capítulo 98

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A recuperação de Dulce foi muito mais demorada e muito mais sofrida do que Christopher gostaria. O medico detectara realmente os ossos partidos.

Agora ela tinha o pulso engessado, e grandes tiras de atadura em volta das costas, comprimindo-as no lugar. Mal conseguia respirar, coitada. Os roxos foram se tornando azulados, que se tornaram amarelos, até que aos poucos sumiram.

Mais de um mês se passou. Bia agora tinha um caderninho onde marcava os dias até o prazo final do pai. Christopher revirou os olhos para isso. A menina, infelizmente, herdara a tenacidade dele.

Dulce já não sentia tanto sono, mas não havia muito (lê-se nada) que pudesse fazer, então ficava olhando o dorsel da cama. Christopher não saia do lado dela. Deixara até a guerra de lado.

Dulce: Engraçado. – Disse, certa vez.

Christopher notou que ela respirava superficialmente, pela boca, e desejou ter encontrado outro modo para curá-la do que as ataduras.

Christopher: O que é engraçado? – Perguntou, olhando-a.

Dulce: Você sabe minha verdade agora. Toda ela. – Começou, mas parou para respirar.

Christopher: Isso é engraçado? – Perguntou, observando-a, com um breve sorriso.

Dulce: Engraçado que eu não estou morta. – O sorriso dele se fechou.

Christopher: Não tem graça.

Dulce: Na verdade, eu tinha certeza de que ia morrer. Assim que você soubesse. Nos últimos dias, depois de ter lhe dito não, eu considerei se viver valia a pena sob aquelas circunstâncias. – Ela parou para respirar novamente – Muitas vezes o tive em meus braços com medo de que você descobrisse a verdade, e aquela fosse a ultima vez. – Ela parou novamente, tomando um sopro de ar – E eu nem morri no final.

Christopher: Não morreu nem morrerá. Pare de repetir isso. Logo se livrará do gesso e tudo correrá bem. – Disse, e ela sorriu, olhando-o.

Estava pálida, devido ao longo tempo sem movimento e longe do sol.

Dulce: Na verdade, eu devia ter morrido. – Continuou.

Christopher: Pelo amor de Deus, você está com febre? – Perguntou, exasperado, levando a mão a testa dela, que riu – Se não parar de repetir isso vou lhe amordaçar. – Ela riu mais ainda, parando pra tomar um grande gole de ar. Ele sorriu, se sentando de novo em seu lugar, e o silencio reinou.

Dulce: Eu teria me casado com você. – Observou.

Christopher: Mentindo? – Perguntou, pensando na hipótese. Dulce assentiu. Ele riu. – Ai sim seria uma bruta confusão, quando descobrissem.

Dulce: Pablo não permitiria. – Disse, e já não sorria.

Christopher: O que há com ele? – Perguntou, reservado. Observava as expressões dela atentamente.

Dulce: Ele não permitiria que eu fosse feliz. – Disse, o rostinho triste – Encontraria um modo de arruinar tudo. Ele não vai permitir que viva em paz, enquanto ele viver.

Christopher: Então ele vai morrer. – Resumiu o obvio, beijando o cabelo dela, que sorriu.

Dulce: Ele matou meu pai, Christopher. – Christopher se lembrou do dia da morte do pai dela – Minha mãe ainda está lá. – Ela respirou fundo – A qualquer hora, por puro capricho, pode resolver matá-la. Não suportarei se acontecer.

Christopher: Não vai acontecer. – Tranqüilizou ela, mas não adiantou.

Dulce: Como pode saber?

Christopher: Porque mantendo-a viva ele nutre a esperança de que você volte para buscá-la. Ele está esperando por isso. – Dulce observou por esse ponto – Algo que notoriamente também não vai acontecer. – Disse, vendo a expressão dela. Dulce sorriu.

Os dois ficaram em silencio por minutos. Até que Christopher não agüentou.

Christopher: Dulce. – Ela levou os olhos até ele – O que você disse sobre Bia. – Ela esperou – Sobre a flor que me fez… Que eu pensei… – Ele hesitou.

Dulce: Sobre a flor que matou Rubi. – Completou, e ele a encarou, os olhos verdes atordoados. Ele respirou fundo, e tentou assentir.

Christopher: Eu nem consigo falar sobre isso. – Disse, se interrompendo, e olhou para frente.

Dulce: Não foi sua culpa. – Christopher negou com a cabeça.

Christopher: Eu dei a ordem. O medico… O medico abriu a barriga dela, com uma lamina. Eu não me importei porque pensei que ela já estivesse morta, eu assisti tudo. E no final ela estava lá, viva, sentindo tudo. Cada corte, todas as dores… – Ele hesitou, passando a mão no rosto – Eu a matei.

Dulce: Você não tinha como saber. Fez o que ela mandou, fez o que achasse melhor. – Ela apanhou a mão dele, enlaçando os dedos – Não se culpe por algo que não podia evitar. Veja, ela terminaria morrendo sem poder tirar o feto morto de dentro de si. – Mentira.

Ela entraria em trabalho de parto induzido. A expulsão seria mais dificil, mas ela sobreviveria. Mas Christopher não sabia. Ele a encarou.

Christopher: O que disse sobre a flor que incapacitou Bia. – Ela esperou – Aquilo pode curá-la?

Dulce: Acredito nisso com a minha vida. – Respondeu, e ele assentiu.

Christopher: É só disso que eu preciso saber. – Encerrou, respirando fundo.

Problema seria só conseguir transpassar as barreiras do castelo de Pablo.

Apenas Mais Uma De Amor (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora