IMPRESSIONANTE
Desde o nascimento da humanidade, temos sempre a necessidade de impressionar quem amamos. Ao longo da história, isso se confirma através das construções, obras de arte, esculturas e todos registros concretos possíveis. Mas como fazê-lo quando o amor já está finito?
A resposta, para Vanessa, era muito simples: sair de cena. Não por puro ato de covardia — aliás, tratava-se justamente do contrário, afinal, aturar as migalhas do amor de Daniel por tanto tempo e sentir satisfação com isso merecia algum mérito. Seu coração havia escolhido o mais incompreensível dos homens — em todos os sentidos. Era duro admitir aquilo de forma tão crua, porém, se tornou o certo a fazer. A julgar pelo estado de ambos diante daquela frase, ficou clara sua infelicidade. Quais razões, então, a manteriam amarrada a ele?
Dan sequer a observava nos olhos. Durante os poucos minutos de silêncio entre eles, encarava os próprios pés. Um misto de vergonha, tristeza e solidão tornavam aquela conversa a mais difícil de sua vida até ali. Queria poder gritar até seus pulmões estourarem; podia vomitar todo o caos em sua mente; até mesmo começar a quebrar cada móvel da sala. Suas forças, no entanto, tinham acabado. Seus movimentos haviam levado tudo a xeque mate. Fim da linha. Cada dia até então parecia ter culminado naquilo de uma forma tão cruel, inconsistente. Como a vida podia ser tão ardilosa a tal ponto, que um relacionamento (em sua opinião) tão verdadeiro e sincero entrou em uma espiral decadente e não conseguiu se reerguer? Havia naquilo algum gesto de solidariedade?
Vanessa tinha no olhar um misto de curiosidade e espanto, pois ela também esperou um espetáculo em torno de sua revelação. Ou, pelo menos, qualquer cenário menos pacífico e atordoante do que aquele na qual se encontrava. Já diziam os antigos: a pior reação é o silêncio. Isso pode falar muito além de qualquer palavra, expressar muito mais do que gritos histéricos... ele mostrava a verdade. Esta, tão implícita nos versos e poemas mais elaborados de famosos poetas e poetisas, naquele momento, ficou nua diante deles. E isso era espantoso.
— Não vai falar nada? — questionou a loira, um tanto atordoada.
— É difícil falar algo já pregado há mais de um mês — falou, ainda de cabeça baixa
A loira suspirou, sentando bem a seu lado. Viu no rosto dele uma lágrima brotar bem ao canto de seu olho direito, escorrendo lentamente por sua face negra de tom claro. O golpe estava sendo duro a ele, disso sequer tinha dúvidas. Sua expressão, tão acanhada e reprimida, mostrava a força feita para entubar aquela dor horrível e não fazê-la transbordar.
— Eu... Não queria que isso acontecesse — a loira seguiu, encarando as próprias pernas — Mas acho o melhor a se fazer por hora.
— Isso é injusto, sabe? — o menino se manifestou, reguinhando — Um casal como a gente, com um começo tão feliz, alegre... Quando nos desentendemos desse jeito?
— Nossa base não era tão forte quanto pensávamos, Dan. Ela tinha falhas, pontos mal resolvidos. Isso, dentro de um relacionamento, tem o mesmo estrago de uma bomba atômica.
Mais alguns segundos de silêncio.
— Não sei se Deus existe ou se é lenda urbana. Mas, se existir, quando morrer, quero perguntar a ele quais critérios ele usa para colocar a gente nesses buracos negros da vida, de onde parece não haver uma saída.
— Fomos nós quem acabamos o nosso namoro, Dan. Deus não tem nada haver com isso.
— Mas eu não queria, Van. Juro pra ti!
— Essas coisas acontecem sem a gente perceber, até mesmo entender.
— Pois eu entendo, sim — afirmou, limpando uma lágrima — Eu não consigo mudar como te prometi. Essa é a verdade.
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A Teoria Das Cores
Teen FictionO que seria do verde se não fosse o amarelo? Essa clássica pergunta nos faz pensar em todas as coisas que mesmo diferentes nos unem. E será o diferente que irá unir a vida de Alisson e Daniel, rapazes problemáticos que de repente verão suas vidas ci...