Capítulo 45

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Alfonso

Vivi e vivo o inferno na terra.

Desde o dia em que Anahi desapareceu deixando apenas uma carta a minha vida deixou de fazer sentido e quando percebi que ela não retornaria, foi definitivamente meu fim, não tinha forças para fazer nada além do necessário, me vi em tamanho desespero que até mesmo a polícia eu acionei, pra no final ter somente Ian pedindo que qualquer investigação não fosse iniciada porque ela havia ido embora por livre e espontânea vontade.

Houveram noites em que eu não dormia esperando que ela aparecesse em meu apartamento, houveram noites em que eu quebrei muitos copos com raiva por ela ter ido embora e houveram noites em que eu chorei, porque sentia sua falta.

Ao longo dos anos eu nunca tentei preencher o vazio que sentia, pois sabia que nada do que eu fizesse o preencheria. Assisti a vida das pessoas que eu amo acontecer, assisti as pessoas que eu amo serem felizes e a minha vida estagnou, porque por mais que eu negasse, eu ainda a esperava.

- eu o avisei! - falou Miranda me assistindo chorar silenciosamente na porta do quarto que ela ocupava.

A vida passava lentamente como se me punisse por ter perdido ela, nunca foi por falta de aviso ou de indícios, hoje, depois de muito tempo entendo que não deveria tê-la tratado como tratei, que não deveria tê-la magoado como magoei, mas eu já não posso mais reparar os erros do passado, então apenas me restava carregá-los.

Meu desespero era tanto que um dia pensei em tomar uma caixa de remédios, não sei se na tentativa de não sentir ou de não viver mais, mas Miranda impediu e me consolou como uma criança em seu colo

- não adianta fazer isso, sua dor não vai passar, só o tempo irá te curar! - dizia afagando meus cabelos.

- eu não aguento mais! - foi tudo que consegui responder.

Maite veio em meu socorro esse dia, dormiu comigo, me alimentou e garantiu que estaria ao meu lado, como eu sempre estive ao seu, mas no dia seguinte me fez procurar por ajuda médica e eu tive pelo menos para conseguir dormir.

Aos poucos, tentei restabelecer a minha vida, mas em todos os momentos do dia ela estava lá, em minha memória, em meu coração, fosse no trabalho, fosse em minha corrida pelo parque, no café da manhã solitário, ao observar a cidade acordar, ela sempre estava lá é Meu Deus, como eu queria que ela estivesse fisicamente também.

Passava os dias sonhando com o momento em que a encontraria, com tudo que diria e como lhe pediria perdão, mas ao avista-la chegar a festa de casamento esqueci tudo é apenas conseguia sorrir, eu não a perderia dessa vez, não mesmo.

Virei todo o meu Wisky e caminhei em sua direção, ela procurava com os olhos por alguém e vi seu rosto florecer assim que avistou Ian, os dois sorriram um para o outro é Ian caminhou em sua direção, abraçando Anahi de forma apertada, tirando a mesma do chão, em seguida, um homem parou ao seu lado e também cumprimentou Ian animadamente e quando olhei para o seu rosto, vi o medicozinho, diferente, mas ainda era ele.

Continuei caminhando e ao me aproximar vi Maite colocar as mãos em meus ombros

- Alfonso... - chamou - é melhor não! - disse firme encarando Anahi com raiva - eu não estava de acordo com isso, que fique bem claro, mas Ian insistiu.

- Ian sabia onde ela estava esse tempo todo? - questionei encarando Maite que apenas deu de ombros

- eu não sei com relação ao paradeiro dela, mas ele havia convidado e ela não tinha confirmado até ontem! Por favor - pediu - dance comigo - chamou me puxando para a pista de dança, mas meus olhos não saiam de Anahi.

Dancei com Maite uma, duas e na terceira música já não aguentava mais

- eu não vou conseguir, Maite. Preciso falar com ela! - disse decidido

- você não precisa falar, ela quem foi embora. Você ficou, você sofreu e eu estive aqui pra enxugar suas lágrimas, não quero te ver daquela maneira novamente! - disse dura

- eu tenho a minha parcela de culpa, Mai! - falei

- nao interessa! - respondeu

- eu preciso! - disse soltando Maite e me afastando.

Voltei ao bar, tomei um copo d'água e novamente avistei Anahi, ela estava de costas e sozinha, por isso aproveitei para ir até ela, meu coração estava acelerado, mas eu passei quatro anos esperando por isso

- Anahi - chamei tocando em seu ombro desnudo e sentindo sua pele macia

- Alfonso - respondeu puxando o ombro, fazendo com que minha mão saísse de sua pele, mas me fazendo sorri levemente por ouvi-la dizer meu nome novamente.

- Quanto tempo - falei olhando para ela como quem olha para um diamante - senti sua falta! - disse sincero

- pois eu não! - disse curta e grossa

- como tem estado? Você está linda! - suspirei - tenho tanta coisa pra te dizer... - fui interrompido

- estou? Que bom. Meu marido me diz isso frequentemente! - respondeu apontando para aliança em seu dedo - olha Alfonso, eu não tenho nada pra conversar com você e eu não quero falar com você. Espero ter sido clara aqui, então não torne a me incomodar! - disse dura

- marido? - questionei - você se casou? - perguntei sentindo o baque de suas palavras

- ora - falou sorrindo - você não sabia? - gargalhou baixinho - o que foi, Alfonso? Não vá me dizer que imaginou que porque você não me quis, ninguém mais fosse querer? Ou que você esperava que eu estivesse apenas esperando te reencontrar? - disse ríspida - Você é patético!

- Anahi... - tentei falar, mas não conseguia formular nada

- tudo bem por aqui, amor? - ouvi a voz dele e levantei os olhos para encara-lo - ele está te incomodando? - perguntou acariciando o rosto dela que sorriu para ele

- de forma alguma - respondeu com um sorriso - ele apenas veio me cumprimentar e já está de saída, não é Alfonso? - me encarou deitando a cabeça para o lado em um tom debochado

- sim - respondi - com licença.

Me afastei da mesa em que Anahi estava e sem conseguir me despedir, abandonei a festa de casamento da minha irmã, porque havia sido demais para mim, de todas as formas que eu esperava encontrar Anahi, casada não era uma delas.

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