Capítulo Cento e Dezesseis

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#Lumus

Os saltos estalavam sobre o piso negro do Ministério e nenhuma força do Mundo Bruxo ou Trouxa a poderia deter no alvo de seu objetivo. Inconformação resumia a grande ruga vincada na testa ante o papel apertado fortemente contra os dedos, prova do trajado comportamento a qual exigiria explicação agora:

— Tive que estuporar sua secretária porque não permitiu minha passagem sem horário marcado, John Hébio Brounckdorf II — chamou, sem qualquer hesitação. — E torço pelo seu bem que apresente um motivo bom o suficiente para não me ver no próximo julgamento que terminaria com minha liberdade suspensa em Azkaban.

A voz não o sobressaltou.

O sangue-puro manteve a respiração calma com a repentina entrada de Astória Greengrass em seu gabinete desfazendo o aperto das mãos que executava em pose reflexiva. Para ter chegado aquele patamar não teve dúvidas que a amiga ultrapassou a orla de aurores responsáveis pela sua segurança.

Não contente com o silêncio, a bruxa aproximou-se, batendo a palma livre sobre a mesa do Ministro, a manchete ainda evidente e viva na outra.

— Me fale sobre isso — ordena mostrando a capa do Profeta Diário com a foto usada em todas as publicações de todos os diários da Inglaterra que poderia ser descrita metodicamente como o representante da comunidade bruxa estirado bêbado num bar. — Jamais expressou qualquer comportamento semelhante, Dois — critica e pausando as palavras, pediu mais branda: — Explique-se.

Hébio não perambulou, pois jamais o fez na vida e não via necessidade de começá-lo agora.

— Acho que estou apaixonado, Astória.

A boca da bruxa abriu, palavras não poderiam descrever a real surpresa que a dominou com a fala tão cáustica e ao mesmo tempo espantosa que poderia ser comum a qualquer um, exceção total a Brounckdorf.

— Acho que estou apaixonado e gostaria que me ajudasse — continuou, o tom frio sem qualquer sentimento evidente da "paixão" que duvidava sentir.

A Greengrass encarou a porta que escancarou com sua chegada; parecia-lhe bem convidativa no momento. Era a manhã de seu casamento, afinal, desejava ter paz. Unindo forças, respirou e, desistindo da estúpida vontade de fuga, fez o que, como boa amiga, deveria:

— Do que precisa?

***

A grama portava um tom saudável, fresco e vivo; assim como Arthur viu as íris de Merida sobre o céu brilhante do fatídico dia, ele lia os olhos de Astória no vivo verde do gramado. O céu brilha no pleno pôr do sol sobre o Mundo Bruxo equivalente ao trouxa, mas com cor acentuada pela exuberante a música suave, quase sacral, ressoando nos ouvidos de poderosos sangues-puros e bruxos com o sangue não tão raro.

A cerimônia reuniu, numa metódica exceção, o alto escalão da elite sanguepurista que não se atreveu a descomparecer no enlace do século desde que Blacks e Malfoys tornaram-se um só.

Sobre a tenda enfeitada em ramos de esmerus e cristais, brilhava as velas que ardiam um fogo vivo mesmo tendo a iluminação ainda no ápice da tarde. O protagonista do dia aguardava no altar observando todos os assentos lotados, com exceção de dois, o primeiro na primeira fila, destinado ao seu pai que o ocuparia depois de entregar Astória como sua mulher e o outro na segunda fileira ao lado de Benedict (a Greengrass, mesmo depois de anos, ainda sabia ser cruel) marcado com uma placa de prata indicando o convidado: "T. Turner".

Sombrio em vestes sempre negras que compunha a capa fechada com pavões albinos bordados por fios de pura prata o cobrindo até os joelhos, respirava tranquilamente enquanto sufocava por dentro, não demonstra sentimentos, um sangue-puro não o deve fazer ante os demais, todavia reprimia o natural nervosismo com as mãos retorcidas escondidas pela elegante peça (conhecida entre os de mais idade do escalão) ornamental nos primórdios das gerações anteriores da nobre família.

Garota Má - DrastóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora