capítulo 90

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Christopher não saiu do quarto, não falou com ninguém. Havia matado Rubi. Mas o que ele podia fazer? Achou que ela estava morta, Deus, estava fria e sem pulsação! E ela pediu para salvar o bebê, ele tinha que obedecer! Dera a ordem do parto forçado (vulgo cesariana), sem ter a mínima noção de que ela sentiria todas as dores, todos os cortes, tudo.

E ela o sentiu, sem poder se expressar. O remorso o corroia em todos os seus poros, tirava sua paz. E havia Dulce. E a guerra. Deus, que inferno! E se Bia morresse em uma tentativa dele salvá-la? Enquanto isso, em outro quarto do castelo…

Alfonso e Anahi se aprontavam para dormir. Ele tinha o peito nu, estava de calça, descalço, e coçava o cabelo distraidamente, lendo algo. Tinha mania de fazer isso. Uma vez livre de todos os adereços, Anahi parecia ter uma tonalidade meio cinzenta. Enquanto as mulheres ainda usavam camisolas de algodão, Anahi usava seda pura, negra, tão pura que parecia flutuar.

Enquanto as outras usavam gola alta, mas a dela eram decotadas. Os cabelos caiam, lisos, até a cintura, passando pelos braços pálidos, quando ela o abraçou pelas costas.

Alfonso: Anjo. – Disse, simples, sentindo as mãos frias dela abraçando-o, tocando os músculos da barriga delicadamente.

Anahi: Você decidiu ficar. – Concluiu, vendo ele soltar o papel.

Alfonso: Vou apoiá-lo. – Disse, respirando fundo – Mandarei um ultimato pela manhã, avisando as tropas. Christopher não é má pessoa, e agora que sabe sobre Rubi, depois que Dulce morrer, estará tão vulnerável que Pablo o matará se partirmos. – Disse, acariciando a mão dela – Vamos ficar.

Anahi: Alfonso. - Ela beijou as costas nuas do marido, respirando fundo - Eu quero interceder por Dulce. - Alfonso virou o rosto, olhando-a.

Alfonso: Como?

Anahi: Eu não tenho voz no conselho, mas tu sim, e teu voto é o que mais pesa. - Ela beijou o ombro dele - Quero que quando chegue a hora, interceda por ela. Não permita que a matem.

Alfonso: Não estou te entendendo. - Disse, olhando-a pelo espelho - Compaixão nunca foi uma virtude tua. Porque está intercedendo por ela?

Anahi: Porque eu entendo a razão. Entendo o amor. Porque eu o faria por você, sem pensar duas vezes. - Ela beijou a orelha dele - Morreria por você, Alfonso. - Ele se virou, abraçando-a.

Alfonso: Está tudo bem. Se é o que você quer, não a matarão. – Disse, abraçando-a – Não permitirei. Você está sentimental. – Observou.

Anahi: Apenas estou feliz pois o homem que eu amo é auto-suficiente. – Disse, sorrindo, e o beijou. Havia uma promessa ali.

No dia seguinte, quando o conselho se reuniu…

Christian: Dulce se tornou dispensável. – Observou, tamborilando os dedos – Aliás, se sobreviveu a noite é um milagre.

Christopher: Eu fui vê-la. Está viva. – Disse, parado, olhando pro nada. Estava branco, e cheio de olheiras.

Robert: Uma vez que ela já disse tudo o que sabe, não há porque se manter. Ela mentiu. – Disse, e não havia nenhum traço de sua felicidade ali. Eram dois votos contra. Nada bom.

Alfonso: Ela será absolvida. – Disse, olhando o tampo da mesa. Parecia entediado.

Christian: Porque absolvê-la? – Perguntou, confuso.

Alfonso: Anahi rogou por ela. – Disse, tranqüilo – Dulce mentiu para sobreviver, não nos traiu, e não oferece mal. Não há motivo para uma execução.

Robert: E os caprichos de tua mulher contam como voto agora? – Perguntou, debochado.

Alfonso: Contam. – Disse, petulante, como se desafiasse Robert a protestar.

Christian: Christopher. – Chamou, e Christopher o olhou. Ele precisava votar. – Você deve ser imparcial. – Lembrou.

Alfonso: Não há como ser imparcial nesse caso. – Impôs.

Se Christopher votasse contra Dulce, Alfonso teria que armar um motim para atender Anahi. Se votasse a favor, teria ganho.

Robert: Eu fui criado para não ter sentimentos. – Disse, sem parecer satisfeito com isso – E para que todos sentimentos fossem sobrepostos pelo bem maior. Eu fui criado para ser um rei.

Alfonso: Antes de ser um rei é um homem. – Rebateu. Christopher seguia quieto.

Christopher: Não é só uma questão de sentimento, é uma questão de força. – Comentou, olhando para frente.

Christian: Força? – Perguntou, confuso.

Christopher: Como ter força para ordenar a morte da mulher que você mais amou na vida? – Perguntou, os olhos vagando. Alfonso se recostou, satisfeito – Dulce é a mulher da minha vida, não vou ordenar sua execução. Não sou forte o suficiente. Se isso me desqualifica, então eu sou um péssimo rei. Esse é meu voto. Ela vive. – Disse, se levantando.

Apenas Mais Uma De Amor (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora