Capítulo 50

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Alfonso

Onze dias desde o encontro com ela haviam se passado, apesar de não tirá-la da cabeça e tão pouco de meu coração, não a procurei ou busquei por informações, e nesses onze dias que se passaram, deixei até mesmo de ir ao parque, passando a correr na academia que havia montado em meu apartamento para evitar qualquer tipo de encontro, não sabia se ela estava em New York, mas se tivesse, já havia entendido que eu seria a última pessoa que ela gostaria de ver, então evitei.

Após aquele encontro inesperado, voltei pra casa prometendo a mim mesmo que por mais que me doesse, talvez realmente fosse hora de arrancá-la do meu coração, sabia e reconhecia que tinha errado muito com ela, mas eu também precisava seguir com minha vida, não seria fácil, mas só me restava tentar.

Maite e Ian haviam voltado no dia anterior de viagem e ela estava em minha sala contando tudo animadamente, a aliança de ouro brilhava em seu dedo, mas não chamava mais atenção que seu sorriso

- foi ótimo, Alfonso, juro! - falou sem pausar

- fico feliz que tenha sido - disse enquanto analisava uns documentos que estavam em minha mesa - fico feliz que você esteja feliz

- já eu não posso dizer o mesmo né? - falou puxando os papéis das minhas mãos - eu só vejo você triste e tem piorado, converse comigo - pediu

- Mai, apenas me devolva os documentos - pedi

- Ela o procurou? - questionou - eu verdadeiramente espero que não - falou com raiva

- Não, ela não procurou. Acabei ajudando ela há alguns dias atrás no parque, um dia depois do seu casamento, salvo engano. Eu saí pra correr, já tinha visto ela, mas não ia abordar, ela acabou caindo e se machucando e eu ajudei, mas ao me ver, ela não gostou, me colocou pra correr - respondi com um sorriso fraco

- Mas quem ela pensa que é? O parque é público - falou em seu tom profissional pronta para processar alguém

- Deixe para lá, eu estou bem! - respondi o mais confiante possível

- Eu juro a você, que eu apenas desejo que Anahi volte para o mesmo lugar de onde veio e nunca mais se aproxime, não a tolero - falou me puxando para um abraço

.

Após a saída de Maite, tratei de me concentrar em documentos que precisavam da minha extrema atenção, já que muito em breve isso me custaria uma reunião em outro país.

Os documentos me prenderam por horas e quando dei por mim, já era tarde, meus ombros doíam, assim como minha cabeça, então me preparei para ir para casa.

Deixei minha sala observando que já não havia mais funcionários no prédio, minha secretária já havia ido, então certamente todos os outros também já estariam em suas casas, uma vez que em razão dos meus horários ela era quase sempre uma das últimas a sair. Chamei o elevador e assim que ele chegou, apertei o botão que me levaria a garagem, encostei a cabeça no metal frio e fechei os olhos enquanto sentia a caixa de aço descer, franzi o cenho ao ouvir o barulho das portas se abrindo alguns andares abaixo do meu, mas me surpreendi ainda mais ao ver quem entrava no local em que eu estava.

Ela entrou no elevador dando de cara comigo, mas ignorou minha presença, apertando o botão do térreo, apenas suspirei e voltei a fechar os olhos, e pensar que durante anos desejei estar tão próximo assim dela, mas hoje não posso sequer desejar um boa noite.

Minha cabeça doía com a constatação, mas doeu ainda mais com o solavanco da caixa de metal que fez com que eu batesse  a mesma.

Abri os olhos e vi que o elevador havia parado, meu andar era o 18, Anahi havia entrado no 16 e o elevador parou no 12, estávamos alto, tentei apertar os botões de alarme, mas eles não funcionavam, peguei meu celular e o mesmo não tinha sinal

- você deveria investir em manutenção, talvez esse tipo de coisa não acontecesse - falou raivosa

- Olá, Anahi. Se eu bem me lembro, autorizei a manutenção dos elevadores cerca de duas semanas atrás, te garanto que não parou por negligência minha - respondi, sendo ignorado em seguida

Tentei, por algum tempo, enviar mensagens aos seguranças para que ajudassem de alguma forma, mas não tinha área de cobertura dentro do elevador e se todos os funcionários já haviam saído, ninguém perceberia que o elevador não estava funcionando, ao menos que ainda tivesse alguém no prédio

- você estava com Ian? - questionei

- é sério que você está querendo saber coisas que não lhe dizem respeito? - perguntou erguendo a sobrancelha

- eu só quero saber se ele ainda está no prédio? Pois caso esteja, ao tentar ir pra casa vai perceber que o elevador parou - expliquei, percebendo que ela entendeu aonde queria chegar

- sim, eu estava com ele!

- certo, logo alguém nos tirará daqui! - respondi me sentando no chão do elevador para esperar. Anahi ficou em pé, murmurava coisas inaudíveis vez ou outra, mexia no celular e levantava os braços em busca de sinal, mas assim como eu, também não encontrava. Por fim, desistiu e sentou-se ao meu lado - como estão as feridas? - perguntei apontando para o machucado em seus braços

- cicatrizando - ela respondeu - você armou isso? - questionou me encarando

- não, Anahi. Eu não armei nada! - disse em um sorriso incrédulo, suspirando em seguida - assim como não é fácil pra você estar ao meu lado, também não é fácil para mim estar ao seu, não porque eu não quero estar, mas sim por justamente querer estar - respondi confuso - então não, eu não armei nada e ainda que pudesse, não o faria.

- sabe o que é intrigante, Alfonso? - questionou me encarando - você teve um tempo considerável ao meu lado no passado, mas tudo que não demonstrava era o desejo de estar por perto, aí de repente, em um passe de mágica, você quer que eu realmente acredite que estar ao meu lado é tudo que você mais quer? Tenha dó - respondeu em meio a um sorriso gélido

- não espero que acredite em mim, Anahi, mas saiba que é a minha verdade - suspirei de cabeça baixa - quando eu te conheci eu não te respeitava e eu fui um merda, eu reconheço. Reconheço também cada um dos meus erros, fossem as grosserias, fossem as tentativas de te machucar fisicamente, verbalmente, te desqualificar por conta da sua profissão, reconheço tudo, mas para que reconhecesse tudo isso, eu precisei te perder, com a perda, a constatação de que eu só queria que você estivesse ao meu lado veio junto e com tudo isso, o arrependimento virou o meu melhor amigo. - encarei Anahi que estava ao meu lado e ouvi sua respiração pesar - você se apaixonou por mim e eu sabia, eu também me apaixonei por vo...

- eu não quero mais ouvir, te falei dias atrás e volto a repetir, não quero saber dos seus sentimentos - falou alto me interrompendo - isso não vai nos levar a lugar nenhum

- eu me apaixonei por você, Anahi, mas o preconceito, ciúmes, possessividade falaram muito mais alto a época, mas eu realmente me apaixonei por você e quando me dei conta, você já tinha ido embora. Eu fiz um fuzuê, mas já era tarde - suspirei - não estou falando isso pra que você me perdoe ou algo do tipo, só gostaria que soubesse. Assim como gostaria que soubesse que senti sua falta cada dia de todos esses anos, que você não estava sozinha quando se entregou para mim, não que vá mudar alguma coisa a essa altura do campeonato, eu só gostaria que você soubesse - disse totalmente sincero e desarmado, esperando obter algum tipo de resposta, mas a grande caixa de metal ficou extremamente silenciosa depois dessa confissão, Anahi não disse mais nada, eu tão pouco, o ar se tornou pesado, mas não durou muito, logo o elevador tornou a funcionar e quando dei por mim, Anahi já deixava a caixa de metal no térreo

- Adeus, Alfonso. - foi tudo que ela foi capaz de falar.

THE ESCORTOnde histórias criam vida. Descubra agora