Seja Uma Criancinha Forte - Contos Arina

188 28 115
                                    

Londres - 1888

Boa leitura 🌺🌺🌺

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Boa leitura 🌺🌺🌺

A grande Londres com seus belos pontos turísticos e bailes luxuosos que viravam a noite onde só apenas a mais alta sociedade podia frequentar, sempre bem vestidos com tecidos caros e mulheres carregando jóias valiosas consigo. Possuindo vários restaurantes finos e teatros onde peças renomadas eram imortalizadas na histórias e pessoas emocionadas. Porém tamanha beleza e ostentação era apenas uma fachada, algo que poucos tinham acesso, um grande muro de desigualdade separava a cidade em duas.

A parte bela e luxuosa capaz de proporcionar inúmeros prazeres era restrita a apenas aqueles que podiam pagar por tudo de bom que a vida possuía. Como grandes aristocratas e donos de fabricas e empresas, incluindo o clero e artistas famosos, andavam pelas ruas de pedra com o nariz em pé, se apoiando em suas bengalas de ébano e mogno, além de seus ternos e sobretudos costurados a mão pelos melhores alfaiates da gran Bretanha. Comprimentavão seus iguais com um leve toque em suas altas cartolas e pequenos chapéus coco, todos símbolos de status social elevado, assim como seus bigodes encaracolados. As esposas desses homens bem sucedidos não passavam de troféus enfeitados com vestidos de grife, jóias caríssimas e muita maquiagem. Não passavam de uma embalagem bonita pois por dentro choravam lágrimas de sangue, afundadas em sua própria depressão ao serem abandonadas pelos maridos, presas dentro de suas grandes mansões e carroagens de luxo.

Todas essas pessoas privilegiadas pouco se importavam com o que estava do outro lado do muro, uma parte da cidade excluída de todos esses benefícios, onde mendigos e bêbados se amontoavam pelas ruas e calçadas se misturando ao lixo, como se fossem o próprio lixo descartado da sociedade. Pessoas que aqueles de nariz em pé apenas ignoravam.

Aqueles que abriam seus olhos para enxergar a verdadeira Londres, não viam nada além de desigualdade e sujeira. Os prédios eram sujos, as ruas eram sujas, as pessoas eram sujas e usavam roupas velhas e rasgadas, era fácil distinguir aqueles com poder daqueles que eram meros cidadãos comuns, que trabalham dia após dia como escravos, para que aqueles que estavam acima deles não precisassem trabalhar ou derramar uma gota de suor. A própria cidade parecia entristecida, eram raros os dias de sol, sempre cobertos por densas nuvens cinzas de poluição, vindo das grandes fabricas que poluíam o ar e a água sem menor cuidado, poluição essa que ficava empregnada nos prédios como uma crosta de sujeira.

Era em meio a essa parte marginalizada que Arina fazia o possível para sobreviver. Agora estava com oito anos, já havia se passado um ano desde o incêndio no orfanato em que todos aqueles que considerava como família haviam morrido. O incêndio tinha sido noticiado por todos os jornais de Londres, sempre com o mesmo equívoco que não haviam tido sobreviventes.

Por semanas depois daquele dia traumático Arina ficou vivendo na mesma floresta para aonde tinha fugido, se alimentando de frutas e flores que cresciam ao seu redor, se escondendo da noite e da chuva em uma espécie de abrigo fornecido pela própria floresta, estrelaçando as raízes e galhos das árvores e a cobrindo com videiras e musgos. Uma casinha não muito diferente de quando brincava com suas irmãs do orfanato, onde juntavam cobertas, lençóis e outros panos velhos para criarem barracas. Era ali deitada sobre um colchão de flores que Arina descasca sozinha, se recuperando do trauma até que parasse de chorar todas as noites.

Contos - O Corvo e o LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora