Bege I

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FLEXIBILIDADE

(Protagonista Secundário: Sabine)

Há certas coisas em nossa vida que não podem ser alteradas nem com o passar do tempo. O primeiro beijo, nascimento de um filho, festas de aniversário, amigos... Tudo isso vai ficar conosco pelo resto de nossas vidas. São momentos que fazem parte de quem somos e que compõem nossa história. A maioria dessas memórias são boas... No entanto, nem só de sorriso e arco íris são feitos nossa jornada.

No caso de Sabine, por exemplo, a vida lhe trouxe muitas alegrias: O nascimento da irmã mais nova, o irmão mais velho que foi morar no exterior como jogador de vôlei, pais que lhe deram muito amor e carinho... Mas, como dito anteriormente, a vida não é só de alegrias. Em 2010, quando o pai da moça sofreu um acidente de trânsito que o deixou paraplégico, foi um momento em que seu alicerce cedeu quase que por completo. Aquele fatídico momento a fez reunir todas as forças que tinha para ajudar a família que se encontrara em pedaços. E conseguiu. Criou "músculos" para a vida que a ajudam sempre que necessário. Quer dizer, quase sempre.

A loira nunca esperou que a vida fosse jogar algo tão descontrolado em sua vida quanto o amor. Bem, pelo menos o que ela pensa ser amor. Não que já não tivesse vivido experiências parecidas: Na sexta série (Atual sétimo ano), ela gostou de Ricardo. Engana-se quem pena que ele era o mais paquerado dos rapazes, o fortão, o bonitão (Talvez até fosse, mas a loira o considerava mais por sua beleza interior), o idolatrado. Pelo contrário era um rapaz calmo, tranquilo e que tinha um talento inexplicável por poesias. Quando o conheceu, foi quando durante o silêncio da sala atenta a prova que um professor aplicava ela ouviu o som de um papel amassado e sendo arremessado até o lixo. A garota não só ouviu como viu também, e, ao fim da aula, não tardou a pegar o papel e levá-lo até sua casa. Sentia-se invasiva por querer ver do que se tratava, mas estava de olho nele há meses e o garoto parecia não entender seus sinais. Quando o abriu, encontrou o seguinte:

"O amor, quando se revela,

Não se sabe revelar.

Sabe bem olhar p'ra ela,

Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente

Não sabe o que há de dizer.

Fala: parece que mente...

Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,

Se pudesse ouvir o olhar,

E se um olhar lhe bastasse

P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;

Quem quer dizer quanto sente

Fica sem alma nem fala,

Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe

O que não lhe ouso contar,

Já não terei que falar-lhe

Porque lhe estou a falar..."

A poesia de Fernando Pessoa deixou a loira encantada. Alguns dias depois, infelizmente, descobriria que não era para ela. O garoto estava gostando de uma menina da série sucessora e era correspondido. E aquela foi a primeira vez que teve uma decepção amorosa. Dizer que ela não sofreu com aquilo seria ridículo, mas certamente conseguiu lidar. Mas agora ela era uma moça diferente. Sabia coordenar seus sentimentos... Ou nem tanto?

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