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Lana Martínez:

Cheguei super atrasada e ainda tive que esperar o segundo período, que era educação física, que envolvia Gavi. Estava tudo conspirado contra mim, só podia.

Estávamos todos na quadra nos matando de tanto correr, eu já não aguentava mais, já havia dado umas vinte voltas em volta daquela quadra, sem exagero, e aquilo era muito para mim. Os esportistas daquela turma corriam vinte voltas rindo, enquanto eu estava quase enfiando uma faca em meu peito.

Logo fomos surpreendidos pela visita da equipe diretiva da escola, o que eu achei totalmente estranho, todos pararam de correr e ficamos um ao lado dos outros.

— Bom, estamos aqui, a diretora dizia séria. — Para pedir um minuto de silêncio para o nosso aluno Guilherme, que foi encontrado morto com cinco tiros na madrugada de hoje. — Olhei rapidamente para Gavi e ele me olhou de volta, sempre se mantendo sério. Sensações horríveis passaram por mim, eu sabia de tudo e não podia mencionar a polícia, fazer alguma justiça, mas o mesmo tempo lembrei-me que Guilherme não era do mais barra limpa. Os alunos cochichavam uns com os outros apavorados. — Pelo o que ficamos sabendo... — a diretora fez sinal para que todos ficassem quietos. — Guilherme não era um jovem normal, ele era envolvido com algumas coisas sujas, o que nós nunca imaginamos. Mas a vida nos surpreende. A polícia não desconfia do autor do crime, foi algo totalmente profissional, mas continua a procurar. Bom, era só isso, voltem às aulas se vocês conseguirem. — Eu poderia ajudar a polícia, sei tudo sobre quem matou, até dormi com ele.

Todo mundo se retirou e a turma ficou inquieta, cochichos para lá e para cá, o professor Felipe não conseguia controlar.

Sentei-me nas arquibancadas do ginásio e fiquei lá pensativa, ignorava Gavira a todo custo. Eu ainda estava me sentindo péssima.

Na hora do almoço, Bernardo tentava me consolar de todas as maneiras, porém ele não sabia o motivo de eu estar daquele jeito, mas mesmo assim ele conseguiu me arrancar algumas risadas.

A tarde passou lentamente, acho que dormi em algumas aulas extras que tinham. Estava sentindo muita falta da Carol e doía intensamente ver ela com Mariana. Enfim, bateu o sinal e acho que fui a primeira a sair da sala, já não estava aguentando mais.

Passei por Gavi no corredor como se nem o conhecesse, fui para o meu carro tentando entender mais uma vez minha relação com Gavi, ele me causava sensações maravilhosas, mas ao mesmo tempo ele era tão... Ele. Porém, eu via algo a mais nele, eu sentia que ele não era só o que ele mostrava ser, isso insistia dentro de mim.

Ele era o garoto mais "tudo de ruim" que eu havia conhecido, mas também era o mais "tudo de bom" e isso era o que me complicava, o que fazia ele ser complexo, ele podia ser uma coisa e também oposto dela. Quando eu estava em suas mãos, ele sabia me manusear direitinho, por mais que ele demonstrasse que eu era apenas mais uma, em nossos momentos de intimidade eu podia sentir que não, eu podia. Eu estava me tornando dependente dele, e isso era a pior coisa que poderia acontecer.

Cheguei no portão de casa e logo percebi o carro de meu pai estacionado, sabia que lá viria bomba. Abri o portão lentamente, o mais lento possível, passei pelo jardim e então cheguei a porta de casa, a qual eu abri sem exitar, vamos acabar logo com isso.

Ana e meu pai estavam sentados no sofá da sala, me esperando, Claro.

— Chegou cedo, papai. — Ironizei.

— É, nós temos algumas coisas para resolver? Ou acha que eu iria esquecer. — Ele disse sério.

Larguei minha mochila e peguei uma cadeira, a colocando na frente de ambos. Sentei

— Engraçado, né, pai. — Falei cruzando as pernas. — Você só vem para casa quando tem algo para resolver, ou seja, quando eu falho. — Ri irônica. — Eu não queria pai melhor. — ironizei novamente.

