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Vir ele respirar fundo antes de começar a contar sua história e eu sorrir incentivando o mesmo.

— Enfim, quando eu era menor eu passei por muita coisa tá ligado? Fui espancado pelo meu padrasto e tudo, passei por muita dificuldade pois eu estava cansado de apanhar e fugir de casa. Lembro até como se fosse hoje, eu com apenas 8 anos de idade correndo pra longe de casa. Foi perrengue, a única alternativa que eu tinha? Arrumar emprego, mas eu era um menino lá dá sul. Quem é que daria algo pra alguém assim? Uma criança de apenas 8 anos de idade, tentei ser honesto tá ligado? Corria atrás do meu, pedia esmola. Mas a mísera que eu ganhava não dava pra me sustentar não, passei a roubar pra ver se conseguia me alimentar. Fazia porque era necessário, não precisava de droga nem nada — Ele respirou fundo e olhou para frente procurando algo — Foi quando eu rodei, fiquei 3 meses naquele inferno. Foi fácil não, os meninos maiores queriam sempre me bater tá ligado. Porém logo fui solto, por ser réu primário. Poderia assim ter mudado de vida, porém eles me mandaram pra um orfanato. Tudo era mil maravilhas até eu ser adotado por um casal, eles no começo era um amor sabe? Mostrava as coisas bem e tudo, porém quando a assistente social deixou de ir que a realidade veio a tona. Eu era explorado, era obrigado a sair às ruas para pedir dinheiro pra eles comprarem drogas. E essa foi o meu primeiro contato com as drogas, foi difícil. Apanhava prós dois quando não conseguia levar oque eles queriam, foi a segunda vez que eu corri de lá né? E quando cheguei aqui no Horizonte. Cheguei aqui com quase 10 anos de idade, eu fiquei 1 ano com aquela família depois que sair da Febem. Eu não tinha como me virar, então procurava sempre pedir comida prós moradores. Mas nunca pedia dinheiro, foi quando o Zoi. Antigo dono do morro me encontrou pelos becos, foi sinistro. — Ele respirou fundo e olhou para mim, envolveu sua mão em minha cintura.
— Caramba, mas oque aconteceu ? — Perguntei totalmente curiosa.
— Isso eu vou deixar pra lhe contar outra hora, vou para casa está tarde e você precisa descansar — Eu imaginava que era difícil para ele contar assim sua vida, ainda mais para alguém que ele praticamente acabou de conhecer. Mas eu não queria que ele fosse embora, eu queria ele ali. Queria ser conforto, queria que ele se sentisse em casa. Queria que ele viesse que não está sozinho, pelo menos não mais.
— Fica, dorme comigo hoje — Pedi e vi seus olhos brilharem. Ele apenas assentiu, fomos pro quarto e deitamos na cama, coloquei o Patrick para perto da parede e deitei no meio.
Ele se deitou ao meu lado, beijou minha testa e colocou a cabeça no vão do meu pescoço. E assim eu dormi

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