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Manuella°

Eu sempre quis ser a pessoa que em meio ao caos soubesse controlar a frequência respiratória, entender a situação que de fato se acontece para tentar ter controle sobre o que está diante de mim, afinal, é isso que a minha profissão exige da minha parte.

Autocontrole, confiança e excelência.

Não é atoa que a maioria das pessoas que me conhecem me chamam de insensível, por conseguir inibir indícios de desespero que o meu sistema nervoso possa tentar impulsionar o meu corpo a ter.

E eu sabia exatamente que toda essa situação com o Filipe não ficaria por isso mesmo, a calmaria que recaiu sobre mim depois que entramos no quarto me fez duvidar de algo que até então, fugia do meu conhecimento.

É exatamente assim que acontece com um dos fenômenos mais desastrosos da natureza, as temidas tsunami.

A primeira onda vem causando estragos, e logo em seguida, surge o período de uma incerta calmaria, onde os sobreviventes se dão por seguros, sem de fato saber que uma segunda onda está a por vim, sendo essa, bem mais devastadora que a primeira, levando consigo qualquer resquício de uma esperança gerada prematuramente há minutos atrás.

E ela chega, sem aviso prévio

Mostrando que o controle nunca esteve em suas mãos.

Sentada no chão do quarto terminei de guardar minhas roupas fechando a mala e colocando-a do lado da do Filipe qual havia organizado primeiro.

Levantei me jogando na cama ouvindo o barulho do chuveiro aberto o que me deu tempo de pegar o celular e mandar mensagens para o Matheus, minha mãe e o pessoal do hospital, já que não posso ficar sem contato direto com eles.

Enquanto rolava o feed do instagram que decidi abrir a alguns dias atrás já que a maioria dos meninos que convivem com o Filipe resolveram me seguir, escuto batidas na porta o que me faz levantar encontrando o Dallas com o Théo apagado no colo e a Steff do lado segurando as coisinhas dele.

— Ja íamos descer. — Falo dando espaço pra que eles entrem.

— Ele tava pedindo pra ficar com vocês, mas acabou vencido pelo sono. — Escuto minha amiga falar enquanto caminho até a cama onde o Dallas coloca o pequeno ao mesmo tempo em que começo a separar os travesseiros ao redor, só pra evitar que ele acabe caindo.

—  Cadê o ret? — Olho pro homem a minha frente com o rosto vermelho do sol.

— Tá no banho.  — Pego o controle do ar diminuindo a temperatura deixando o quarto geladinho, pego as coisas que a Steff me entrega e coloco em cima da mesinha.

— Ele já tomou banho, mas acho que vai acordar com fome. Não quis comer muito. — Confirmo com a cabeça ouvindo ela falar e chamo eles pra varanda enquanto pego meu celular vendo que o relógio marca quase três da tarde.

— Sei nem como agradecer a vocês, sei que não sou mãe dele mas me sinto na obrigação de dar toda atenção, porém, não tinha mesmo como deixar o Filipe ir até a delegacia sozinho. — Suspiro me sentando do lado da Steff em uma das cadeiras que tinha aqui do lado de fora, enquanto o Dallas resolveu ficar em pé perto do parapeito.

— Tem que agradecer nada não, pô. O moleque é tranquilão, garanto que dá menos trabalho que o pai. — Ele fala me fazendo rir fraco.

— Levaram muita coisa, amiga?— Olho pra ela de canto enquanto o vento bagunça meu cabelo o que me faz prende-lo em um coque.

— Daqui levaram nossos celulares, um notebook do Filipe com alguns pendrives, sedas, cigarros e a quantidade de maconha que ele trouxe mas que já não tinha quase nada. Agora vocês precisavam ver a zona que ficou aqui, cara. Fiquei cega quando vi um daqueles babaca abrindo minha mala e jogando minhas coisas no chão, ainda bem que não me formei em direito, caso contrário essa hora já tinha descido pra bangu por desacato. — Nego com a cabeça irritada.

ContramãoOnde histórias criam vida. Descubra agora