— Não mude de rumo, Lana. — Ele disse rude.

— Não estou mudando. — Disse simples.

— Onde você estava ontem?

— Já disse, na casa da Carol.

— Ah, sério? Porque eu liguei para a mãe da Carol e faz um bom tempo que você não vai lá. — Pronto, morri. — Então, eu vou perguntar só mais uma vez: onde você estava?

— Garanto que tem garoto na jogada — Ana chutou, ela era boa em me ferrar.

— Tá, quer saber onde eu estava "papai"? — Fiz aspas com as mãos.

— Sim, sem mentiras.

— Eu estava com alguns amigos. — Sem mentiras com mentiras. — Você nunca está em casa mesmo, está sempre trabalhando.

— Amigos, Lana? Que tipo de amigos? — Ele perguntou. — Eu não fico em casa, mas Ana fica. — Fui obrigada a rir alto.

— O que? — Gargalhei. — Eu não vejo nem sombra dessa mulher, pai. Para você ver até que ponto um corno chega né? — Ri mais uma vez.

— Você está merecendo umas boas surras, Lana! — Ele disse autoritário.

— É mentira dela amor. Eu sempre estou aqui, compro coisas para casa, a alimento, a cuido como se fosse sua mãe, mas ela me odeia. — Aquilo estava ficando nojento e hipócrita.

— Você não vai acreditar nessa ridícula né pai?
Essa mulher está nos desunindo e isso não é de agora. — Falei, segurando as lágrimas.

— Eu já estou decidido, Lana. — Ele disse soberbo.

— O que? Você vai larga-la? — Perguntou esperançosa.

— Não. — Ele uma pausa e passou as mãos pelo rosto como se aquilo doesse, Ana me olhou e deu um sorrisinho. — Você vai morar com sua vó em Marbella. — Dei um pulo da cadeira.

— O QUE? — Gritei.

— Eu conversei com a Ana, e você sabe, você esta na adolescência e precisa de alguém que mantenha os olhos em você, eu estou sempre trabalhando... E eu não posso simplesmente colocar toda a responsabilidade na Ana. Então ela sugeriu isso, ela te entende, e sabe que você se sente sozinha. — Meu sangue esquentou.

— Claro. — Ela disse e sorriu, eu estava com raiva, muita raiva.

— Sua vadia. — Gritei e me avancei contra ela que estava sentada no sofá, comecei a puxar seus cabelos e a lhe dar tapas e chutes. — Eu te odeio,
Ana!. Você estragou a minha vida. — Eu gritava descontrolada. — Eu também te odeio, pai. — Falei enquanto meu pai me puxava para longe de Ana, que continuava sentada no sofá toda descabelada. — Você não vê as coisas ao seu redor, eu sempre tento abrir seus olhos, mas eu espero que não seja tarde demais quando você se arrepender e vê que em sua cabeça há quinhentos pares de chifres. — Senti suas mãos em meu rosto, que agora ardia, assim que eu acabei de falar.

— Isso é para você aprender a me respeitar e também por Ana. — Ele gritou bravamente.

— Quer saber pai? — Falei com as mãos sobre o lugar atingido e com os olhos cheios de lágrimas. — Eu estava sim com um garoto, porque sim, eu posso fazer o que eu quiser, eu não tenho pai. — Disse com raiva. — E espero, que você esteja bem ciente da merda que está fazendo, porque uma namoradinha puta, se encontra em qualquer esquina, mas agora, uma filha.... No nosso caso, ex-filha, não é bem assim... — Falei indo para as escadas. — Ah, e eu não vou pra porra nenhuma de Marbella. — Disse decidida e subi as escadas, entrando em meu quarto e quebrando tudo, tudo mesmo.

Eu já havia tomado minha decisão: Naquela casa, eu não ficaria mais

Possessivo - Pablo GaviraOnde histórias criam vida. Descubra agora