Contos - O Corvo e o Lobo

Garoto Encrenca - Contos Karasu

Não se esqueçam da estrelinha ⭐

Boa leitura 📚

O jovem Karasu havia iniciado um treino rigoroso na floresta, para que cumprisse a promessa que fez a sua mãe. Sem que ela soubesse é claro, já que Naomi não ficaria nenhum pouco feliz que seu filho se arriscasse de tal forma, por isso Karasu escontedeu esse detalhe dela, inventando sempre desculpas que estava indo para floresta para brincar, procurar por frutas ou nadar no lago. E sempre que voltava para casa com algum tipo de roxo em seu corpo ou aranhão, dizia simplesmente que havia escorregado nas pedras e caído, assim como se cortado entre os galhos. Como sabia que seu filho não parava quieto e que tinha uma certa predisposição em se machucar fazendo algo que considerava divertido como subir em árvores e saltar pelos galhos, ela acreditou na história que lhe foi contada. Afinal crianças precisam se divertir por mais que saiam arranhadas e um pouco roxas de hematomas, além que gostava de ver seu filho se divertindo e feliz, acreditava até mesmo que ele havia conseguido um amigo as escondidas, talvez até mesmo uma garota, não se surpreenderia com algo do tipo.

A verdade no entanto era diferente e menos infantilizada. Depois que voltava do trabalho com sua mãe nos campos de arroz, e durante os dias de folga que lhe restavam apenas esperar a plantação crescer. Karasu treinava todos os tipos de golpes, enfaixava seus punhos e desferia uma sessão de socos consecutivos no tronco grosso das árvores por longos minutos. Conforme seguia essa rotina, o tronco que usava para treinar ganhava uma marca permanente dos punhos de Karasu.

Porém não era só, treinava chutes também, o mais alto e forte que conseguia desferir, até que caísse exausto no chão com o corpo melado de suor; as vezes precisava de um tempo para que conseguisse mover as pernas outra vez. Treinava cambalhotas e saltos de galho em galho entre as árvores, o que seria muito útil caso precisasse de uma fuga rápida. Fora isso exercitava seu corpo com flexões, abdominais e outros, o que logo cedo já moldava seu pequeno corpo.

Naomi percebia que algo diferente estava acontecendo com seu filho, além dos ferimentos contantes, chegando uma vez a ter os dedos quebrados, algo que precisou de um tempo para que pudesse tratar. Até mesmo no trabalho Karasu parecia mais disposto e forte, conseguindo carregar três cestos de arroz um sobre o outro em suas costas, tudo para que ela não precisasse fazer tal esforço.

-Não se esforce demais querido. -Disse Naomi.

-Não se preocupe mama. Isso não é esforço nenhum para mim. -Respondeu mostrando os músculos que havia ganhado com muito esforço em seu braço. Nada que fosse muito surreal para um menino de onze anos.

Mas Naomi se preocupava, acreditava que toda essa mudança drástica de força, destreza e agilidade além de seus músculos endurecidos, fossem tudo obra da puberdade, acreditando que seu filho estava apenas se desenvolvendo rápido demais para sua idade. Se tornando um pequeno grande homem muito rápido, o que no fundo a entristecia pois amava seu pequeno corvo aventureiro, mas sabia também que não havia nada o que pudesse fazer, seu menininho não seria um seu menininho para sempre, suas assas estavam crescendo e não podia cortá-las.

Para o alívio de Naomi, era apenas o corpo e os atributos de Karasu que mudavam, pois sua mentalidade e gênio arteiro e inconsequente continuavam, ou melhor se desenvolviam tanto quanto o resto

Aos doze anos Karasu não sofria mais com a investida e violência dos outros garotos da vila, pelo menos não psicologicamente. Eles continuavam implicando com ele, rindo, inventando histórias mentirosas e até mesmo tentavam atacá-lo. Porém tudo era inútil pois o treinamento mostrava resultados acima das expectativas, como se tivesse um talento natural.

-Ei olhos estranhos! -Gritou um menino de cabelo esperado acompanhado de outros dois meninos da mesma idade.

Estavam armados com pedras que lançaram em Karasu assim que ele se virou. Naquele dia voltava do trabalho e trazia nas costas as cesta cheia do arroz recém colhido. Seu pensamento rápido, resultado de todas as vezes que havia escorregado e caído enquanto saltava entre os galhos, permitiu que desviasse facilmente das pedras lançadas sobre ele como uma chuva sólida, sem que perdesse a colheita daquele dia. Sua proeza ainda permitiu que ricocheteasse duas das pedras lançadas usando o cesto em suas costas, que acertaram em cheio a testa do líder daquele grupo e o peito de do segundo.