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Estava terminando de arrumar minhas coisas pra sair de casa e ir pro trabalho quando o Filipe saiu do banheiro todo molhado me abraçando por trás, me molhando toda.

— Cara, você é muito abusado. Olha minha roupa, Filipe ... — Tento me soltar dele que só da risada na curva do meu pescoço enquanto mantém as mãos na minha cintura.

— Ae, tu tá ligada que hoje minha mãe vai fazer um jantar pra gente, né? — Solto o carregador dentro da bolsa olhando pra ele.

Pois é, eu tinha esquecido.

— Tu esqueceu, mermo? — Faço bico ouvindo ele bufar.

— Desculpa, essa semana foi um caos no hospital. — Sem falar nada ele só confirma com a cabeça enquanto veste a bermuda.

— Jáe, se der pra tu me passa a visão que eu vou te buscar. — Suspiro já sabendo que o clima ficou uma merda.

— A gente não vai discutir por isso, a essa hora da manhã, né? — Me ignorando totalmente ele senta na ponta da cama focando no celular. — Filipe? — O chamo mais uma vez que finalmente tira os olhos do aparelho em mãos e me olha contrariado.

— Vou ficar batendo na mesma tecla não, Manuella. Tem criança aqui não, tu sabe o que é prioridade pra tua vida ou não.

Respiro fundo me dando por encerrado do assunto sabendo que se levar a diante a confusão vai ser certa.

— Eu te ligo, não tô de vinte quatro hoje. — Sem receber resposta termino de fazer o que preciso. Decidindo deixar pra comer alguma coisa no hospital, sento pra calçar o tênis enquanto ele fala com alguém no celular ao mesmo tempo que joga a camisa no ombro, pega as chaves do carro e de casa junto com a carteira.

Já pronta decido dar uma última olhada no espelho apertando o rabo de cavalo que tinha feito, quando volto pra finalmente pegar minhas coisas e sair de casa o encontro parado na porta me olhando de lado.

— Terminou? — Arqueio a sobrancelha pegando minhas chaves. — Bora... — Aponta com a cabeça o elevador que ele já tinha chamado.

Jogo minha bolso no ombro e passo por ele que tranca a porta.

Dentro do elevador o silêncio permanece, até que chegamos no estacionamento e ele destrava o carro. Entro quieta no banco do passageiro e ele no motorista, já fechando a porta e dando a ré.

— O Théo vai vim quando pra cá? — Decido por fim falar quando o vejo buzinar pro porteiro depois de abaixar o vidro e dar bom dia.

— Ele vai voltar comigo hoje, tá com minha mãe. — Sua voz sai mais firme que antes, enquanto a carranca tá lá estampada na cara.

Desisto de tentar selar a paz e foco minha atenção nas mensagens não respondidas, a primeira que abro é da minha chefe, o que me faz estranhar.

Cátia: Bom dia, Manu. Assim que chegar dá logo uma passada aqui na diretoria, não precisa se preocupar em bater o ponto.

Manuella: Bom dia, Cátia. Certo, já estou a caminho!

Sinto meu estômago embrulhar, e eu já não consigo mais me concentrar em nada. É meu povo, esse é o dilema de quem sofre de ansiedade.

Me mexo no banco colocando a mão no peito, sei que o meu movimento fez o Filipe me olhar, porém, me mantenho quieta.

Chegando no estacionamento do hospital tiro o cinto de segurança quando ele para o carro mais afastado da entrada, me estico pegando minhas coisas no banco de trás.

— O que tá pegando? — Sua voz surge antes que eu possa sair do carro.

Olho em seus olhos vendo sua testa enrugada.

ContramãoOnde histórias criam vida. Descubra agora