Ruivo I

2 0 0
                                    

PICANTE

Quem tem amigos tem tudo. Um ditado antigo, todavia, sempre se fez verdadeiro. O valor de uma boa amizade é altamente inquestionável, já que são essas pessoas que nos acompanham a cada passo que damos na vida. Nos momentos de alegria ou tristeza, sempre teremos um ombro amigo a quem compartilhar ambos sentimentos. Com Kevin em sua casa, Gil não poderia se sentir diferente – Tinha um amigo, um grande amigo, disposto a lhe ouvir o quanto fosse. Faziam quatro dias que o rapaz estava ali, mas já parecia uma eternidade.

Naquela noite de quinta feira, de tempo firme e estável, ambos aproveitavam para curtir um pouco. Assistiram filme, comeram pipoca, e até um bolo foi feito. A ausência dos pais do ex de Ian ajudou muito para terem mais privacidade, podendo assim conversar com mais calma.

— É... Tu tá na m*rda – Brincou Kevin enquanto comia um pedaço do bolo de laranja, seu preferido.

— Não me diga! – Ironizou o outro, mostrando a língua – Eu sei disso. A vida não anda sendo lá muito generosa comigo.

— Tu também não te ajuda né, piranha? Pelamor – Revirou os olhos – O Ian sabe que tu ficou com o amigo do primo dele?

— Não sei se é bem "amigo". Depois daquela história do beijo que te falei-

— Tá, anjo. Tu entendeu o que eu disse. Sabe ou não?

— Não. Existe algum motivo pra ele saber?

— Só perguntei por quê... Sei lá... Já pensou se isso causa ciúmes no bonitão?

Gil não conseguiu segurar o riso.

— Quando o Ian sente ciúmes, a gente só se dá conta depois de muito tempo analisando.

— Olha – Ajeitou-se na cadeira – Eu vou ser sincera porque eu não sou obrigada.

— Diga – Solicitou, rindo fraco.

— De tudo que tu tem me contado desde que eu cheguei até agora, só percebi que tu tá perdendo o controle da situação – Concluiu – Eu brinquei há pouco, mas não é bom tu ficar correndo atrás dele.

— Tu esqueceu o que ele disse naquele dia? Ele deixou em aberto a possibilidade de voltar comigo.

— E tu vai ficar o resto da vida agarrado nessa possibilidade?

— Não né?

— Mas é o que tá parecendo.

O silêncio tomou conta do local. Gil sabia que o amigo não estava mentindo: Superar Ian parecia uma tarefa difícil de ser concretizada. Mas como culpar um coração por desejar alguém que o deu tanta alegria e felicidade outrora?

— O que tu precisa é seguir em frente, miga— Seguiu Kevin, depois de um tempo – Arranjar outros ares, novas bocas. Isso faz bem pra alma. Lembra quando eu terminei com o Emerson?

— Diga-se de passagem não foi um término, e sim, um despache – Zoou ele – Nunca vi nome mais feio.

— FOCO, AMADA! – Exclamou – Foi bem na semana da parada gay de novembro passado. Menina, eu beijei tantas bocas que até perdi o fôlego.

Gil não pôde deixar de rir do comentário.

— Ah, eu fui assim antes de conhecer o Ian. Ele me mostrou o que é amar e ser amado por alguém.

— E agora que vocês terminaram, é hora de tu amar outras pessoas. Simples.

— Tu sabe que não é assim.

Sorriu malicioso

— Lá em Pelotas tinha uma pá de guris babando por ti.

— Incluindo tu, né safada?

A Teoria Das CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora