Após receber um convite do chá revelação da prima Vívian de ver doida ao ter que reencontrar a família após anos do pior acontecimento de sua vida, ao se ver num beco sem saída ela não tem outra escolher a não ser levar seu vizinho o apresentando co...
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— Digitalizar é bem melhor, pai. Se precisar depois, acha tudo rapidinho — comentei, ainda digitando com agilidade, como quem reencontra uma antiga dança.
Passei a manhã entre planilhas, números e cálculos, e aquilo — por mais contraditório que parecesse — me trazia uma paz concreta. Como se cada linha organizada fosse um pequeno pedaço de controle num mundo sempre tão desordenado. No início da tarde, voltei para casa. Gabriel já havia almoçado.
Subi devagar. Quando entrei no quarto, ele estava ao telefone, falando baixo. Assim que me viu, desligou, jogou o celular de lado e se deitou com o braço por cima dos olhos. Não perguntei nada. Apenas escovei os dentes, troquei de roupa e fui direto para o salão.
Ali, entre o cheiro de esmalte e o som distante das conversas paralelas, me deixei cuidar. Fiz as unhas, ajeitei o cabelo, depilei tudo que precisava. Saí de lá com a pele renovada e a alma mais leve. Cheguei em casa já tarde da noite.
— Pensei que tinha saído porque estava chateada — Gabriel falou assim que passei pela sala. A luz baixa realçava suas olheiras suaves e a maneira como me observava com cautela.
— Estava no salão. Não te avisei porque quis te deixar no seu momento de reflexão — respondi, deixando a bolsa na cadeira e amarrando o cabelo.
— Tá me torturando com silêncio? — ele perguntou, sem ironia, só um certo desconcerto.
— Eu não — franzi o cenho, sincera. — Só respeitei o seu espaço. Comigo não tem essa de silêncio, não. Se eu estiver com raiva, falo mesmo.
Coloquei a touca de dormir e fui até o banheiro. Tomei um banho quente e longo, como quem quer lavar não apenas o corpo, mas também os silêncios do dia. Depois, me deitei ao lado dele.
— Quer comer alguma coisa? — perguntou com voz baixa.
— Elas me deram um lanche lá — murmurei, os olhos já fechando. Ele selou nossos lábios num beijo leve.
— Se sentir fome, me fala.
Mas foi ele quem dormiu primeiro. Eu ainda fiquei um tempo ali, enrolada no cobertor, ouvindo sua respiração tranquila. Peguei no sono sonhando que estávamos de volta ao apartamento em São Paulo — só que tudo estava fora do lugar. Caixas espalhadas, móveis trocados, como se alguém estivesse se mudando. E então, Murilo apareceu.
— Coloca a cama mais pra lá que eu quero mais espaço no quarto! — ordenava, com autoridade. — Acho melhor até trocar essa cama.
Acordei com raiva. Não dele, exatamente, mas de mim — por ter obedecido até nos meus sonhos.
Desci para a cozinha e encontrei meu pai preparando café.
— Vai quebrar a cafeteira — brincou ele, ao me ver. — Acordou estressada hoje.
— Você acredita que sonhei com o Murilo?
— É? E o que ele aprontou?
— Sonhei que eu tava no apartamento, só que parecia que alguém estava de mudança... Aí ele chegou e começou a mandar eu pôr tudo no lugar. E eu obedecendo feito boba! — peguei uma xícara e me servi. — Mandava em mim como se eu fosse filha dele.