capítulo 61

444 36 7
                                    

Christopher terminou seu café e foi atrás de Dulce. Não encontrou em lugar algum. Por fim procurou Bia, recordando que sempre que podia Dulce estava com a menina. Ele ficou com a filha bem uma hora, brincando, conversando, até que não suportou.

Christopher: Anjo. – Chamou, beijando o cabelo da menina. Ela estava em seu colo, colorindo um livrinho.

Bia: Hum? – Perguntou, dengosa.

Christopher: Viste Dulce hoje? – Perguntou, apoiando o livrinho pra ela colorir.

Bia: Ela esteve logo antes do senhor chegar. Parecia triste. Estava meio branca. – Observou. Christopher olhou pra frente, respirando fundo.

Christopher: Sabes pra onde ela foi?

Bia: Ela disse que ia tomar um ar, e depois ia na cozinha, e depois na lavanderia. – Respondeu, balançando com a cabeça. Christopher sorriu do jeitinho dela.

Alguns minutos depois ele saiu novamente. Se ela havia ido dar uma volta, ele não tinha nem como adivinhar onde tinha ido; Dulce nunca saia do castelo.

Então passou a segunda opção e foi a cozinha, mas ela já havia passado por lá. A encontrou na lavanderia, em um tanque de roupas, lavando o que lhe lembrava ser um colete seu. A reconheceu pelo cabelo, não podia ver seu rosto de onde estava.

Cristopher: A procurei por toda a parte. – Comentou, se aproximando. Dulce virou o rosto, na surpresa, para olhá-lo. Era verdade, estava pálida. – Onde estava?

Dulce: Não me senti bem, fui até o rio. – Disse, voltando a atenção pro que tinha nas mãos. Christopher suspirou consigo próprio. É claro, o rio.

Christopher: O que há? – Perguntou, afastando o cabelo dela. Dulce meio que se retraiu ao sentir seu toque. – Está me reprimindo. O que passa?

Dulce: Só não me sinto muito bem.

Christopher: Tu sempre fostes péssima mentindo. – Disse, virando o rosto dela para si – É por causa do que Robert disse? Não dê atenção, sabes como ele é. Fará de tudo pra ganhar essa guerra, não importa o que.

Dulce: Não é nada, já disse. – Respondeu, tentando soltar o rosto. Não podia usar as mãos que estavam molhadas.

Christopher: Shhh. – Ele manteve o rosto dela, fazendo-a encará-lo. O toque de suas mãos era quente. – Não fique assim.

Dulce: Christopher, e se um dia eu quisesse partir? – Perguntou, agora sem desviar o rosto. Foi a vez dele ficar sem resposta.

Christopher: Partir? – Perguntou, processando a pergunta.

Dulce: Ir embora. – Continuou.

Christopher: Porque? Pra onde? – Ele estava indignado só com a pergunta.

Dulce: Me responda. – Pediu, encarando-o.

Christopher: Porque? – Insistiu. Ele a encarou por um longo instante, os dois suspensos – Quer me deixar?

Dulce: Se um dia eu precisasse. Se não houvesse opção. O que você faria?

Christopher: Eu não permitiria. Não há outro lugar para ti. – Respondeu, a voz sem entonação.

Dulce: E se eu quisesse ter uma vida? Uma casa…

 

Christopher: Aqui é tua casa. – Interrompeu.

Dulce: Um marido, filhos. – Pra isso ele não teve objeção. – Sabe que dentro dos muros do castelo não há futuro para mim. Eu vou definhar aqui, tal como estou agora. E se eu não quisesse isso? Se eu quisesse ir? – Levou quase um minuto até que ele respondesse. Agora ele estava pálido.

Christopher: Se tua felicidade dependesse disso, então eu a deixaria partir. Seria minha morte vê-la se afastar, mas ainda assim eu viveria para desvanecer em ciúmes do homem que tu escolhesses para pôr em meu lugar. – Respondeu, quieto.

Dulce: Se tivesse que escolher entre mim e a guerra? – Perguntou, e ele suspirou.

Christopher: Dulce…

 

Dulce: E se eu pedisse para que tu fosses embora comigo? – Ele arregalou os olhos.

Christopher: E largar tudo? – Ela assentiu – Sabes que é impossível, carinho. Não posso simplesmente dar as costas a tudo e fugir.

Dulce: Poderia dar as costas a guerra, se quisesse. Poderia não se casar, poderia acabar com isso e ficaríamos juntos e em paz.

Christopher: Não me peça isso. – Pediu, encostando a testa na dela. Dulce tentou resistir ao perfume dele. Fracassou.

Dulce: É tão importante assim? – Perguntou, tocando-lhe a maçã do rosto.

Christopher: É mais importante a cada vez que eu vejo Bia entrevada naquela cadeira.

Dulce: E a cada vez que  olha sua cama e percebe que Rubi não irá voltar. – Completou. Christopher a encarou. Ela nunca tocava no nome de Rubi.

Uma voz os interrompeu. A pessoa aparentemente freou ao ver a cena, sem reação.

Christopher: Saia agora. – Ordenou, a voz alta e firme, como aviso do que aconteceria caso a pessoa não saísse. O criado tropeçou perante a ameaça e logo havia sumido – Porque está fazendo isso?

Dulce: Eu só quero viver em paz.

Christopher: Eu te darei paz. – Prometeu, encarando-a.

Dulce: Terminará por me matar, meu amor. – Disse, com o semblante triste, tocando os lábios dele com o dedo – Acredite.

Christopher: Não vou matá-la, eu te amo. – Impôs - Porque diz esse absurdo? – Mais uma vez foram interrompidos – EU MANDEI SAIR! – Ordenou, ao sentir a presença de alguém novamente.

Robert: Só que você não manda em mim. – Christopher e Dulce se viraram para olhar – Desculpem interromper a cena, estava realmente lindo e eu vou arder no mais profundo inferno pela interrupção, mas é necessário.

Christopher: O que queres?

Robert: Ele está aqui. – Disse, com aquela alegria feroz no rosto novamente.

Houve um silencio rápido e intenso. Robert e Christopher se encaravam, ainda incrédulos com a situação. O chão de Dulce havia sumido, ela sentia que podia desmaiar a qualquer momento.

Christopher: Qual? Como? Quando? – Perguntou, sem se dar conta de que ainda segurava o rosto de Dulce. Ela apenas olhava o ombro dele, quieta, querendo sumir.

Robert: Christian, trazendo a esposa. A cavalaria e a corte estão perto do castelo, mas a carruagem com ele acabou de passar a fronteira, eu mesmo dei a autorização. – Informou – Ande, se mova! Vocês terminam isso depois! – Disse, impaciente, dando as costas e voltando a andar.

Christopher soltou o rosto de Dulce. Ele caminhou uns passos, deixando-a para trás, então parou, se virando para olhá-la.

Dulce: Vá. É o seu mundo te chamando. – Disse, a voz quase imperceptível. Ele ficou calado por um bom tempo.

Christopher: Eu fugiria com você, se pudesse. – Disse, encarando-a. Então ele deu as costas e saiu, deixando-a ali.

Ele realmente iria, se pudesse. Pena que não podia.

----------*----------

Para aqueles que liam a história antes, a partir daqui os capítulos são "inéditos"..muitas emoções estão pra acontecer...

Apenas Mais Uma De Amor (Adaptada)Onde histórias criam vida. Descubra agora