Agoge - Contos Escarmom

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Sejam bem vindos aos Contos Escarmom, aquele que quase.... destruiu o mundo. Sem ele não haveria Neron ou todas as histórias que já vimos.

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222 a.0

Era noite, sem lua ou estrelas, apenas a escuridão eterna e faminta fazia presença no templo erguido no alto das montanhas gregas, onde sozinha uma sacerdotisa conhecida por ter poderes mágicos e capacidades de previsões do futuro ao olhar as estrelas, dava a luz sozinha ao seu primeiro filho. Fruto esse gerado de um ato de estupro feito por um dos generais de esperta, que sempre desejou a sacerdotisa que nunca o quis, até que a roubou usando a força.

Com essa mesma força agora ela usava para empurrar para fora a criança que nunca havia desejado, que não passava da lembrava de um ato doloroso. Sobre a pedra fria do altar do templo, coberto apenas por finos tecidos, a mulher gritava de dor tentando empurrar a criança para fora de seu ventre.

Não conseguia se concentrar em sua respiração, com o corpo inteiro molhado de suor e as veias de seu pescoço e testa dilatadas pela força extrema que fazia, ela com um último grito conseguiu empurrar a criança para fora de si.

A criança não chorou ou emitiu qualquer som, mas respirava e seu coração batia, então estava viva, constatou a sacerdotisa que o enrolou em seu próprio vestido, limpando o sangue que cobria a pele fina e acidentada do recém nascido.

-Você não vai morrer. Eu o proibo de morrer. -Dizia a mulher com dificuldade e ainda ofegante por conta do parto. -Precisa se vingar do que fizeram comigo, precisa se vingar deste mundo inteiro que sempre me humilhou e me negou ajuda.

A sacerdotisa que foi acolhida pelos líderes religiosos do templo grego, frequentado principalmente pelos líderes de esperta que buscavam respostas e revelações que os ajudassem a vencer as guerras sangrentas que travavam. Os religiosos perceberam os poderes da mandinga encontrada na sarjeta de Atenas e a levaram para seu templo, lhe dando roupas e comida apenas para que fosse usada como uma ferramenta enviada por seus deuses. Ela não sabia que era uma feiticeira, portanto nunca treinou seus poderes além do que lhe era permitido, não sabendo assim até aonde eram capazes de ir. Magia sem controle era o maior perigo que podia existir naquela época.

-Seu nome será Escarmom. -Disse a mãe para seu filho. -Porque você irá representar todo o Escárnio que sinto por esse mundo, todo o desprezo e zombaria que me fizeram passar. Você irá devolver tudo em triplo.

A mulher mal sabia o poder que aquelas palavras possuíam, trazendo um mal muito maior do que ela sequer havia imaginado conjurar. Com suas palavras imbuídas com toda a magia que possuía, ela terminou de evocar sua maldição.

-Eu o amaldiçoo. Você se tornará aquele que irá destruir esse mundo, que o mergulhará em sombras e caos. Vingue-se por mim meu filho.

Trovões torrenciais marcaram a conclusão da maldição rogada, assim como o último suspiro da sacerdotisa que morreu por conta das complicações em seu parto, deixando a criança em silêncio ainda abraçada por seu corpo. Foi assim que ele foi encontrado pelos monges do templo que o olharam com o mesmo escárnio que sentiam por sua mãe.

-O que faremos com eles? -Perguntou um dos monges do templo para o sacerdote chefe.

-Livrem-se de ambos. Ela não nos serve de mais nada. Nem mesmo era tão boa assim, podemos colocar qualquer outra moça bonita no lugar dela como oráculo, e a fazer dizer o que queremos que diga. Duvido que os espartanos duvidem das palavras de uma bela mulher.

-Joguem-nos no poço de Apothetas! -Ordenou outro ancião para que os serviçais assim o fizessem.

O poço de apothetas era um local onde recém nascidos considerados defeituosos eram jogados. Crianças já nascidas mortas por conta para precariedade da saúde e dos partos, assim como aquelas que aparentavam deformidades ou doenças; todos aqueles que seriam futuramente considerados inúteis ao exército ou a sociedade.

Contos - O Corvo e o LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora