Capítulo cento e seis.

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Leonardo.

Amélia: Eu não saí da minha casa na zona sul pra ser constrangida por essa gente, Suzane, não foi pra isso que eu te criei! - bufou.

Suzane: Para com isso, mãe! - a repreendeu com o olhar.

Toda festa de Falconi que se preze, tem que ter um caô! Algumas vezes uns bem grandes, outros pouca coisa, mas sempre tem e agora não seria diferente, né? O caô da vez saiu entre a minha sogra e a minha mãe devido a um comentário que a irmã da minha sogra fez sobre morar em favela.

O pau tava rolando no banheiro feminino, tive que entrar pra segurar minha mãe, se não ela voava na minha sogra e o fim vocês sabem né? Duvido muito dona Amélia sair da Penha com vida.

Maísa: Não me interessa se vocês vieram da zona sul, da região do sul do Brasil ou do sul das profundas dos infernos, mas lhe digo com todas as letras que a gente é feliz vivendo na favela. Temos sim problemas como todos os lugares desse mundo, mas a gente é feliz aqui sim. - falou bolada - Se não fosse, não enchia de gente metida a besta como vocês todo fim de semana e muito menos sua filha teria aberto as pernas pro meu filho. - se debateu pra se soltar de mim.

Leonardo: Mãe, vamo deixar isso pra lá, por favor, mãe. - pedi, sabendo que é em vão porque a preta tá furiosa. Não dava pra arrastar ela de lá, dona Amélia que tava perto da porta, ia sair porrada.

Amélia: Ninguém com sã consciência trem uma opinião tão indecorosa quanto a sua, Maísa! Viver num lugar onde a bala voa a cada cinco minutos, não pode se dizer que vocês vivem felizes e sexo não tem nada a ver com isso. - rebateu.

Patricia: Minha filha procura se acalmar, não vamos estragar um momento tão bonito! Pelo seu neto, pelo seu filho, que coisa tão feia Maísa. - tentou acalmar minha mãe.

Maísa: Eu não vou deixar essa daí sambar em cima da gente, mãe. Minha família é cria de favela desde os tempos dos meus avós, família Carvalho Falconi nasceu na favela e a gente vale muito mais que esse tipinho de gente aí! - gesticulou, boladona.

Poderosa: Vamo acabar com a palhaçada agora! - entrou no banheiro pisando fundo.

Amélia: Não tô num circo pra estar de palhaçada, controla tua irmã que ela é que tá exaltada.

Poderosa: Ô minha senhora, cala a boca que tu já falou besteira demais e se não fosse pela tua filha carregando meu sobrinho, nós ia ter um problema lá no microondas. - abriu olhão.

Maísa: O que me conforta saber é que você vai ter que conviver conosco pro resto da sua vida, o meu neto que a Suzane tá esperando, vai ter sangue de favelado correndo nas veias e você não vai poder fazer nada. - sorriu vitoriosa.

Patrícia: Faz alguma coisa, Bárbara. - ordenou cutucando a minha tia.

De fato a briga só acabou porque minha tia levou minha mãe pra dentro de um dos banheiros, segurou ela lá enquanto dona Amélia saía de lá com as parentes dela com excessão da Suzane que me abraçou e senti meu ombro molhar. Minha vó tava dando um sermão brabão na minha mãe, sinceramente eu tava cansado dessas brigas sem sentido e ia tomar uma atitude agora mesmo.

Leonardo: Se eu te fizer um convite, tu vem comigo? - olhei pra Suzane depois de secar suas lágrimas.

Suzane: Vou, mas pra onde? - me olhou confusa.

Leonardo: Vamo embora e deixa esses caralho desses parente teu e meu se matar, pô!

Suzane: Mas e a festa? Deixar os convidados é falta de consideração, a gente gastou tanto pra fazer esse momento especial.

Leonardo: Dinheiro vai e vem, loirão, tu acha que alguém aqui tem consideração com nós? Se tivesse, isso nem tinha acontecido! Eu vou pegar o exame com o resultado lá com a Vitória, vou dar o papo no meu pai e nós vamo embora no sapatinho, tá bom? - olhei pra ela sério, ela só concordou.

Fiz o que tinha que fazer, dei um papo no meu pai rapidamente sobre o que tinha acontecido, peguei o exame com a Vitória, peguei Suzane, botei no carro e nós meteu o pé de lá. Coloquei meu celular na mão dela, mandei logo desligar o meu e o dela pra ninguém perturbar e peguei estrada.

