Capítulo Cento e Três

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#Lumus

Retorceu as mãos que se remexiam nervosamente sobre o colo. Sua saia de seda havia criado rugas amassadas depois de a largar com marcas profundas de dedos pressionados com extrema força mal dominada.

Respirou para controlar a respiração, mas os batimentos continuavam socando-lhe o peito, o esmurrando com precisão e no ritmo do som de um tambor ampliado.

Mas na sala em completo silêncio não se percebia.

Estava ocupada por todos os membros da família.

O patriarca lia o jornal que tapava sua face por completo. A mãe bebia, em silêncio, o chá fresco e revigorante de menta depois de outro longo e cansativo dia de compras. Daph fazia algumas anotações em sua caderneta, pingando em tinta tudo o que necessitava no momento.

A sofridão reprimida era somente sentida por uma pessoa no ambiente.

E já estava a uma semana naquele estado. Bonitinha, comportada, decente e como um enfeite do cômodo.

Tudo para ter uma chance de sua mãe revogar a ordem.

O que era meramente impossível, mas anseava tanto pela ideia que se obrigou a se tornar a filha perfeita pondo roupas comportadas, com extrema descrição, dizendo o mínimo possível, sem se esconder no quarto, suportando a presença tão indesejada daquilo que se auto intitulava família, com o cabelo penteado, sem as costumeiras ondulações dos fios que jaziam um tanto opacos e sem brilho.

Não havia firmeza nas trevas escuras das mechas.

Nunca fora tão infeliz. Se reprimia naquele corpo que não parecia seu. Os olhos esmeraldas jaziam mortos de dia e noite, quase não comia e não abria a boca por dias.

Nem Draco a reconheceria se a visse.

Aquilo mudaria agora e isso a assutava.

Engoliu um seco e se obrigou a levantar e marchar sem impedimentos até a bruxa mais velha que segurava a porcelana cara com destreza e arrogância, levando-a aos lábios.

Cinco minutos.

Ela contou.

Cinco minutos que ficou parada em frente a sua mãe, quase rente, e nenhuma palavra lhe foi dirigida.

Nada.

Merida sabia que a filha estava ali, era impossível não saber, não sentir, não se frustar de raiva. Porém não a encarou, ignorou-a. Chegou até a se inclinar sobre a mesa de centro e se servir de mais uma xícara do líquido fumegante.

Não suportando a presença da própria cria, que não fez questão de se mover, deu-se por vencida.

— O que quer, Astória? — deglutiu.

A garota piscou com um pensamento repentino: não se lembrava uma única vez que sua mãe a dirigiu com o posto de “filha”.

— Meu namorado e a família dele irão se hospedar aqui.

Foi direta.

Sem perneios.

Merida imediatamente se tornou uma forma em câmera lenta: fechou as pálpebras finas com cílios grossos e deu uma leve pressão, somente um pouco pois não se rebaixaria a tanto.

A xícara levada a boca voltou ao pires em um som que ecoou por todo o espaço sem rumores mesmo não tendo chegado ao seu destino inicial.

Daphne olhava a cena assustada, nunca havia visto sua mãe reagir daquela maneira.

Garota Má - DrastóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora