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Acordo cedo decidida a fazer o que preciso, acabou que sai da casa do Flávio e ele ainda tava apagado de ontem, a primeira coisa que fiz ao entrar no uber foi meter um óculos escuro tentando lidar com a ressaca moral e a dor de cabeça infernal de brinde.

Olho meu relógio mexendo os anéis entre os dedos, a cada esquina que se aproxima tenho a sensação de estar voltando no tempo prestes a viver aquele dia tudo de novo. O misto de sensações me envolve, levo a mão ao peito puxando o ar sem saber ao certo o que me espera.

Engulo seco assim que o carro para e o motorista encerra a corrida, olho o portão a minha frente criando coragem de descer e enfrentar seja lá o que estar por vim.

Aperto a campainha duas vezes seguida e me viro esperando.

Passo o olhar pela rua que cresci, tudo continua do mesmo jeito que antes, me tendo a certeza que na verdade quem mudou nesse tempo, fui eu.

Mais a frente o bar do Jorge onde algum dos amigos do Matheus se juntam pra jogar sinuca, meu olhar percorre a rua toda até ouvir o portão sendo aberto, o que me faz virar encontrando minha mãe parada me olhando surpresa.

Olho um tempo pra ela percebendo que o cabelo tá maior e a armação do óculos mudou.

Ergo o queixo dando dois passos a frente.

— Fiquei sabendo que você quer conversar comigo. — Me limito cortando nosso contato visual.

É a primeira vez que ficamos cara a cara desde que tudo aconteceu, e de verdade? Eu não consigo distinguir o que de fato sinto, de tudo que me percorre, percebo que o sentimento de decepção ainda queima dentro de mim.

Me olhando dos pés a cabeça ela abre totalmente o portão abrindo passagem.

Crio coragem e passo por ela observando tudo cautelosamente, espero por ela que fecha novamente o portão de chave e passa na minha frente.

— Achei que o Matheus não falaria. — Tiro os óculos assim que chegamos na sala.

Os moveis foram mudados de lugar, a televisão não é mais a mesma e como um estralo na mente lembro que foi o Filipe que repôs o estrago daquele dia.

Minha boca seca e eu resolvo sentar em uma das poltronas mais afastada.

— Você quer água, alguma coisa? — Escuto ela dizer, olho pela primeira vez diretamente em seus olhos e nego com a cabeça.

— Tô aqui pra ouvir o que você tem a dizer ... — Passo a mão na testa enxugando o suor. — Não quero prolongar muito.

Não, eu não consigo agir naturalmente quando algo ainda me machuca, como é o caso.

É estranho estar aqui de novo e lembrar de como sair destruída com as palavras que foram direcionadas a mim sem qualquer tipo de remorso.

— Fiquei sabendo tudo que aconteceu, e eu quero muito pedir desculpa ... — Sussurra enquanto me mantenho de cabeça baixa mexendo nas unhas. — Eu sei que errei, filha. Que eu não deveria ter agido como agir ...

Confirmo com a cabeça sem falar nada.

— Eu sei que falei muita coisa pra você, pro Filipe. Mas a cena que eu vivi aqui quando cheguei e vi tudo quebrado ... — Levanta andando de um lado para o outro. — Eu fiquei assustada, nunca tinha vivenciado aquilo, Manuella. Logo eu que fiz de tudo pra criar você e seu irmão longe das coisas erradas, me deparar com a policia invadindo a minha casa com o mandato de busca e apreensão por tráfico de drogas onde o seu namorado estava envolvido. Eu nem conhecia o Filipe direito...

Sorrio negando com a cabeça.

— Mas você me conhecia, esse era o ponto principal mãe. — Levanto a cabeça olhando seus movimentos. — Você sabia que eu não colocaria tudo a perder assim, que isso nunca fez parte do que eu aceito pra minha vida e mesmo assim você preferiu agir pelo seus achismos sem nem se quer me dar o direito da dúvida.

ContramãoOnde histórias criam vida. Descubra agora