que provavelmente posso estar carregando a mais nova versão do Filipe dentro de mim.

ContramãoOnde histórias criam vida. Descubra agora