Suzane: Tá, mas tu não me falou pra onde a gente tá indo. - falou quando percebeu que eu tinha pegado a Dutra.

Leonardo: Nós vamo descer pro Guarujá, segunda feira nós volta a tarde. - falei tranquilo.

Suzane: Tá doido? - abriu olhão, segurou meu braço - Não trouxe nem roupa pra isso, Léo.

Leonardo: Ué, tem loja lá e dinheiro nós tem, cartão tá sem limite, princesa.

Suzane: Tu é muito doido, nego e onde é que nós vamos dormir? Embaixo da ponte?

Leonardo: Confia em mim, loirão, vou te levar pro paraíso! Melhor que se estressar com essas porra.

Suzane.

Eu não queria que a festa que eu planejei com tanto amor terminasse assim, mas por trás de mim e do Léo há dois mundos completamente diferentes. Têm sido uma loucura desde que eu descobri que estava grávida, minha mãe reagiu mal também, falou horrores do Léo e a dona Maísa também não poupou palavras pra falar o que pensava sobre.

Mas não tem mais nada que se possa fazer, eu tô grávida, Leonardo e eu estamos cada dia mais juntinhos, apaixonados mesmo e decididos a ficarmos juntos independente do que as nossas famílias acham.

Saí da Penha muito abalada, nervosa, mas o Léo me acalmou enquanto a gente vinha parar no Guarujá. A gente se hospedou num hotel que foi da tia da bisavô do Léo e decidimos ir jantar e depois nós íamos pra praia. Estava uma noite bonita e a gente ia descobrir juntos e em frente ao mar se seríamos pais de uma menina ou de um menino.

Leonardo: Queria te pedir desculpa. - quebrou o silêncio enquanto a gente comia.

Suzane: Desculpa, por quê? - o olhei sem entender.

Leonardo: Por tudo isso que aconteceu, amor, pelo que vem acontecendo, principalmente pela língua da minha mãe. Não era assim que eu queria que as coisas acontecessem, nosso fi… - o interrompi colocando meu dedo indicador em seu lábio.

Suzane: O que aconteceu no Rio de Janeiro, fica no Rio de Janeiro, meu amor. A gente sabia que ficar junto, não ia ser fácil pela maneira que aconteceu e sabia da possibilidade de que ia dar bem ruim juntar minha família e a sua. A família não, a minha mãe e a sua! - sorri sem mostrar os dentes - Mas a gente tá aqui, tá junto não tá?

Leonardo: Tá, loira, mas é do nosso filho que a gente tava falando, falta de respeito, pô. - segurou minha mão e fez carinho na mesma.

Suzane: Depois desse nosso perdido, duvido muito se as duas não vão sossegar! Vamos aproveitar, a noite hoje é uma criança, meu nego.

Leonardo: Nós tamo de boa?

Suzane: Claro que sim, tá pensando em terminar é? Come e vamo dormir que amanhã é outro dia.

Leonardo: Engraçadinha, só se livra de mim quando eu morrer e eu ainda venho te buscar.

Suzane: Atá. - dei risada do jeitinho que ele falou.

Matei minha fome de leoa na janta, Léo pagou a conta e a gente foi pra praia. Tudo muito lindo, iluminado, ainda perturbei por um espetinho de coração de galinha porque eu vi e deu desejo, acontece. A gente sentou na areia, ele abriu o envelope e juntos nós fomos ler a conclusão que estava escrita.

Leonardo: É menino, porra. - falou todo empolgado, sorriso ia de orelha a orelha, ele encheu minha barriga de beijo - É MENINO, MINHA LOIRA.

Suzane: AAAAAAA UM NEGUINHO IGUAL VOCÊ, MEU AMOR! - explodi de alegria, ria besta.

Meu coração até bateu mais forte, me agarrei com Leonardo lá mesmo, a gente se emocionou, começou a chorar junto, olha, duas manteigas derretidas mesmo.

Eu não poderia ter tido um momento de revelação melhor do que esse, eu estava nos braços do homem que eu escolhi pra estar ao meu lado. Foi de um jeito torto, eu sei, mas quando é pra ser, simplesmente é!

DO JEITO QUE A VIDA QUER 4Onde histórias criam vida. Descubra agora