Olhos Estranhos - Contos Karasu

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Já vote na estrelinha para não esquecer ⭐

Boa leitura 📚

Existem aqueles que nascem para colocar um fim em grandes injustiças, para mudar a curso atual da história, esses são chamados de heróis e dificilmente conseguem lutar contra o prólogo que foi escrito por mim em suas vidas, por mais que tomem os c...

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Existem aqueles que nascem para colocar um fim em grandes injustiças, para mudar a curso atual da história, esses são chamados de heróis e dificilmente conseguem lutar contra o prólogo que foi escrito por mim em suas vidas, por mais que tomem os caminhos mais tortuosos, sempre serão levados ao mesmo ponto onde suas decisões possuem um impacto muito maior do que acreditam. No entanto Karasu estava longe de ser chamado de herói, era apenas um meio que justificaria um fim.

A vida era boa e gentil com Karasu, vivendo em uma pequena província do império japonês. Os dias eram quentes e cheios de vida e as noites tranquilas e estreladas.

-Vamos para casa Karasu, já enchemos todos os cestos. Não podemos ser muito gananciosos com a natureza para que ela também não seja gananciosa conosco.

-Tá bom okaasan. -Respondeu o jovem de dez anos, colocando sob as costas um grande cesto de bambu carregado de arroz recém colhido.

Karasu tinha dez anos naquela época e todos os dias trabalhava no plantio e colheita nos campos alagados de arroz, sempre acompanhado de sua mãe Naomi, uma mulher muito jovem e bela porém castigada pelo trabalho no campo. Karasu via sua mãe como a mulher mais bela da província, porém ela mesma não se via assim, era como se quisesse esconder o quão bela era, ou talvez fosse um pouco egoísta e quisesse guardar sua beleza apenas para si, algo que Karasu não via como um grande pecado. Seu rosto em formato de coração e olhos bem puxados como se mal fossem abertos, eram escondidos por longas e grossas mechas de cabelo negro, sempre vestida com tradicionais roupas japonesas, tão volumosas que nem mesmo davam para perceber se era gorda ou magra, por conta grandes camadas de tecido.

Assim como sua mãe Karasu havia herdado um abundante cabelo negro, mas escuro do que as penas de corvo e por isso esse nome foi dado a ele, em homenagem também aos grandes corvos que todos acreditavam que protegiam a vila de inimigos vindos de fora, como se fossem guardiões espirituais. Ele deixava seu cabelo crescer e o prendia em um coque tradicional, sem que nenhum fio ficasse fora do lugar; não gostava de fios de cabelo fazendo cócegas em seu rosto.

No entanto apenas o cabelo e a pele naturalmente pálida mesmo trabalhando debaixo do sol, que Karasu havia herdado de sua mãe, pois não possuía olhos puxados, muito pelo contrário seus olhos eram bem abertos e com longos cílios curvados, o que o diferenciavam facilmente dos moradores da província, nunca tinha visto alguém que tivesse os mesmos olhos que os seus. Já que não conhecia seu pai, a única opção que lhe restava imaginar era que seus olhos abertos e estranhos vinham dele, seja lá quem fosse.

-Karasu não deixe seu hakama molhar. -Pedia Naomi enquanto caminhavam sob os campos alagados de arroz. Ambos prendiam seus hakama, uma espécie de calça longa e muito larga, um pouco acima dos joelhos, amarrando com uma corda grossa.

A caminhada de volta para casa era muito longa, demoravam entorno de duas horas andando mas já estavam acostumados com esse estilo de vida. Sempre se protegendo do sol árduo do fim do dia com grandes chapéus de bambu circular, que criavam uma sobra sob todo o corpo. Durante todo esse tempo eles ficavam em silêncio, parando apenas para cumprimentar com uma pequena reverência os outros agricultores e moradores da província. A maioria eram idosos, crianças e mulheres, os homens haviam sido chamados para lutarem na guerra em nome do imperador, dono de todas as terras do Japão. Karasu mesmo sendo uma jovem criança achava aquilo uma grande injustiça, mas naquela idade não tinha muito o que pudesse fazer.

Contos - O Corvo e o LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora