Me apresso a sair dali assim que o Flávio me ver.
A Steff percebe meu desconforto e se senta do meu lado.
Suspiro roubando um pão de alho do prato do Matheus que me olha com cara feia.
— O Ret desaprendeu a sorrir? Tá maior cota sem mostrar os dentes — Escuto ele falar de boca cheia olhando pra nós duas. — Quem vai tomar no cú depois, é quem?
Reviro os olhos bebendo do meu whisky.
— É impressão minha, ou essa é a mesma menina do show? — Escuto a Steff sussurrar pra ele enquanto os dois conversam como se eu não estivesse presente.
— Eu sei de nada não. — Olho de canto de olho pra cara de pau dele que nem disfarça. Entregando na cara que sabe muito bem do que tá rolando.
Sinto uma mão nas minhas costas me fazendo olhar pra trás encontrando o Flávio que se abaixa beijando minha testa.
— Tá de boa? — Confirmo sorrindo esticando a mão e fazendo carinho no braço dele. — Quero ver as fotos.
A Steff olha pra ele que dar risada em deboche.
— Qual foi? Posso não? — O Matheus levanta a mão negando com o dedo me fazendo rir. — Ou, come teu bagulho quieto ae.
— Já te falei que aqui tu não consegue nem escanteio, quem dirá meter a bola dentro. — Fala fazendo a gente gargalhar, olho pro Flávio que balança a cabeça me chamando.
— Já volto. — Sussurro pra Steff que confirma em resposta entrando em um assunto com o Matheus logo em seguida.
Acompanho ele adentrando a casa chegando na varanda do andar de cima, onde a vista é voltada para a piscina. Passo os olhos pelo lugar antes de me virar o encontrando mexendo no celular sentando em uma das cadeiras que tem ali.
— Vim só te avisar que vou trocar um papo com ret. — Cruzo os braços olhando pra ele que larga o celular passando a mão no rosto. — Tá de boa pra tu?
Passo a língua entre os lábios olhando pro chão.
— Não sei, Flávio. — Suspiro. — E eu não quero pensar em nada disso hoje, de verdade. — Respiro fundo olhando pra cima.
— Jaé! Curte ae tua noite, deixa essas paradas entrar na tua mente não. — Confirmo com a cabeça me levantando. — Tuas coisas tá la em casa, tu vai voltar comigo ou vai pra casa da Steff?
Me aproximo do parapeito olhando pra baixo focando na roda dos meninos, percebendo de relance a loira que estava com o Filipe me observando.
Sustento o olhar por um tempo, até que ela sai do meu campo de visão.
— Vou voltar com a Steff, fiquei de dormir lá hoje. — Levo o copo até a boca bebendo o resto do líquido que restou.
Ele se aproxima parando do meu lado olhando na mesma direção que a minha.
O Cabelinho acena lá de baixo levantando uma garrafa de tequila.
Faço careta acenando com a mão de volta mandando ele esperar.
— Vou descer, vai ficar ae? — Me viro vendo ele negar com a cabeça me seguindo.
Descendo as escadas acabo batendo de frente com o Filipe que tá saindo do banheiro, seus olhos mudam de mim pra quem vem logo atrás.
Prendo o ar na garganta engolindo seco.
— Ae Ret, posso trocar uma ideia contigo? — A voz do Flávio chamam sua atenção.
Devagar vejo quando seus olhos voltam novamente pra mim, encarando os meus
Consigo perceber seu maxilar sendo travado e a frieza em seu rosto,o que me faz arrepiar.
Suas expressões se tornam ilegível, me deixando apreensiva.Soprando a fumaça do baseado ele desce os olhos por todo meu corpo antes de falar.
— Adianta. — O timbre da sua voz soa mais grossa que o normal.
Tento passar mas ele para bem na minha frente me impedindo.
Respiro fundo levantando o olhar devagar encontrando a íris dos seus olhos mais claros que o normal.
— Não sou eu que quero falar com você. — Falo pausadamente erguendo o queixo sentindo seu perfume tão perto.
Minhas palpébras me desobedecem me levando a piscar algumas vezes fraquejando. — Sai da minha frente, Filipe.
— Não tem nada pra falar comigo? — Rebate calmamente dando um sorriso fraco levando a mão a boca ao mesmo tempo em que balança a cabeça tentando me intimidar. — Logo você, Manuella? — Estreita os olhos. — Que presou tanto pela porra da sinceridade.
Enrugo a testa erguendo o queixo.
— Nossa ... — Faço bico juntando as mãos. — Falou o homem mais transparente e sincero da face da terra. — Balanço a cabeça sorrindo forçadamente. — Quanta hipocrisia, né Filipe?
— Vai Manuella, volta pra festa. — Escuto a voz do Flávio atrás de mim.
Não respondo, não me mexo e nem desvio meus olhos de quem está a minha frente. Foco em todos os traços do seu rosto, a barba por fazer, o canto do olho puxado, os movimentos que seu peito faz enquanto respira. Levando o baseado até a boca mais uma vez me olhando, ele solta a fumaça de uma forma extremamente lenta.
— A gente ainda vai conversar. — Rebate virando a cabeça.
Com o coração acelerado me causando extremas palpitações vejo ele dá um passo para o lado me permitindo passar.
Mas é só quando eu chego do lado de fora que consigo soltar todo o ar que estava preso dentro de mim, minhas mãos tremem e pela primeira vez a minha vontade é de voltar lá e distribuir tapas em cima dele, só pra ver se isso aliviava a sensação fudida que me invade agora.
O cheiro
O toque.
Os olhos.
As lembranças vem...
— Que merda... Que merda! — Sussurro afastando os pensamentos tentando voltar em si.
A intenção é beber pra esquecer dessas merdas toda, mas parece que quanto mais álcool entra, mais a saudade cresce me causando uma constante luta interna.
Caminho até os meninos pegando o shot da mão do Xamã que me olha assustado.
Viro de uma vez vendo o Victor dar risada.
— Agora ela entrou pro jogo, porraaaa... — Levanta os braços me fazendo levantar o dedo do meio pra ele ouvindo os meninos dar risada.
— Vou tomar conta de bebâdo, não viu. — O Dallas grita do lado do L7 e eu mostro a língua pra ele em resposta.
Hoje eu não quero saber do que foi conversado entre os dois, enquanto eu puder ignorar toda essa situação, é o que eu vou fazer.
Dez minutos depois vejo a camisa vermelha passar do meu lado, pelo canto do olho assisto ele sair acompanhado da mesma garota indo embora da festa.
E por mais que eu tentasse negar a mim mesma que aquilo não me atingiu, estaria mentindo.
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Contramão
FanfictionEu te proponho o que há de bom, aquela melhor onda Hoje eu quero te ver, então me diz onde você tá ...