Brás.

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     Dias depois

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Dias depois.

Como estava prestes a lançar uma nova coleção, aproveitei para fazer uma visita ao Brás, em busca de peças específicas. Também finalizei alguns pedidos com Dandara — uma mulher cujo talento para criar coleções encantadoras beira o perigoso. A cada temporada, ela se supera.

Deixei Bento aos cuidados do pai e me dediquei a organizar as novas roupas no quartinho.

— Sua mãe enviou o projeto da casa. Está magnífico — anunciou Gabriel, apoiado no batente da porta, segurando o tablet com ares de solenidade.

De fato, o projeto superava nossas expectativas. Havia uma elegância ali que ia além do solicitado.

— Já veio até com nome de funcionário designado para cada cômodo — observei, deslizando os dedos sobre a tela. — Se me descuidar, vão me inserir nessa planilha também.

— Facilitaria as coisas — comentou com naturalidade. — Conversei com o pessoal e, ao que parece, em menos de um mês já poderemos nos mudar.

— Está falando sério? — ergui o olhar, animada. — Admito que estou contando os dias.

Fui até o quarto, e ele me acompanhou com passos serenos.

— Vívian ansiosa? É uma novidade — provocou, com ironia contida.

— Minha mente não desacelera. — Retirei a blusa úmida de leite entre risos, torcendo o nariz ao perceber o odor. — E o seu dia, correu bem?

Entrei no box, e percebi o olhar atento de Gabriel através do vidro, como se contemplasse um quadro.

— Consegui trabalhar — disse ele, com um meio sorriso, encostando-se ao vidro do box — mesmo sob a vigilância incansável do meu chefe mirim.

Girei o corpo devagar, deixando que a água escorresse pelos cabelos como um véu morno. A presença dele ali, imóvel, tornava-se quase parte do ambiente — feito moldura silenciosa observando a tela.

— Deseja ajuda? — indagou, com um timbre abafado pela porta embaçada.

Lancei-lhe um olhar de canto, meio riso nos lábios, sem saber ao certo se ria da ousadia ou da devoção. Gabriel não se moveu. Apenas me fitava, como se eu fosse um quadro em movimento, ou um instante raro demais para ser interrompido.

— Essa sua cara está me deixando desconfiada — comentei, divertida. — Parece uma criança em frente à vitrine de uma doceria.

— Não há com o que se preocupar — disse, quase num sussurro. — Só estou admirando o que é meu.

Toquei com delicadeza o próprio seio, ainda sensível ao toque, e suspirei.

— Estou com dor — confessei, sem romantizar. — Tirei um pouco de leite no carro, mas como estava quente, tive que jogar fora. Nada muito poético nisso.

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