Branco VI

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ANGÚSTIA

O ser humano gosta de ressaltar o quanto é superior as demais forças da natureza, subjulgando seus dons que vão para além de nossa compreensão. Vendemos a imagem de sermos fortes, resistentes e capazes de enfrentar a tudo com bravura. No entanto, basta uma simples gripe para que tudo isso caia sob nossas cabeças. As doenças, viroses, infecções... Formas de punição encontradas para que nosso ego não fosse além do permitido, do crível. Elas, mesmo em seu tamanho mais microscópico, são capazes de nos enfraquecer e nos tornar submissos de remédios, chás, simpatias... E se tinha algo no mundo que tirava Alisson do sério era isso: A exposição a cuidados médicos devido a essas coisinhas malditas que atrapalham o bom andamento da rotina.

Quando se viu naquele ambiente que detestava mais do que uva passa, pensou seriamente em todos os seus pecados. O local bem higienizado, organizado, mas ao mesmo tempo um lar para tudo aquilo que o faria ficar pior do que já estava. Em seu braço, uma agulha pontiaguda enviando um líquido incolor para sua corrente sanguínea. Foram longas quatro horas com aquilo enfiado em sua veia, mesmo que o tempo fizesse parecer uma eternidade.

Logo em seguida, uma médica de cabelos loiros, um sorriso estonteante entrou na sala pouco espaçosa. Atrás dela, Marisa e Edu entravam com ares de alívio por vê-lo bem – principalmente sua mãe. Deu passinhos rápidos como os de um canário no chão até o filho, distribuindo beijos por todo seu rosto. Começava a curtir o paparico, quando, de repente, deu um tapa em seu ombro com raiva.

— Isso é pra tu aprender a me ouvir quando eu digo pra te alimentar direito! — Exclamou.

— E precisa tirar meu ombro do lugar pra falar isso?! — Replicou.

— Não discute que teus argumentos acabaram.

A médica e Edu riram de ambos. Mesmo com a discussão, era evidente o quanto ambos se importavam um com o outro. O carinho e até mesmos os gestos mais incógnitas não seriam os mesmos vindos de um desconhecido, pelo menos assim Al pensava. Queria saber o que "ele" (no caso Edu) fazia ali, porém decidiu que saber de sua situação era mais necessária naquele momento.

— Vejo que está se recuperando e reagindo — Parecia verdadeiramente contente com a melhora substancial do rapaz — Sou a doutora Priscila. Muito prazer, Alisson.

— O "prazer" é todo meu, doutora — Marisa sentiu a malícia do filho e seu enfoque no "prazer". De imediato deu um beliscão discreto em seu braço — Ei! — Exclamou.

— A senhora pode pro meu filho o que ele teve? — A mãe ignorou por completo o resmungo.

— Tô aqui faz 'mó tempão e nada de alguém me falar — O garoto tornou a contestar.

— Não seja por isso, garotão — Priscila seguia de bom humor — Tu tiveste uma crise de hipoglicemia.

—Hipogloss com chimia? — Não entendera a palavra.

— Hipoglicemia — A médica repetiu, rindo da confusão — Faz quanto tempo que não se alimenta?

— Olha — Coçou a nuca — Desde ontem. Devia ser umas 22, 23 horas...

— Juntando tudo ocorreu essa crise. A tua taxa de glicose baixou, resultando no desmaio e no mal estar — Explicou — Agora é só fazer o teste do nível da glicose e dos sinais vitais. Se der tudo bem, está liberado.

— Há quanto tempo eu tô aqui?

— Pelo menos umas seis horas...

— SEIS HORAS?! — Espantou-se com tal.

— Obrigado por tudo, doutora. Pode fazer os exames pra gente levar nosso Al pra casa — Marisa desviou o assunto. Queria tirar o rapaz dali o mais rápido possível.

A Teoria Das CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora